GESTÃO

Professora do Departamento de História da UnB pretende reposicionar a imagem do órgão diante da sociedade

Ana Flávia Magalhães Pinto promete uma gestão baseada em diálogo. Foto: Webert da Cruz


A historiadora Ana Flávia Magalhães Pinto, professora do Departamento de História da Universidade de Brasília, assume direção-geral do Arquivo Nacional. Na nova estrutura do governo, o Arquivo ganha status de secretaria dentro do Ministério da Gestão e Inovação em Serviços Públicos. O anúncio foi feito nesta terça-feira (24), pela ministra Esther Dweck. Esta é a primeira vez em 185 anos que a instituição será comandada por uma mulher negra.

 

Ana Flávia é doutora em História pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), mestra pela UnB na mesma área e, desde 2018, faz parte do grupo de pesquisadores desta instituição. Com uma trajetória marcada pela luta pela visibilidade de pessoas negras na historiografia brasileira, tem entre os principais temas de pesquisa a imprensa negra e a produção intelectual de pensadores negros no Brasil do século XIX.

 

Ana também faz parte da Rede de Historiadores e Historiadoras Negrxs, que articula pessoas do Brasil inteiro em torno de suas pesquisas, dando visibilidade aos conhecimentos produzidos e a esses pesquisadores e pesquisadoras.

 

Mais recentemente, na Universidade de Brasília, foi da professora Ana Flávia o discurso que homenageou a doutora Honoris Causa Sueli Carneiro no dia da cerimônia de outorga do título pela instituição. A Secretaria de Comunicação da UnB conversou com Ana Flávia sobre a sua nomeação.

 

Qual é o sentimento de ser indicada para a direção do Arquivo Nacional?

As pessoas têm falado muito em esperança, esperançar. Isso é o que nos move, mas quando eu olho para essa indicação, tenho a certeza de que estamos diante de um grande desafio. Eu digo estamos, porque nos primeiros dias da nomeação, algo que mais chamou a atenção das pessoas é que estamos diante da primeira diretora-geral negra da história do Arquivo Nacional. Bom, como titular, eu sou a primeira. Mas antes, a gente teve uma participação esporádica da também historiadora Maria Isabel de Oliveira como diretora interina, dando contribuições muito importantes, e é fundamental que a gente faça um esforço da própria memória institucional que não se restrinja a quem ocupa o cargo de direção.

 

Até esse momento não havia sido garantido a uma mulher negra a condição de titular. Isso aponta para uma série de desafios que não só aqueles que já indiscutivelmente atravessam todos os envolvidos na realização da missão institucional do Arquivo: como o Arquivo e a própria sociedade lidam com o resultado de esforços históricos de grupos de pessoas e coletividades negras, femininas, indígenas, periféricas e outros segmentos sociais que têm demandado que a vida brasileira seja organizada e gestada pelo próprio povo. Nesse sentido, a gente está diante de um desafio que não é só da parte meramente técnica, mas das subjetividades que são centrais para que esse trabalho técnico aconteça. Então, é assim que eu me sinto, diante de um baita desafio que é, na verdade, um desafio da própria sociedade brasileira como nação.

 

Quais são as principais prioridades do início da sua gestão?

Como alguém que vem de experiências de trabalho coletivo, minha prioridade número um é estabelecer espaços de diálogo e de uma gestão colaborativa entre servidores e usuários com os diferentes perfis que estão mobilizados ali no Arquivo Nacional. Isso é central para que a gente dê conta de atividades que são estruturantes da missão institucional do Arquivo Nacional.

 

As pessoas talvez não se deem conta porque pensam numa imagem de Arquivo como depósito ou como algo que é muito distante, mas o Arquivo Nacional é responsável hoje pela gestão de documentos e arquivos associados à Administração Pública Federal. Essa é uma missão que coloca o Arquivo como sujeito que lida com o presente imediato, ou seja, ele é responsável tanto por garantir que haja uma sistematização de documentos imprescindíveis para o monitoramento e acompanhamento de dados sociais, utilizados na formulação de políticas públicas, e também para o próprio monitoramento dessas políticas.

 

Então, o arquivo é um agente estratégico para a promoção de cidadania, ou também para a sua negação, e a gente quer que ele funcione como um agente de promoção de cidadania. Por outro lado, o Arquivo tem uma missão de fomento à memória e à história para a sociedade em geral. Isso faz com que a gente tenha como prioridade o estabelecimento de estratégias que facilitem a compreensão disso e como isso pode acontecer com agilidade e eficiência. Nesse sentido, é importante que a gente faça um trabalho de reposicionamento da imagem do Arquivo Nacional perante a servidores, a Administração Pública Federal e a sociedade.

 

Como o seu histórico de atuação profissional e sua relação com a Universidade de Brasília te prepararam para este novo momento?

Eu acredito que não apenas a minha atuação profissional e a minha relação com a UnB me prepararam, até porque a minha chegada para a Universidade é fruto de uma preparação política vivenciada dentro do Movimento Negro e de Mulheres Negras no Brasil. Acho que isso é importante, porque ainda que o Arquivo Nacional seja uma instituição muito voltada a práticas que não são da percepção direta da sociedade, tudo isso é feito por pessoas.

 

Então, essa capacidade de construir, de articular equipes multidisciplinares e diversas que vão sendo mobilizadas para atuarem com um objetivo comum, foi algo que veio da Universidade, dos movimentos sociais, da própria maneira como nós historiadoras e historiadores temos trabalhado em diálogo com as outras áreas, como arquivologia, museologia, as disciplinas das ciências sociais, as ciências da saúde. É algo que me parece fundamental para que a gente opere nessa chave de união e reconstrução que o Arquivo Nacional e toda a sociedade está demandando.

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