HONRARIA

Liderança histórica do movimento indígena agradeceu a homenagem e destacou que este é um reconhecimento coletivo

Ailton Krenak foi um dos fundadores da União dos Povos Indígenas e da Aliança dos Povos da Floresta, esta última ao lado de Chico Mendes. Foto: Luis Gustavo Prado/Secom UnB

 

A Universidade de Brasília concedeu, nesta quinta-feira (12), o título de Doutor Honoris Causa ao ativista indígena Ailton Krenak. A cerimônia foi realizada presencialmente, no auditório da Reitoria, e transmitida ao vivo pelo canal da UnBTV no YouTube. O reconhecimento foi proposto pelo Programa de Pós-Graduação em Direitos Humanos e Cidadania, do Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares (Ceam) da UnB, e foi aprovado pelo Conselho Universitário em dezembro do ano passado.

 

Ailton nasceu em 1953, em Itabirinha, Minas Gerais. É membro do povo indígena krenak, que vive à margem do rio Doce no Estado, e se consolidou como uma liderança histórica do movimento nacional indígena. Foi um dos fundadores da União dos Povos Indígenas, em 1988, e da Aliança dos Povos da Floresta, em 1989 – esta última ao lado de Chico Mendes.

 

Ele compareceu ao evento acompanhado de sua filha, Maíra Pappiani Lacerda, e da amiga Márcia Kambeba – que prestou sua homenagem ao novo doutor Honoris Causa com a apresentação de canções indígenas.

 

Orador da solenidade, o professor do curso de Antropologia Gersem Baniwa destacou a trajetória política e intelectual do ativista. Ele lembrou o discurso Invocação à terra, proferido por Ailton no plenário da Assembleia Nacional Constituinte, em setembro de 1987.

 

Enquanto discursava na tribuna, Ailton Krenak pintou o rosto com tinta de jenipapo, de cor preta, para expressar sua indignação. O ato gerou uma imagem histórica e contundente, vista e revista inúmeras vezes ao longo dos últimos 30 anos no Brasil e no mundo.

 

“Esta honraria, primeiro título de Doutor Honoris Causa outorgado pela UnB a uma personalidade e liderança indígena, é o reconhecimento pela incansável luta de Ailton Krenak em favor dos direitos humanos, dos direitos indígenas, da diversidade cultural e epistêmica e do livre pensar, saber e fazer”, disse Gersen Baniwa.

Gersem Baniwa ressaltou que primeiro título outorgado pela UnB a uma liderança indígena engrandece e enriquece a instituição. Foto: André Gomes/Secom UnB

 

“Parabenizo a UnB e o Ceam pela corajosa e inovadora iniciativa, em tempos tão sombrios e anti-indígenas no nosso país, por conceder essa honraria a Ailton Krenak e ao povo indígena. Tenho a convicção de que essa atitude da UnB só engrandece e enriquece a instituição ainda mais”, completou.

 

Em sua conclusão, ele fez referência a uma das produções literárias de Ailton, a obra Ideias para adiar o fim do mundo: “Que continue Ailton, firme, nos ajudando a adiar o fim do mundo, juntamente com o nosso parente Davi Kopenawa, segurando o céu, para que não caia sobre nossas cabeças”, encerrou o docente, em referência à outra liderança indígena, Davi Kopenawa, coautor do livro A queda do céu.

 

RITUAL – Após receber o diploma, Ailton agradeceu a homenagem: “Esse momento é realmente singular na minha vida, ele carrega de sentido a nossa experiência social, de sermos cidadãos. O Gersem acertou muito quando disse que é um reconhecimento amplo e coletivo. Porque eu acabei me constituindo em um sujeito coletivo”.

 

O ativista disse estar grato por participar de um “ritual tão interessante”, listando os protocolos da cerimônia: “Tínhamos marquinhas para cada um ficar e se cumprimentar, essas roupas lindas para gente se exibir aqui. Eu estou me sentindo em um ritual muito interessante e eu agradeço muito a essa Universidade pela oportunidade de integrar um ritual tão bacana e ainda sair daqui com um diploma”, disse o homenageado, arrancando risos da plateia presente. “Talvez tenha sido a experiência mais curta de alguém para obter um diploma. Muito obrigado”, concluiu.

 

A cerimônia também contou com a presença do ex-reitor José Geraldo de Sousa Junior, e com a exibição de vídeos gravados por colegas de Ailton: Eliane Potiguara e Almir Narayamoga Suruí, que não puderam acompanhar presencialmente a titulação.

Da esquerda para direita: Márcia Kambeba, Maíra Pappiani Lacerda, Márcia Abrahão, Ailton Krenak, Viviane Resende, Gersem Baniwa e José Geraldo de Sousa Junior. Foto: André Gomes/Secom UnB

 

CEAM – O título de Doutor Honoris Causa é concedido para personalidades que tenham se destacado pelo saber ou pela atuação em prol das artes, das ciências, da filosofia, das letras ou do melhor entendimento entre os povos.

 

Viviane Resende, diretora do Ceam – unidade que propôs a outorga –, destacou que a iniciativa ajuda a ressignificar o conceito de doutor, “reconhecendo doutores e doutoras na nossa sociedade, que estão muitas vezes para além dos muros institucionais da Universidade, ensinando, cuidando, promovendo mudança, gerando reflexões que nos permitam nos situar – ainda mais em tempos como estes, tão turbulentos, de negacionismos e outras mazelas”.

 

A docente explicou que o título de Doutor Honoris Causa significa, literalmente, doutor por causa de honra. "Hoje aqui reconhecemos Ailton Krenak: um doutor que honra uma causa, uma causa muitíssimo importante (talvez a mais importante), porque é a causa da sobrevivência”, concluiu Viviane.

 

A reitora Márcia Abrahão reiterou que a Universidade se sente honrada em ter uma liderança indígena como Ailton na sua lista de doutores Honoris Causa. “É uma forma de a Universidade, nos seus 60 anos, mostrar para a sociedade as suas prioridades, o que pensa sobre sociedade, sobre conhecimento e sobre saber.”

Ailton Krenak recebeu o diploma das mãos da reitora Márcia Abrahão. Foto: Luis Gustavo Prado/Secom UnB

 

A reitora ainda leu um trecho do parecer elaborado pela docente e secretária de Comunicação da UnB, Mônica Nogueira, relatora do processo sobre a outorga do título a Ailton no âmbito do Conselho Universitário: “A UnB, ao conceder o título a Ailton Krenak, quiçá contribua com o adiamento do fim do mundo, na medida em que, com esse gesto, demarcará a sua posição institucional de defesa incondicional dos direitos humanos”, escreveu a relatora.

 

“Com essa decisão, a UnB honrará a memória de seu fundador, Darcy Ribeiro, antropólogo e aliado dos povos indígenas, e fortalecerá a orientação humanística e o espírito democrático desta instituição”, apontou o parecer, aprovado por aclamação pelos membros do Conselho.

 

EMOÇÃO – Antes da homenagem, a última vez que Ailton Krenak esteve na UnB foi em março de 2020, quando ministrou a aula de boas-vindas #InspiraUnB, uma das derradeiras atividades presenciais antes da pandemia.

 

Na cerimônia de titulação, no entanto, foi a primeira vez que sua filha Maíra Pappiani Lacerda, 42 anos, esteve na Universidade. Emocionada, ela contou que esta foi sua estreia acompanhando presencialmente a outorga de honraria como esta ao pai – que também recebeu o título de Professor Honoris Causa pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), em 2016.

 

“Eu e meus irmãos tivemos a oportunidade de aprender a andar no mundo com ele. É muito bom saber que ele pode ensinar mais gente, que pode ter essa relevância na vida de mais pessoas e provocar mais mudanças”, disse Maíra. “E que ele continue aí ressoando e fazendo mudanças”, acrescentou a filha.

 

Confira a solenidade de outorga do título de Doutor Honoris Causa a Ailton Krenak:

 

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