CUIDADO

Fechamento das escolas, distanciamento social e impactos psicológicos às trabalhadoras foram assuntos abordados na atividade promovida na Semuni

Na avaliação dos participantes da mesa-redonda, a iniciativa foi oportunidade de homenagear, de forma sensível, as mães que trabalham na linha de frente contra a covid-19. Imagem: Reprodução/DEX

 

Cuidar da casa, dos filhos, de si mesma e dos pacientes. As múltiplas atividades exercidas pelas mulheres mães e profissionais da saúde durante a pandemia foram tema de uma de mesa-redonda realizada pelo Hospital Universitário de Brasília (HUB) na última quinta-feira (28), durante a 19ª Feira de Saúde do HUB. Realizada com a participação de profissionais e estudantes da UnB desde 2000, a feira integrou a programação da Semana Universitária 2021 (Semuni) com atividades totalmente on-line que abordaram conhecimentos e práticas de promoção da saúde, qualidade de vida e prevenção de doenças.

 

A enfermeira obstétrica Yácara Pereira e o psiquiatra da infância e adolescência André Salles, que também é supervisor de residência médica em psiquiatria do HUB, foram os convidados do evento. O diálogo foi transmitido pelo canal Semana UnB – Sala 04 no YouTube, mas a gravação ainda pode ser acessada.

 

Na oportunidade, os participantes compartilharam relatos de mães, crianças e adolescentes impactados pelas medidas restritivas decorrentes da situação sanitária. A partir dessas histórias, foram elencadas as estratégias de cuidado dos filhos – desde a explicação dos motivos pelos quais a mãe não poderia trabalhar em home office até as questões de contato à distância com amigos e familiares e a educação escolar em casa.

 

“O desafio para a mãe profissional de saúde foi muito grande. Quando a gente olha lá no princípio [da pandemia], no ano passado, para aquela insegurança que a gente viveu, acho que para toda mãe o start foi o fechamento de creches e escolas e fato de ter que continuar trabalhando. Onde eu vou deixar meu filho?”, lembrou Yácara Pereira o questionamento feito por ela e outras mães. “Um sentimento de insegurança, de medo, foi o que a gente viu inicialmente”, avaliou.

 

Segundo André Salles, no início da pandemia já era possível analisar sinais de que enfrentaríamos um período difícil no Brasil, pois o número de casos fora do país estava aumentando, assim como o nível de gravidade. “Na medida em que a coisa foi se agravando aqui no país, acho que o primeiro desafio para o profissional de saúde e para a mãe profissional de saúde foi de fato lidar com a complexidade da pandemia e o aumento da complexidade do trabalho em si”, destacou.

 

SAÚDE MENTAL – Os convidados apontaram que, a partir do fechamento das instituições de ensino e da implantação do ensino remoto emergencial, as mães que trabalham na área da saúde foram sobrecarregadas ainda mais. André Salles mencionou que essas mulheres tiveram que procurar apoio da família para poder deixar os filhos ou para que ajudasse nas atividades escolares remotas.

 

Aliada a esta dificuldade, estava a preocupação em levar a covid-19 para casa e contaminar os familiares. Como a situação ainda era desconhecida, o medo estava presente para os tios e os avós – pessoas, em geral, com idades mais avançadas do grupo de risco.

 

“Este cenário foi muito intenso e trouxe uma dificuldade muito grande de tomadas de decisões muito difíceis, principalmente para as mães que precisavam proteger os seus parentes ou que não tinham uma rede de apoio familiar mais próxima”, salientou André Salles. 

 

Além disso, elas se viram mergulhadas em um trabalho essencial que lida com situações delicadas e na responsabilidade de cuidar de logísticas domésticas. “A saúde mental das mães profissionais de saúde durante a pandemia teve uma sobrecarga muito grande”, pontuou Yácara Pereira.

 

A enfermeira obstétrica também enfatizou a dificuldade dessas mulheres perceberem que precisavam ou que precisam de ajuda. E deixou uma mensagem: “Nesse desafio para nós, mães e profissionais, a gente pode se ajudar. Não estamos sozinhas.” Ela também ressaltou a importância de ter um espaço de fala e de escuta para compartilhar as experiências “que faz com que o outro se enxergue na gente”.

 

No setor em que Yácara Pereira trabalha não foram atendidos casos de covid-19, mas profissionais que estavam em situação de desespero e medo – em especial, nos primeiros dois meses da pandemia. No HUB, o Projeto Cuidar foi desenvolvido para acolher esses trabalhadores com serviços psicológicos e atividades de relaxamento. A enfermeira lembrou do desabafo de um profissional do hospital que estava preocupado com os desdobramentos da pandemia: “Eu tenho medo de pegar esse vírus, não quero contaminar minha família”, disse ele chorando.

 

ESTRATÉGIAS – Entre os relatos compartilhados pelos participantes da ação, estavam os de algumas crianças, filhas de profissionais da saúde, que diziam não entender o motivo das mães saírem para trabalhar tendo em vista que as familiares de seus amigos exerciam suas funções de casa.

 

A justificativa dada pelas mães era a de que tiveram que sair para ajudar pessoas contaminadas pelo novo coronavírus. Assim, o filho compreendia e criava um sentimento de orgulho. Yácara Pereira compartilhou a experiência de uma mãe que ouviu a oração do filho: “Agradeço à mamãe porque ela está ajudando as pessoas”.

 

Outra estratégia psicológica que algumas mães adotaram para si foi a de pensar que, mesmo com mudança da intensidade e da rotina de trabalho, existia a felicidade em poder ajudar a salvar vidas.

 

“Os filhos puderam compreender um pouco da magnitude e da importância da função profissional da mãe, que não só a tira de casa ou traz dinheiro e sustento. É uma função social de extrema importância”, enfatizou André Salles.

 

Questionado no chat a respeito de um possível impacto na vida das crianças em relação às restrições de contato físico, o psiquiatra da infância e adolescência André Salles, respondeu que elas entenderam que a adaptação às medidas protetivas contra a covid-19 era necessária para poderem estar juntas em um ambiente social. “Algumas [crianças] vão precisar entender a importância disso [do contato social], mas acho que todos [adultos e crianças] vão carregar como é importante a proximidade, a presença física”, projetou para o momento pós-pandêmico.

 

Em seus atendimentos, o psiquiatra contou que se deparou com crianças e adolescentes que estavam sentindo falta da presença da mãe em casa, mas, ao mesmo tempo, estavam orgulhosos do ofício dela.

 

O papel positivo da tecnologia para amenizar os impactos do isolamento social também foi apontado no diálogo. Os participantes concordaram que foi possível usar os meios digitais a favor dos indivíduos, seja na realização de festas de aniversário virtuais ou em atendimentos psicológicos on-line.

 

“Essa sala [na Semuni] é uma grande homenagem para as mães que vivenciaram e estão vivenciando toda a dificuldade de ser mãe, profissional, esposa, filha e exercer tantos papéis de uma maneira tão importante e magnífica”, sintetizou André Salles.

 

A PANDEMIA NÃO ACABOU – Yácara Pereira e André Salles reforçaram que, apesar de os profissionais da saúde estarem mais familiarizados com os processos de tratamento e prevenção à covid-19, a sociedade ainda está passando pela pandemia e é necessário manter os cuidados e aderir à vacinação. “Sem dúvida, a gente está em um momento melhor do que no ano passado, mas ainda não estamos em pós-pandemia”, ressaltou o psiquiatra.

  

*estagiária de Jornalismo na Secom/UnB.

 

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