Os estudantes da graduação em História na Universidade de Brasília Francilazaro Duarte e Maria Clara de Jesus estão de malas prontas para Angola e República Dominicana, respectivamente. Ambos foram selecionados por meio do edital Caminhos Amefricanos: Programa de Intercâmbio Sul-Sul, da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e do Ministério da Igualdade Racial (MIR). As viagens acontecem de 7 a 21 de dezembro.
“A ideia de fazer um intercâmbio sempre foi muito distante por conta dos custos”, admite Maria Clara, que irá para Santo Domingo, na República Dominicana, junto aos outros 47 selecionados. “Agora, com esse edital, é tudo pago. O governo está me financiando, por conta da minha pesquisa, para estudar em outro país”, comemora, ao perceber o sonho virando realidade.
“É uma honra ser intercambista do programa Caminhos Amefricanos, inspirado no conceito da intelectual Lélia Gonzalez, que recentemente recebeu o título post mortem de Doutora Honoris Causa pela UnB”, ressalta Francilazaro, um dos 50 estudantes brasileiros que irão para Angola, no continente africano.
Maria Clara destaca a importância de sua orientadora, Cristiane Portela (HIS), para esse momento. “Eu pensei que eu não ia passar, mas minha orientadora falou: ‘você vai se inscrever e, se não passar, tudo bem’. Ela acreditou que eu tinha chance.” Além da influência da professora, a estudante agradece o apoio de familiares e amigos. “Eles acreditaram tanto em mim que eu passei a acreditar também.”
A orientadora traz à luz a relevância do intercâmbio. “Essa oportunidade é uma forma também de amplificar as próprias experiências que Maria Clara já traz na vida. Reconhecer as trajetórias inclusive de ancestralidade, daqueles que vieram antes”, pontua Portela. “A trajetória da Maria Clara é mais uma dessas trajetórias que demonstram que a UnB é cada vez mais plural, mais qualificada, mais aberta epistemicamente. É uma Universidade que está muito atenta a essas novas demandas que aparecem da sociedade e que nos ajuda a cumprir o nosso papel como formadores e formadoras”, complementa.
A professora do HIS reconhece ainda a importância do programa patrocinado por Capes e MIR. “O Caminhos Amefricanos é uma oportunidade de olhar para América Latina, para esses outros contextos historicamente subalternizados, a fim de conseguirmos enxergar no Brasil as suas potencialidades”, analisa. Primeiro de sua família a cursar o ensino superior e a obter um passaporte, Francilazaro endossa a leitura da docente: “Esse programa de intercâmbios é fundamental no fortalecimento das relações entre o Brasil, a América Latina e a África”.
O programa tem como proposta educação antirracista, promoção da igualdade racial e imersão cultural. O estudante pretende abordar a experiência em seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), e já faz planos para o mestrado.
ATUAÇÃO – Envolvidos em projetos de iniciação científica, de extensão, de iniciação à docência e na produção de artigos sobre questões raciais, os estudantes não tiveram dificuldades em atender aos requisitos da seleção voltada para estudantes autodeclarados pretos, pardos ou quilombolas, matriculados a partir do 5º semestre em cursos de licenciatura. Os candidatos foram avaliados em quatro critérios de 25 pontos cada: participação em núcleos e grupos de estudos e de pesquisas na área; atuação em representação estudantil e em organização do movimento negro; participação em eventos acadêmicos; e publicações.
Entre as atuações de Maria Clara, destacam-se os projetos de iniciação científica "Nós é que estávamos à frente do movimento negro": seguindo os rastros de mulheres negras no contexto da ditadura militar no Distrito Federal e LABHIS_Experimental: ensino de História a partir de metodologias investigativas e pluriepistêmicas.
Francilazaro integra o projeto Redes Antirracistas, parceria da UnB com o MIR, atua no Grupo de Estudo e Pesquisa em Políticas Públicas, História, Educação das Relações Raciais e de Gênero (GEPPHERG/UnB) e publicou na revista Humanidades e Inovação, da Universidade Estadual de Tocantins (Unitins), o artigo Imprensa hegemônica, raça e gênero: a indicação de uma ministra negra para o Supremo Tribunal Federal (STF) e a atuação de Janja. Seu artigo A reprodução do capital cultural da branquitude no capitalismo dependente: inferências sobre a proibição do uso de celulares nas escolas brasileiras foi publicado na revista Capim Dourado, da Universidade Federal do Tocantins (UFT).
*Estagiária de Jornalismo na Secom/UnB.
