SAÚDE

O foco é complementar a formação de estudantes e profissionais para lidarem com a doença. Iniciativa integrará SES-DF e outras instituições de ensino superior

De acordo com boletim publicado este ano pela Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, o Brasil registrou 137.385 casos novos de hanseníase entre 2015 e 2019. Na imagem, teste para detecção da doença. Foto: Matheus Oliveira/Agência Saúde

 

Inserida no grupo de doenças tropicais negligenciadas (DTNs), a hanseníase caracteriza-se por infecções na pele, no trato respiratório e nos nervos periféricos. O agente causador, o microorganismo Mycobacterium leprae, é um inimigo conhecido há milênios. Ainda assim, o combate à doença é desafio contínuo para diversos sistemas de saúde no mundo, uma vez que o diagnóstico é carregado de estigmas e despreparo.

 

Com o objetivo de ampliar a informação e difundir o tratamento adequado no Distrito Federal, a Universidade de Brasília mobilizou a implantação da Rede Universitária de Combate à Hanseníase no Distrito Federal (Rede Hans/DF). A iniciativa visa, ainda, realizar diferentes métodos de rastreamento da hanseníase e suas complicações, assim como incluir proposta para intervenção clínica e funcional.

 

“É uma ramificação da Rede Universitária Nacional de Combate à Hanseníase (Rede-Hans/Brasil), que atua em território nacional”, conta a professora da Faculdade UnB Ceilândia (FCE) e coordenadora do projeto, Luísiane Santana. Atualmente, a rede do DF conta com um grupo de 37 pessoas, sendo 14 na diretoria e no comitê científico.

Coordenadora da Rede Hans/DF, Luísiane Santana descreve a educação como uma forma de combate à disseminação da doença. Foto: Arquivo pessoal

 

APOIO À FORMAÇÃO – Um dos focos da Rede Hans/DF é a capacitação de profissionais e o autocuidado, com ações desde a atenção básica até os centros de referência. “As atividades estão começando, já criamos as redes sociais, para a população em geral conhecer a Rede, e agora estamos incorporando os projetos que irão ocorrer tanto na [Secretaria de] Saúde do Distrito Federal (SES/DF) quanto no Hospital Universitário de Brasília (HUB) e nas universidades”, aponta a coordenadora.

 

A iniciativa irá suprir lacunas na formação de profissionais que atuam diretamente com doenças que atingem as pessoas mais vulnerabilizadas. “O que se percebe é que os cursos da saúde abordam cada vez menos sobre a doença”, reforça Luísiane. “A educação em hanseníase é o primeiro passo para reduzir significativamente a doença no Brasil e no DF.”

 

Um dos diretores científicos, Carlos Augusto Felipe descreve que a hanseníase é carregada de preconceito e discriminação daqueles que a desenvolvem, o que ocorre por falta de informação correta. “O melhor a ser feito é informar de maneira correta toda a população”, reflete o mestre em Ciências Médicas.

 

ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – Isabela Luísa, 1ª secretária da Rede-Hans/DF, afirma que a iniciativa atua sob os pilares da educação universitária, do ensino, da pesquisa e da extensão. A bacharel em Saúde Coletiva conta que é planejado um intercâmbio de experiências e informações entre as redes integrantes, e o resultado dessa troca se estenderá ao sistema de saúde local e a outras instituições de ensino.

Isabela Luísa é egressa do curso de Saúde Coletiva da UnB, em que pôde explorar o campo das doenças negligenciadas. Foto: Arquivo pessoal

 

“Não havia no DF uma representação, [mesmo] sendo parte de uma região com bastante casos, que é o Centro-Oeste”, alerta Isabela. Estudante egressa da Universidade de Brasília, durante a graduação, atuou no Observatório de Saúde de Populações em Situação de Vulnerabilidade (ObVul) da UnB, que também integra o projeto.

 

“O Observatório tem como objetivo promover o encontro de pesquisadores dos mais diferentes temas sobre questões voltadas à vulnerabilidade”, descreve a coordenadora adjunta e docente da FCE, Inez Montagner, que está à frente do ObVul junto ao também professor da UnB no campus de Ceilândia Miguel Montagner.

 

Entre as iniciativas planejadas pela unidade em interlocução com a Rede, está a construção de livros digitais informativos com locais de tratamento da hanseníase.

 

ORIGEM DA REDE – O projeto que chega ao DF é fruto de ação iniciada pela enfermeira Clodis Maria Tavares. A docente da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) acumula experiência de mais de três décadas dedicadas ao cuidado de doenças negligenciadas, como a hanseníase e a tuberculose.

 

"Realizando pesquisas sobre a temática, fazendo supervisões, participando dos eventos científicos, eu sempre observei que eram poucas as universidades que priorizavam atividades de ensino, a pesquisa e a extensão sobre doenças negligenciadas, especialmente a hanseníase”, conta a coordenadora da rede nacional.

 

Clodis destaca que o despreparo dos profissionais de saúde favorece o diagnóstico tardio. Assim, desenvolveu um modelo de enfrentamento à doença que envolve, além de docentes e discentes, gestores, pesquisadores, profissionais da atenção básica em saúde e movimentos sociais, em especial o Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan).

 

“O objetivo da Rede-Hans/Brasil é o envolvimento de todas essas instituições para o fortalecimento das ações de controle da hanseníase”, pondera a docente. “A UnB tem sido uma instituição de grande relevância nessa implantação”, destaca.

 

CASOS NO BRASIL E NO DF – De acordo com Boletim Epidemiológico de 2021 da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS), ligada ao Ministério da Saúde, o Brasil acumulou 137.385 novos casos de hanseníase entre 2015 e 2019. Apesar da queda de 2018 (28.660 casos) a 2019 (27.864), a coordenadora da Rede Hans/DF destaca que os indicadores deveriam ser ainda menores, uma vez que existem testes e tratamentos disponíveis.

 

Dados de 2019 da Organização Mundial de Saúde (OMS) apontam que o Brasil está na segunda colocação no total de casos diagnosticados no mundo, sendo ultrapassado somente pela Índia.

 

 

O relatório da OMS Towards zero leprosy, que traça a estratégia global de combate à hanseníase no período de 2021 a 2030, indica que, somados os casos notificados por 118 países, 79% vieram somente da Índia, do Brasil e da Indonésia juntos.

 

Em 2019, O o Distrito Federal, em 2019, notificou 168 novos casos de hanseníase. O Boletim Epidemiológico da SVS também apresentou indicadores preliminares de 2020, com a marca de 172 registros da doença para a unidade da federação e 13.807 no apanhado nacional. “Os dados mostram uma diminuição da doença ao longo dos anos, que deveria nos deixar felizes, mas não nos deixa. Não sabemos se isso é real, ou se é uma subnotificação da doença”, observa Luísiane Santana.

 

PARTICIPE – A Rede Hans/DF está aberta tanto para receber propostas de ações quanto para quem queira participar ativamente como voluntário nas mais diversas modalidades de atenção à hanseníase. O contato pode ser feito por meio do e-mail Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo. ou pelas redes sociais, em perfis no Facebook e no Instagram.

 

*estagiário de Jornalismo na Secom/UnB. 

 

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