CONSCIENTIZAÇÃO

Mesa-redonda e material educativo integram ações da campanha, que chama atenção para importância do diagnóstico precoce

O câncer de mama é o segundo tipo mais incidente entre as mulheres brasileiras, atrás apenas do câncer de pele não melanoma. Foto: Freepik

 

Alertar as mulheres e a sociedade sobre a importância da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de mama. Este é o objetivo da campanha Outubro Rosa, que ganha destaque na Universidade de Brasília em ações de sensibilização sobre a doença e a realidade de quem lida com ela. Este mês, além de promover mesa-redonda voltada ao tema, a instituição divulgou uma cartilha educativa para conscientização. 

 

As iniciativas de prevenção e promoção à saúde são realizadas em momento em que há preocupação quanto à redução na procura por exames para detecção da doença no Brasil. De acordo com levantamento da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), houve queda significativa no número de mamografias realizadas no ano de 2020 em relação a 2019. No ano passado, foram 1,1 milhão, feitas em mulheres entre 50 e 69 anos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) – em 2019, o quantitativo foi de 1,9 milhão. A queda, segundo o SUS, pode ser atribuída a fatores ligados à pandemia.

 

A professora da Faculdade UnB Ceilândia (FCE) Maria Inez Montagner, cuja tese de doutorado teve como tema mulheres e câncer de mama, explica que parte dos médicos que tratavam da saúde das mamas, assim como os hospitais que realizavam mamografias, estiveram voltados para o cuidado da saúde respiratória durante a emergência sanitária. Além disso, muitas mulheres não se sentiam seguras para ir fazer os exames.

 

Segundo a docente, o processo entre a percepção de alteração na mama e o possível diagnóstico é longo, fazendo com que pessoas com suspeita da doença fiquem ansiosas e posterguem a procura. “Muitas mulheres, quando percebem uma alteração nas mamas, tentam remediar com banhos, compressas, e muitas vezes dá certo, porque não é câncer. Mas também pode ser um problema porque o tempo entre a incerteza do que se tem e o diagnóstico já é muito grande”, afirma.

 

Vale lembrar que a doença também pode acometer pessoas do sexo masculino, apesar da raridade do diagnóstico – cerca de 1%, segundo o Instituto Nacional do Câncer.

 

ACESSO AO ATENDIMENTO – Com a temática Outubro Rosa: Cuidado Singular e Diversidade de Corpos, uma mesa-redonda virtual, no último dia 20, abordou a dificuldade de diversos grupos para acessar os serviços de saúde em busca do tratamento da doença. A atividade foi promovida pela Coordenação de Articulação de Redes para Prevenção e Promoção da Saúde da Diretoria de Atenção à Saúde da Comunidade Universitária (CoRedes/Dasu/DAC).

 

A servidora pública e egressa da Universidade de Brasília Martha Freitas, que é cadeirante há cerca de 30 anos, contou sua experiência com um câncer de mama descoberto em 2010. Como dependia muito do movimento dos braços, seu maior receio foi em relação à retirada das mamas. “A primeira coisa que fiz quando descobri o câncer foi pesquisar o que poderia acontecer, porque eu já não tinha o movimento das pernas, e quando você faz mastectomia, perde a mobilidade”, explicou.

Convidadas do evento contaram sobre suas experiências e as dificuldades enfrentadas na busca pelo tratamento adequado. Imagem: Divulgação/Dasu UnB

 

Segundo ela, há grande dificuldade de mulheres com deficiência serem reconhecidas nestas situações, pois as pessoas pensam que a deficiência é sua única preocupação e que elas nunca serão acometidas por nenhum outro percalço, tal como o câncer de mama.

 

Nathália Vasconcelos, mulher trans e presidenta da Rede Distrital Trans, também apontou a invisibilidade dos homens trans na luta contra a doença. Ela contou que acaba por ser problemático, principalmente na saúde pública, que uma pessoa com características masculinas fique aguardando atendimento. Isso em função da discriminação, do estranhamento e, em alguns casos, da violência. “Pessoas trans não conseguem acessar nem a atenção primária, quem dirá mastologistas e outros profissionais especializados”, lamentou.

 

Já Dani Sanchez, mulher negra e assistente social, falou das situações enfrentadas por pessoas pretas na busca por atendimento de qualidade. Ela explicou que, embora seja a que mais procura os serviços de saúde pública, esta parcela da população é a menos assistida. “Quando falamos de saúde pública e da população negra, falamos que essas pessoas estão mais vulneráveis. E quando falamos de mulheres negras, em especial, temos ainda um agravante, que é a violência por ser mulher”, afirmou.

 

TRATAMENTO E AUTOESTIMA – A detecção precoce do câncer de mama é um dos fatores que trazem maiores chances de sucesso no tratamento. O diagnóstico somente é emitido por profissionais de saúde. Maria Inez Montagner explana que, após a avaliação do ginecologista, caso seja notada alguma característica que aponte para a existência de uma patologia nas mamas, a paciente é encaminhada para um mastologista. Se a suspeita permanecer, o próximo passo é consultar um mastologista oncológico. Só depois de passar pelos três profissionais a conclusão é completa.

 

Apesar da complexidade do processo, a professora frisa a importância de que a mulher vá a um especialista e a necessidade de ter muito cuidado com o autoexame: “Se você fica tocando uma área em que acredita que exista um caroço ou algo do gênero, você pode acabar machucando toda a estrutura ao redor desse caroço. A primeira opção é sempre ir ao ginecologista”.

 

Ela defende que as pessoas deixem de usar o câncer como adjetivo. “Esse estigma da sociedade de que o câncer é um adjetivo para classificar algo ruim, ‘tal coisa é o câncer da sociedade’, tem que parar porque cria no subconsciente da mulher a ideia de que o câncer é a pior coisa que pode acontecer com ela. É uma doença tratável e curável na maioria dos casos, especialmente o de mama”, diz.

 

Outro ponto é a preocupação com a autoestima das pacientes oncológicas, especialmente pelo ideal de identidade feminina imposto pela sociedade. “Entre os maiores medos das mulheres em relação ao tratamento [de câncer de mama], estão, além da possibilidade de retirada das mamas, a perda do cabelo durante a quimioterapia, porque elas têm uma sensação de perda total da feminilidade.”

 

INFORMAÇÃO – Em 2019, foram registradas sete licenças médicas de servidoras da UnB com afastamento temporário em razão do câncer de mama, o tipo mais incidente entre as mulheres no Brasil (29,7%) – à exceção do câncer de pele não melanoma. 

 

Para levar informação sobre o assunto aos servidores, a Coordenadoria de Saúde Ocupacional do Decanato de Gestão de Pessoal (CSO/DGP) elaborou uma cartilha de conscientização sobre o câncer de mama. O material está sendo divulgado no UnBoa, boletim digital criado pela unidade para publicação de informações educativas na área de promoção e prevenção em saúde.

 

“Atualmente, por conta do distanciamento social imposto pela pandemia de covid-19, estamos impedidos de fazer ações que envolvam contato pessoal, porém, pretendemos retomar essas ações educativas tão logo houver segurança sanitária", diz o enfermeiro do trabalho e coordenador de Saúde Ocupacional, Everaldo Silva.

 

Ele afirma que a UnB, por meio da Diretoria de Saúde, Segurança e Qualidade de Vida no Trabalho (DSQVT/DGP), à qual a CSO está ligada, tem seguido as políticas públicas de saúde e realiza o programa anual de exames médicos periódicos, que contribui para a detecção precoce de doenças entre os servidores da instituição. A convocação para os exames foi prejudicada em razão da pandemia do novo coronavírus, mas deverá retornar à normalidade em 2022.

 

Confira a mesa-redonda Outubro Rosa: Cuidado Singular e Diversidade de Corpos:

 

*estagiária de Jornalismo na Secom/UnB.

 

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