SBPC Afro e Indígena

Mesa-redonda sobre política indigenista nesta sexta (29) fecha a programação, que também debateu religiões de matriz africana e cotas nas universidades

Gersem Baniwa (UnB), Miguel Guarani (CNPq), José Jorge de Carvalho (UnB), Deivison Nkosi Faustino (Unifesp) e Florianita Braga-Campos (Unifesp) integraram a mesa Cotas epistêmicas: a descolonização dos currículos, no Anf. 8. Foto: Anastácia Vaz/Secom UnB

 

Olhares atentos acompanharam a mesa-redonda Cotas epistêmicas: a descolonização dos currículos. A atividade na quarta-feira (27) fez parte da programação da SBPC Afro e Indígena – evento simultâneo da 74ª Reunião Anual da SBPC, sediada na Universidade de Brasília. Nesta sexta (29), às 13h, no Anfiteatro 9 do ICC, será debatida a Política indigenista brasileira - avanços e retrocessos, fechando as discussões temáticas presenciais. Ainda haverá, às 16h, o painel on-line Antropologias contra-hegemônicas e povos indígenas.

No evento do meio da semana, os cientistas debateram a importância de se olhar o mundo para além da visão hegemônica ocidental. Um dos poucos professores universitários indígenas do país, o professor do Departamento de Antropologia (DAN) da UnB Gersem José dos Santos Luciano, do povo Baniwa do Alto Rio Negro, mencionou propostas para descolonizar os currículos das universidades, entre elas, adotar o uso de línguas indígenas na academia, pesquisas colaborativas com os povos originários e acréscimo de novos conhecimentos no ambiente universitário.

“Pensar ciência pluriepistêmica é uma necessidade nova, porque antes cada um estava no seu mundo. Os europeus estavam na Europa, os africanos na África e nós, indígenas, estávamos aqui sozinhos. O que são 500 anos? O debate em si tem pouco mais de uma década. Por destino, fomos colocados no mesmo espaço e hoje somos obrigados a conviver. A universidade é um desses espaços. Do contrário, vamos aprofundar racismo, ódio e violência. A humanidade é naturalmente diversa”, defendeu.

O docente da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Deivison Nkosi Faustino endossou a visão de que uma visão única de mundo é prejudicial. “A produção moderna de conhecimento foi desbotada e se enriquece com a diversidade de saberes. O colonialismo desmantelou formas diferentes de lidar com a vida para afirmar um sistema único capitalista que nega a humanidade das pessoas colonizadas ao mesmo tempo em que oferece ao mundo um projeto humano esclerosado, limitado e raquítico”.

Pioneiro da política de cotas, o professor da UnB José Jorge de Carvalho concorda que é inevitável o surgimento de uma nova universidade, que busque representar o mundo plural e complexo. “A riqueza do país é maior que a universidade”, destacou o docente, ao relatar que há culturas tradicionais que detêm mais conhecimento sobre plantas medicinais que a própria academia, por exemplo. Para o estudioso, o despontar de uma universidade genuinamente brasileira, "pluriepistêmica, plurilíngue, multicultural, multiétnica e multiracial", que dialoga com os saberes tradicionais simboliza o espírito do tempo. “Não se trata mais de saber se vamos fazer a mudança, mas sim de como fazê-la”, disse.

A psicóloga Thaywane Gomes classificou a 74ª Reunião Anual da SBPC como uma grande oportunidade de interação e aprendizagem. Foto: Anastácia Vaz/Secom UnB

 

Aluna especial do doutorado em Psicologia do desenvolvimento na UnB, Thaywane Gomes, 28, gostou do que ouviu, pois os assuntos da mesa se apresentam em seu dia a dia como psicóloga escolar na Secretaria de Educação do DF. “Moro e trabalho em Ceilândia e temas como classe, raça e gênero estão presentes na minha prática profissional”, disse. Thaywane conta que escolheu a mesa por causa de um dos palestrantes. “Assisti a várias lives com o Deivison e tinha vontade de conhecê-lo presencialmente. Me identifico muito com suas ideias.”

PARTICIPE – A programação da SBPC, maior evento científico da América Latina, segue até sábado (30), com atividades on-line, transmitidas ao vivo pelos canais no YouTube da UnBTV e da SBPC, e presenciais, nos quatro campi da UnB: Darcy Ribeiro (Asa Norte), Ceilândia (FCE), Gama (FGA) e Planaltina (FUP). O melhor da ciência, tecnologia e inovação desenvolvidas no Brasil estará em destaque em mais de 200 atividades abertas ao público, entre conferências, mesas-redondas, painéis, webminicursos, exposições e sessões especiais. Atrações culturais e eventos paralelos também movimentam a Universidade.

 

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