UnB EM AÇÃO

Pesquisador da UnB e infectologista do HUB analisam impactos da circulação da variante do Sars-Cov-2 detectada no Reino Unido

Ainda não há dados concretos de que nova cepa possa causar maior dano. Imagem: Pixabay

 

A preocupação em relação à pandemia de covid-19 aumentou ainda mais recentemente, depois que o governo do Reino Unido anunciou a existência de uma nova mutação do novo coronavírus circulando no país. A variante, batizada de B.1.1.7 e considerada até 70% mais transmissível, segundo representantes do primeiro ministro britânico Boris Johnson, fez com que autoridades locais restringissem ainda mais a circulação de pessoas, além de ter causado o fechamento de fronteiras e proibições de voos oriundos da ilha britânica em outros países. Outra questão levantada remete à eficácia das vacinas em teste em relação à nova cepa do vírus.

 

Apesar da apreensão em nível mundial, segundo o professor do Instituto de Ciências Biológicas (IB) da Universidade de Brasília Bergmann Ribeiro, mutações já são esperadas: "Os vírus mutam toda hora, portanto mutação em vírus é algo super comum, e isso não significa que mutações que ocorrem nos vírus vão deixá-los mais patogênicos ou fazer com que eles causem uma doença mais severa. Na maioria das vezes, as mutações não têm efeito nenhum ou têm efeito neutro e, em outras vezes, o efeito é ruim para o próprio vírus, porque uma mutação no genoma vai modificar o código das proteínas desse vírus, e esse código, se alterado, pode fazer com que o vírus não funcione mais", analisa.

 

"Então, existe a possibilidade de uma modificação genética no vírus alterar a sua característica biológica: por exemplo, existe a proteína de contato do coronavírus com a célula, que é a proteína spike. Ela interage com a proteína da célula, para que possa abri-la e entrar para poder introduzir o vírus. Então, caso ocorram mutações nessa proteína, existe a possibilidade desse vírus ficar mais eficiente para entrar dentro da célula", explica.

Professor do Instituto de Ciências Biológicas, Bergmann Ribeiro avalia que é necessário realizar análises biológicas mais detalhadas para verificar mudanças na característica biológica do vírus. Foto: Luis Gustavo Prado/Secom UnB

 

O professor Bergmann destaca que ainda não há evidências em termos biológicos que apontem uma transmissibilidade maior da nova mutação ou até mesmo maior letalidade.

 

"Não existem dados biológicos mostrando que essas mutações vão fazer com que o vírus adquira uma característica biológica diferente, ou seja, se tornará mais patogênico. O que vem aparecendo na mídia recentemente é que o vírus teria uma transmissibilidade maior, mas ainda não existem dados biológicos mostrando que esse vírus realmente é capaz de infectar mais rapidamente: são apenas dados epidemiológicos, com algum dado de quantificação do vírus em pacientes, que mostraram que alguns deles podem ter um pouco mais de vírus do que o normal", descreve.

 

Para o pesquisador, ainda é prematuro dizer que um vírus que está predominando em alguma região do mundo se tornou mais transmissível ou mais patogênico, sem uma análise detalhada de sua característica biológica. Sobre possíveis variantes do novo coronavírus circulando no Brasil, Bergmann acredita que já existem e que estão se propagando em decorrência direta do comportamento da população.

 

"Aqui no Brasil, existem várias variantes e esse vírus, toda vez que entra na célula, vai mutando. Um vírus pode predominar em uma população devido a uma pessoa que, por exemplo, vai infectada a uma igreja e espalha o vírus rapidamente, disseminando para uma, 50 ou cem pessoas. Se essas pessoas começarem a espalhar mais rapidamente do que as outras pessoas que ficaram em casa, você vai ter uma predominância de um vírus por causa do comportamento de uma pessoa que foi em um evento com aglomeração, e não necessariamente porque o vírus é mais transmissível ou não", alerta.

A infectologista Valéria Paes avalia que ainda é cedo para se ter dimensão quanto ao real impacto das mutações do novo coronavírus, sobretudo no potencial das vacinas. Foto: Arquivo pessoal

 

EFICÁCIA DE IMUNIZANTES – Quanto a vacinas que estão em desenvolvimento e em aplicação em várias partes do mundo, o professor aponta que serão necessários testes para descobrir a real eficácia em relação à nova variante.

 

Bergmann Ribeiro aponta também um possível sensacionalismo por parte da mídia ao tratar do assunto.

 

"Não necessariamente esse vírus não será neutralizado pela vacina que está sendo desenvolvida porque não foi feito o teste biológico contra ele. Então, será necessário fazer esses testes para saber se há alguma relevância, porque os vírus mudam rapidamente", observa o docente. 

 

A opinião de Bergmann em relação à atuação das vacinas contra a nova variante é corroborada pela infectologista do Hospital Universitário de Brasília (HUB) Valéria Paes. "Ainda é cedo para saber o impacto das mutações do vírus sobre os exames diagnósticos ou sobre a eficácia das vacinas. A identificação das mutações relevantes e o monitoramento de ocorrência são trabalhos importantes, que devem ser desenvolvidos por pesquisadores de todo o mundo em colaboração", afirma a médica.

 

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