LUTO

Indígenas e não indígenas manifestaram indignação pelo assassinato dos dois ativistas no Vale do Javari

Em solenidade que reuniu lideranças indígenas, indigenistas, religiosos e pesquisadores, foi lida nota do OPI de pesar e indignação pelo assassinato de Bruno Pereira e Dom Phillips. Foto: André Gomes/Secom UnB

 

Nesta sexta-feira (24), cerca de cem pessoas renderam homenagens a Bruno Pereira e Dom Phillips, em cerimônia ecumênica na Universidade de Brasília (UnB). O indigenista e o jornalista inglês foram assassinados no início deste mês, no Vale do Javari, Amazonas. A cerimônia ocorreu na Maloca de forma simultânea ao velório de Bruno Pereira, em Recife, Pernambuco.

 

Organizado pelo Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato (OPI), o evento contou com a participação e depoimentos de indigenistas, religiosos, lideranças indígenas e pesquisadores.

 

Reunidos em uma grande roda no pátio do Centro de Convivência Multicultural dos Povos Indígenas da UnB, os presentes apresentavam os semblantes abatidos. A atmosfera era de pesar e indignação. Na abertura, Apitsi Xavante, estudante e vice-presidente da Associação de Acadêmicos Indígenas (AAI) da UnB, se solidarizou com as famílias e os amigos das vítimas.

 

“Nossa tristeza é imensa como o dossel da floresta, nossa raiva é forte como a raiz da castanheira”, afirma a nota do OPI, lida com grande comoção por Clarisse Jabur, doutoranda em Antropologia Social na UnB. “Estamos em guerra, não vamos parar! Onde cai um, surgirão muitos outros, tenham certeza”, continua a nota.

 

>>Leia a nota da OPI na íntegra

 

O OPI é um coletivo idealizado pelo indigenista Bruno Pereira, para o desenvolvimento de ações de denúncia das violações de direitos e de proteção de povos indígenas e territórios, especialmente os chamados povos em isolamento voluntário ou de recente contato.

Dinamam Tuxá (esq.), coordenador executivo da Apib, alertou para o cenário de crescente violência contra povos indígenas no país. Foto: André Gomes/Secom UnB

 

PROTESTOS – Segundo Dinamam Tuxá, coordenador executivo da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), as mortes de Bruno e Dom são efeitos do desmonte das políticas indigenistas e ambientais no Brasil, nos últimos anos. 

 

“É um projeto político que mata indígenas e seus defensores”, argumenta Dinamam ao chamar a atenção para o cenário de violência no país. Indígenas também estão sendo assassinados, com mortes recentes entre povos Atikum, Guarani Kaiowá, Munduruku, Yanomami. “Infelizmente, sem que esses casos recebam a devida atenção da sociedade brasileira e internacional.”

 

Religiosos presentes na cerimônia em memória do indigenista e do jornalista também lembraram os assassinatos de outros ativistas no passado, como Chico Mendes e Dorothy Stang. Para Sueli Belatto, da Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB), “todos devemos nos perguntar como o nosso modo de viver tem sustentado esta situação de violência e o que podemos fazer para mudar essa realidade”.

 

Para a secretária de Direitos Humanos da UnB, Déborah Santos, “mesmo no luto e na dor, temos que esperançar, para continuar a luta pelo fim das intolerâncias e para instaurarmos uma sociedade mais justa e com igualdade social”. A secretária lamentou a morte de Bruno Pereira e Dom Phillips e lembrou que eles foram, sobretudo, defensores dos direitos humanos.

 

O CASO – Bruno Pereira e Dom Phillips foram assassinados enquanto faziam uma expedição na região do Vale do Javari, no Amazonas. O crime aconteceu em 5 de junho e os corpos foram encontrados dez dias depois.

 

O Vale do Javari, no extremo oeste do Amazonas, abriga a maior concentração de povos indígenas isolados em todo mundo, com pelo menos 16 registros confirmados. Em anos recentes, a região tem sido bastante afetada pelo garimpo, a pesca ilegal e o tráfico de drogas. Especialistas afirmam que essas atividades geram degradação ambiental e violência contra os povos indígenas.

 

Bruno Pereira era considerado um dos maiores especialistas em povos indígenas isolados e de recém-contato no Brasil, tendo sido coordenador da área na Fundação Nacional do Índio (Funai). Foi exonerado da função em 2019, após operação que destruiu balsas de mineração do Vale do Javari. Passou então a trabalhar como assessor da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja).

 

O jornalista inglês Dom Phillips cobria pautas do Brasil para diversos veículos estrangeiros. Estava em viagem pela Amazônia para entrevistar ribeirinhos e indígenas e escrever um novo livro sobre modos de vida sustentáveis.

 

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