CONQUISTA

Afrocientista é destaque por aproximar estudantes negros da ciência. Título é concedido por instituto de Sueli Carneiro, que será homenageada na quarta (21)

Iniciativa do Grupo de Estudos e Pesquisa Sobre Políticas, História, Educação e Relações Raciais e Gênero (Geppherg), projeto está em sua terceira edição e tem parceria com o IFB. Foto: Anastácia Vaz/Secom UnB

 

O projeto Afrocientista, por meio do Grupo de Estudos e Pesquisa Sobre Políticas, História, Educação e Relações Raciais e Gênero (Geppherg), conquistou o I Prêmio Estratégia de Equidade no Enfrentamento à Evasão Escolar: implicações da covid-19 para a permanência na educação básica, concedido pelo Geledés – Instituto da Mulher Negra, na categoria Gestão Escolar.

 

Concebido a partir da preocupação de pesquisadores negros sobre a responsabilidade das universidades brasileiras na formação acadêmica e científica da comunidade negra, o projeto Afrocientista é uma ação de extensão que tem como intenção transformar a sala de aula em oficina de saberes para potencializar e aproximar esse grupo da produção científica. A iniciativa está em sua terceira edição e tem parceria com o Instituto Federal de Brasília (IFB), Associação Brasileira de Pesquisadores/as Negros/as (ABPN) e Instituto Unibanco (responsável pelo pagamento das bolsas).

 

Para Renísia Garcia, professora da Faculdade de Educação (FE) e umas das idealizadoras da iniciativa, o projeto possibilita a aproximação entre educação básica e ensino superior. “Insere estudantes no universo acadêmico, não só contribuindo com sua capacitação para elaborar relatórios, sínteses, participar de eventos científicos e outros, mas também inserindo-os em um ambiente em que a construção do conhecimento tem um diferencial, que se dá coletivamente”, defende a docente, que também coordena o Geppherg.

 

O Afrocientista visa ainda incentivar a participação de estudantes do ensino médio junto a grupos de pesquisa dos Núcleos de Estudos Afro-Brasileiros (Neab) e correlatos, como o Geppherg, com o objetivo de favorecer a aprendizagem por meio da investigação e da produção acadêmica. O projeto funcionou de forma remota durante os períodos críticos da pandemia de covid-19.

 

“Como professora da Faculdade de Educação, é uma experiência ímpar ver a expectativa que o grupo demonstra ao final do projeto. Não só pela vontade de estarem conosco na Universidade um dia, mas por ver um amor próprio e um senso de pertencimento e merecimento maior”, conta a docente. Para ela, o maior responsável pelo sucesso do grupo é essa comunidade que se forma entre alunos, integrantes dos núcleos de estudos e docentes negros e negras, que se reconhecem em uma mesma vivência como jovens negros no Brasil.

 

Luísa de Souza, aluna do último ano do ensino médio integrado em informática pelo IFB, é uma das participantes e relata que a iniciativa abriu novos horizontes em sua formação. “O Afrocientista me mostrou que eu posso estar em qualquer lugar, me deu segurança para almejar entrar na UnB um dia, me mostrou que não posso privar os meus objetivos pela aceitação das outras pessoas.”

Luísa Souza, estudante do IFB participante do ação de extensão: “Quando entrei no projeto, não me identificava como uma menina negra, porém, no Afrocientista me mostraram que ser negro vai além da cor da sua pele”. Foto: Arquivo pessoal

 

A estudante relata que após a participação se sente mais preparada para iniciar a sua vida acadêmica, sobretudo por ter aprendido a fazer artigos e pesquisas científicas. “Não é à toa que em 2021 participei de um projeto de iniciação científica e também da Febrace [Feira Brasileira de Ciências e Engenharia] e fui finalista e destaque do Centro-Oeste”, divide Luísa. Ela afirma que se envolverá novamente no projeto e que quer se qualificar ainda mais para seguir na área da informática no ensino superior.

  

RECONHECIMENTO – O I Prêmio Estratégia de Equidade no Enfrentamento à Evasão Escolar se propôs, nesta primeira edição, a identificar, reconhecer e difundir ações que buscam reverter os impactos da pandemia de covid-19 na trajetória escolar de estudantes da educação básica. A premiação é promovida pelo Instituto da Mulher Negra Geledés, que tem como uma das líderes Sueli Carneiro, filósofa, escritora e ativista do movimento social negro brasileiro. A pesquisadora é referência fundamental no movimento feminista negro e contra o racismo estrutural no Brasil.

 

Nesta quarta-feira (21), às 16h30, Sueli Carneiro receberá da Universidade de Brasília o título de Doutora Honoris Causa, em solenidade no auditório Esperança Garcia da Faculdade de Direito (FD). Entre os feitos que a destacaram como liderança negra, além da fundação do Instituto da Mulher Negra Geledés, está a contribuição política e social no entendimento entre povos diversos, na promoção do convívio respeitoso e na defesa da democracia. A pesquisadora destaca-se ainda pela contribuição epistemológica na construção do Programa de Pós-Graduação em Direitos Humanos e Cidadania do Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares (Ceam), que propôs a homenagem aprovada pelo Conselho Universitário (Consuni).

Renísia Garcia destaca que o projeto tem compromisso com o fortalecimento da consciência crítica e racial dos jovens negros, para se sentirem parte do meio em que estão inseridos, com propósito de que façam a diferença. Foto: Anastácia Vaz/Secom UnB

 

PESQUISA – No ano em que se comemoram os dez anos da Lei de Cotas, a UnB, em parceria com a Defensoria Pública da União (DPU) e com a Associação Brasileira de Pesquisadores/as Negros/as (ABPN), participou, por meio do Geppherg, de uma pesquisa realizada em todas as universidades brasileiras sobre a implementação das cotas social e racial.

 

Os resultados demonstram que ainda não foi cumprido de forma plena o que está estabelecido na Lei n. 12.711/2012. O estudo avaliou que pontos como presença negra e vagas criadas, preenchidas e onerosas nas universidades ainda necessitam de forte atenção.

 

“Existem inúmeras lacunas na elaboração, sistematização e publicização dos dados. Embora no 7º artigo da lei conste a necessidade de monitoramento, este não ocorreu por parte do governo federal”, observa Renísia. Segundo ela, outros pontos importantes dizem respeito ao número de vagas ofertadas, que não atenderam ao disposto em lei, a ausência de bancas de heteroidentificação nas instituições de ensino, além das diferentes formas de implementação e acompanhamento dos processos relacionados às ações afirmativas.

 

Na UnB, a criação, em fevereiro deste ano, do Comitê Permanente de Acompanhamento das Políticas de Ação Afirmativa (Copeaa), aprovado pelo Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe), representou um importante passo para garantir o monitoramento das políticas de cotas na instituição. Além disso, estabeleceu uma instância responsável pela realização de bancas de heteroidentificação no acesso à graduação e à pós-graduação para estudantes autodeclarados negros, indígenas e quilombolas.

 

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