EXCELÊNCIA

Denise Fleith é a primeira sul-americana a assumir o cargo desde a fundação da organização. Mandato vai até 2025

O Conselho Mundial para Crianças Superdotadas e Talentosas foi fundado em 1976. Imagem: Divulgação/WCGTC

 

Pela primeira vez uma pesquisadora sul-americana assume a cadeira de presidente do Conselho Mundial para Crianças Superdotadas e Talentosas (World Council for Gifted and Talented Children – WCGTC). Denise Fleith, professora aposentada do Instituto de Psicologia (IP) da Universidade de Brasília, foi eleita no fim do mês de maio e ficará no cargo até 2025. A organização, sem fins lucrativos, defende e apoia iniciativas em prol de crianças e jovens superdotados, com o objetivo de disseminar o conhecimento científico sobre o fenômeno da superdotação.

 

Criado em 1976, o Conselho tem sua sede na Western Kentucky University, nos Estados Unidos, e busca promover o intercâmbio de educadores, acadêmicos, pesquisadores e pais, bem como uma atmosfera de aceitação e reconhecimento dos estudantes com altas habilidades. “É uma honra ter os meus colegas [do Conselho] confiando no meu trabalho", diz Denise Fleith, que apesar de aposentada da UnB desde 2018, segue atuando no IP como pesquisadora associada.

 

Até então, a maior parte dos presidentes da entidade era estadunidense. A docente, pesquisadora 1B do Conselho Nacional Científico e Tecnológico (CNPq) – uma das mais altas categorias entre bolsistas produtividade – e membro do Conselho Técnico-Científico da Rede Nacional Ciência para Educação (CpE), afirma que esse feito é de grande importância para que a área de superdotação se desenvolva cada vez mais no Brasil, além de dar notoriedade para o que o país já tem feito. “É muito bom, no sentido de dar visibilidade ao tema da superdotação e de chamar atenção para a importância da identificação e do atendimento aos alunos com essas altas habilidades, evitando o desperdício de talentos”, ressalta.

 

Fleith aponta, ainda, que a Universidade de Brasília tem colaborações relevantes para a questão. “A UnB é pioneira e continua até os dias de hoje contribuindo e sendo reconhecida nessa área [da superdotação]", conta. Segundo ela, grande parte do crédito desse pioneirismo vai para sua orientadora de mestrado, a emérita Eunice Alencar, que a introduziu no assunto e é uma das primeiras e maiores pesquisadoras do campo no país. “Ter a chance de trabalhar com ela fez toda a diferença na minha vida pessoal e profissional”, relata.

 

A nova presidente do WCGTC escreveu dois livros com sua mentora: Superdotados: Trajetórias de Desenvolvimento e Realizações e Theory and Practice of Creativity Measurement.

Denise Fleith aposentou-se como docente do Instituto de Psicologia da UnB em 2018, mas segue como pesquisadora associada. Foto: Arquivo pessoal

 

INTERESSE ANTIGO – Denise Fleith graduou-se em Psicologia pela Universidade de Brasília em 1985. Logo depois, recebeu uma bolsa do CNPq para participar de um projeto na área de superdotação e engatou seu mestrado na mesma esfera. “Sou muito grata à UnB pelo estímulo e apoio para conduzir meus estudos na área [de superdotação]. Muito da minha trajetória se deve à minha formação na instituição”, declara a pesquisadora.

 

A partir de 1991, começou a lecionar na Universidade e, no ano de 1995, iniciou seu doutorado em Psicologia Educacional pelo Renzulli Center for Creativity, Gifted Education and Talent Development da University of Connecticut, nos Estados Unidos.

 

Durante a passagem na instituição no exterior, a docente participou pela primeira vez de um congresso do WCGTC, onde apresentou um trabalho, em 1997. "Àquela altura eu nunca imaginaria, nem nos meus sonhos mais ousados, que um dia seria presidente daquela instituição", conta. 

 

A docente também realizou pós-doutorado na National Academy for Gifted and Talented Youth da University of Warwick, no Reino Unido, e na Universidade do Minho, em Portugal.

 

INCENTIVO AOS SUPERDOTADOS – “Ainda existem muitas ideias equivocadas e estereotipadas de quem é o aluno superdotado”, explica Fleith. A docente acredita que é muito relevante investir na identificação desses indivíduos e deixar para trás a ideia ultrapassada de que são, necessariamente, pessoas que apresentam alto QI, já que o potencial desses estudantes pode estar voltado para diferentes áreas.

 

Além disso, é importante que profissionais, pais e acadêmicos reconheçam a necessidade de continuar incentivando o potencial dos que se encaixam nesse fenômeno. “As pessoas acreditam que é algo que permanece ao longo da vida, como se fosse um traço cristalizado: 'uma vez superdotado, sempre superdotado', mas não é verdade. Esse talento precisa ser alimentado, desenvolvido”, defende.

 

Fleith também explica que a disparidade de gênero impacta na identificação desses indivíduos, ocasionando uma realidade de sub-representação feminina nas iniciativas que buscam desenvolver os talentos dos alunos. De acordo com a docente, um dos pontos que poderiam amenizar esses problemas seria a formação e o direcionamento de mais profissionais voltados para a área, além de uma base familiar que saiba lidar com a questão.

 

O Distrito Federal já possui iniciativas relacionadas ao tema. É o caso de programas desenvolvidos na UnB para pais dos superdotados, ação inovadora aos olhos de Fleith: “Nem todos os países têm programas para as famílias, é um diferencial”. Ela conta que essas iniciativas são possíveis, principalmente, por conta da parceria da Universidade com a Secretaria de Educação do Distrito Federal (SEEDF). Enquanto o órgão possui ações específicas para os alunos, a UnB foca no núcleo familiar.

 

Um dos projetos é o Programa Psicoeducacional de Atendimento a Famílias de Superdotados, em que os pais e responsáveis pelos estudantes podem compartilhar experiências, dúvidas, dificuldades e estratégias acerca do tópico. “A gente acredita que promover essa troca é algo muito valioso”, afirma a pesquisadora.

 

*estagiária de Jornalismo na Secom/UnB

 

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