HONRARIA

Fundador da linguística moderna e analista do cenário geopolítico internacional, Chomsky foi o convidado especial da 20a Semana Universitária

Noam Chomsky visitou a UnB há quase 24 anos, em 1996, quando proferiu duas palestras a convite da professora Lúcia Lobato. Posteriormente, o conteúdo dessas palestras foi publicado pela Editora UnB na obra Linguagem e Mente. Imagem: Reprodução

 

A abertura da 20a Semana Universitária contou com a presença ilustre de um dos mais importantes intelectuais vivos, o linguista Noam Chomsky. Na abertura do evento, realizada na segunda-feira (21), o professor aposentado recebeu o título de Doutor Honoris Causa da Universidade de Brasília. Em formato virtual por conta da pandemia de covid-19, a transmissão do evento já conta com 27 mil visualizações e pode ser assistida com o áudio original, em inglês, e com tradução para o português no canal da UnBTV no YouTube.

 

>> Confira aqui a programação da 20ª Semana Universitária

 

Honrado com o título, Noam Chomsky citou em especial o Departamento de Linguística da UnB em seu discurso. “Tive a oportunidade de visitar a UnB a convite de minha amiga Lúcia Lobato e proferir algumas palestras que mudaram minha carreira. As palestras revisaram o meu trabalho, mas eu especulei sobre o que havia no horizonte do estudo da linguagem e da mente”, disse.

 

Ele contou que os estudos feitos a partir dessas especulações geraram avanços no campo a partir de contribuições suas e de outros pesquisadores em todo o mundo. Para Chomsky, o Brasil tem recursos para liderar o caminho em estudos na área. “Com um incomparável número de povos indígenas, cada um com sua contribuição de variedade linguística e riqueza cultural”, explicou. “Infelizmente, gravemente ameaçados e mesmo com risco de sobrevivência”, observou.

 

Para o ativista, o atual momento é perigoso para o mundo científico. Forte crítico do capitalismo, Chomsky ligou a origem de vários problemas à influência do neoliberalismo de Ronald Reagan e Margaret Tatcher, com decisões importantes sendo transferidas do governo para o setor privado, que não presta contas à sociedade.

 

“A maior parte da população sobrevive de pagamento em pagamento, sem reservas. A raiva e o desprezo às instituições pela maior parte do mundo – reações compreensíveis – oferecem espaço para demagogos que dizem que são salvadores e depois nos apunhalam pelas costas. Eles culpam bodes expiatórios por essas condições, como os negros, os imigrantes, ou a China, enquanto protegem forças poderosas que, na verdade, são responsáveis, e a quem os demagogos servem”, critica Chomsky. “Não é difícil encontrar exemplos.” 

Vigésima edição da Semuni reúne mais de mil atividades, quase 700 delas acontecem ao vivo. Este ano, toda a programação é on-line. Arte: Vigínia Soares/DEX

 

Sob o modelo neoliberal, ideias humanistas e de liberais clássicos e seus herdeiros, como Paulo Freire, acabam sendo abandonadas. O linguista citou Darcy Ribeiro e Anísio Teixeira, fundadores da Universidade de Brasília, como visionários que têm seus ideais suprimidos hoje.

 

“Não precisamos assassinar Sócrates, basta eliminar o departamento de Filosofia”, brincou. “Eles querem tornar instituições educacionais de primeira classe em empreendimentos comerciais de terceira classe.”

 

“Estamos no meio de uma pandemia evitável. Pode ser contida, como foi demonstrado por países onde o governo se preocupa com os cidadãos.” Chomsky terminou com a mensagem agridoce de que cabe a nós decidir qual será o novo mundo que vai emergir depois da pandemia.

 

LEGADO – Noam Chomsky fundou o campo da Linguística moderna com a publicação, em 1959, de uma resenha do livro O Comportamento Verbal, do psicólogo B. F. Skinner. “O jovem cientista, desafiando o mainstream da linguística estruturalista, propôs uma agenda de pesquisa baseada no pressuposto de que a habilidade de gerar sentenças da língua era determinada por um componente inato da mente, a faculdade de linguagem”, conta a professora Heloísa Salles, do Instituto de Letras.

 

A agenda de pesquisa da linguística gerativa reuniu pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês), universidade de Chomsky, e de outros centros de pesquisa em todo mundo, incluindo a Universidade de Brasília, sob a liderança de Lúcia Lobato. Noam Chomsky chegou a visitar a UnB há quase 24 anos, em 1996, quando proferiu duas palestras a convite da professora Lúcia Lobato. Posteriormente, o conteúdo dessas palestras foi publicado pela Editora UnB na obra Linguagem e Mente.

 

A professora Rozana Naves, que integra o grupo de pesquisa em linguística gerativa da UnB, conta que a proposta de outorga de título surgiu no Instituto de Letras como forma de celebrar o marco de cem trabalhos defendidos sob o arcabouço teórico da gramática gerativa. “Hoje somos seis docentes neste grupo, e compomos uma rede mundial de pesquisadores que se dedicam de forma colaborativa à compreensão dos fenômenos linguísticos nessa perspectiva”, diz.

 

Professor de Linguística, o vice-reitor, Enrique Huelva, manifestou sua alegria de começar a Semana Universitária com a presença de Chomsky. “Uma pessoa que mudou nossa forma de pensar, não apenas em nossa área, mas grandes áreas científicas como filosofia da linguagem e ciências cognitivas”, exaltou.

 

Honrada com a presença de Noam Chomsky no rol de doutores Honoris Causa da UnB, a reitora Márcia Abrahão falou sobre sua importância para a humanidade: “Nosso convidado não se limitou ao estudo da sua área de atuação. Ele compreendeu desde o início de sua carreira que os intelectuais precisam sair de suas bolhas para espalhar o conhecimento.”

 

Confira aqui a íntegra da palestra com tradução:

 

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