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Em conversa com lingüista Teun van Dijk, UnBTV abordou o tema da discriminação no Brasil e no mundo

Teun van Dijk é conhecido por contribuições na área de linguística textual e dos Estudos Críticos do Discurso. Imagem: Reprodução/UnBTV

 

Para refletir mais profundamente sobre tema presente nas relações sociais no Brasil, o racismo, a UnBTV entrevistou o lingüista holandês, Teun van Dijk, em sua visita à Universidade, em novembro. Nome de referência internacional nos Estudos Críticos do Discurso, dentre a vasta lista de publicações, o teórico lançou obras voltadas para o debate do racismo e a forma em que é pautado. Escreveu, inclusive, um livro acerca da questão brasileira: Discurso antirracista no Brasil: da abolição às ações afirmativas.

 

Ao longo da entrevista, van Dijk, atualmente professor da Universidade de Pompeu Fabra, em Barcelona, Espanha, fez uma análise principalmente sobre a importância do debate antirracista. “Os critérios de tolerância, pluralismo e da democracia também se explicam em relações raciais, étnicas e de gênero. Uma sociedade democrática precisa ser mais do que não racista. Precisa ser, explicitamente, antirracista”, pontuou.

 

Teun van Dijk também comentou sobre a política de cotas – da qual a UnB é pioneira no Brasil –, e seu impacto na sociedade. “Hoje em dia, depois de 20 anos tendo sucesso e tantas pessoas afro-brasileiras na universidade, está comprovado que essa política funciona muito bem e que, felizmente, agora o ensino superior já não é tão branco como antes”.

 

Confira trecho da entrevista:

 

Daniele Gruppi/UnBTV – Como o discurso racista se articula hoje e como era na década de 1980, quando você lançou um dos seus primeiros livros sobre discurso e racismo?

 

Teun van Dijk – O tema do racismo esteve no meu trabalho desde os anos 1980, como mencionado. O preconceito é visto como uma coisa muito tipicamente europeia e também das sociedades provenientes da Europa, como o Brasil. O racismo sempre esteve lá. E agora, claro, depois de 40 anos não está melhorando a situação, porque não há menos racismo. Mas, podemos dizer que as pessoas estão mais conscientes. Por exemplo, depois do movimento ‘Black Lives Matter’, nos Estados Unidos, vimos movimentos antirracistas que são, pelo menos, mais e melhores conhecidos. Talvez o racismo não esteja menor do que antes, mas, pelo menos, as pessoas estão mais conscientes.

 

Mas, na vida cotidiana, nem sempre as coisas estão mudando. E isso, sobretudo, se nota em situações mais socioeconômicas, como a situação dos imigrantes na Europa. O problema fundamental agora é a intolerância com pessoas imigradas e formas de racismos, que são, ainda agora em 2023, muito explícitas, como no meu próprio país, Holanda. O novo programa de extrema direita fala explicitamente sobre pessoas de outras culturas e não-europeias. Enquanto nos anos 1980, a extrema direita tinha só um lugar no parlamento, agora tem muitos. Em muitos sentidos, a situação está pior. Há mais resistência contra a imigração em vários países mas também tem mais críticas, mais análise e mais antirracistas. E, por isso, meus últimos livros não são sobre o discurso racista, mas sobre o discurso antirracista também aqui no Brasil.

 

Confira a entrevista completa:

 

* Com informações da UnBTV.

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