INTERNACIONALIZAÇÃO

Márcia Abrahão esteve nas mesas de abertura e encerramento, assinou acordo e presidiu a sessão final, com palestra do ex-reitor José Geraldo de Sousa Junior

Acordo para promover pesquisa e ensino entre universidades brasileiras e cubanas foi assinado por Camilo Santana (MEC), Denise Pires de Carvalho (Capes) e pelo ministro do Ensino Superior de Cuba, Walter Baluja García. Foto: Luis Fortes/MEC

 

A reitora Márcia Abrahão, presidente da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), participou de uma série de atividades durante a Conferência Regional de Educação Superior para a América Latina e Caribe (CRES+5). O evento ocorreu no Centro Internacional de Convenções de Brasília (CICB), entre 13 e 15 de março. Entre as agendas, a reitora foi uma das painelistas do eixo temático sobre autonomia universitária e assinou um acordo de cooperação com a Universidade de Havana, de Cuba.

“A CRES+5 foi um grande sucesso! Tivemos debates de alto nível, em que foram estabelecidas ações concretas para o desenvolvimento do ensino superior da nossa região – América Latina e Caribe. Nosso objetivo é fortalecer as relações entre os nossos países e nossas instituições, por meio de parcerias, troca de experiências, intercâmbio acadêmico e colaboração em pesquisas científicas”, avalia Márcia Abrahão.

Ao lado de autoridades do ensino superior, a reitora esteve na mesa de abertura da conferência. O ministro da Educação, Camilo Santana, anunciou dois programas voltados para a mobilidade acadêmica no ensino superior, com oferta de bolsas e auxílios. O objetivo é, principalmente, ampliar a colaboração no desenvolvimento de pesquisas e o intercâmbio de estudantes. Ambos os programas serão implementados pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

Logo após a cerimônia, a reitora participou da assinatura de um acordo entre a Capes e o Ministério da Educação Superior de Cuba, para promover pesquisa e ensino entre universidades brasileiras e cubanas. O documento foi assinado pelo ministro Camilo Santana; pela presidente da Capes, Denise Pires de Carvalho; e pelo ministro do Ensino Superior de Cuba, Walter Baluja García.

ACORDOS – No dia anterior à abertura oficial da CRES+5, Márcia Abrahão recebeu o ministro do Ensino Superior de Cuba, o embaixador de Cuba no Brasil, Adolfo Curbello Castellanos, e seis reitores de universidades do país caribenho. Na conversa, foi destacada a necessidade de estreitar relações entre as instituições dos dois países. “Estamos prontos para ampliar essa parceria e, principalmente, o intercâmbio de estudantes e pesquisadores”, afirmou Márcia Abrahão.

“Estamos em um processo de reconstrução das relações entre Brasil e Cuba e o apoio da UnB está sendo fundamental. Vamos avançar ainda mais nesse processo de fraternidade entre os nossos povos e nossos países”, disse o embaixador Adolfo Curbello Castellanos, na ocasião. Também participaram do encontro o vice-reitor Enrique Huelva, membros da administração superior da UnB e o reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Roberto Medronho.

Reitora Márcia Abrahão, e a reitora da Universidad de Ciencias Médicas de La Habana (Cuba), Mairim Lago Queija, assinaram acordo de cooperação durante a CRES+5. Foto: Virgílio Almeida

 

No último dia da CRES+5, 15 de março, a reitora Márcia Abrahão, e a reitora da Universidad de Ciencias Médicas de La Habana, de Cuba, Mairim Lago Queija, firmaram um acordo de cooperação, que visa o intercâmbio de discentes e docentes, bem como a realização de pesquisas de forma colaborativa.

EDUCAÇÃO EMANCIPATÓRIA – Ao lado da reitora Márcia Abrahão, o reitor da UnB entre 2009 e 2012, José Geraldo de Sousa Junior, realizou a conferência de encerramento da CRES+5, abordando o papel da universidade na sociedade atual. Ele defendeu que as instituições federais de educação superior devem passar por um processo de descolonização, afastamento ou readequação dos conceitos de ensino, que são fundamentalmente ocidentalizados.

>> Leia o artigo de José Geraldo: Universidade, hoje, no contexto de América Latina

José Geraldo explicou que o modelo atual serve a interesses mercantis e não sociais, e que o processo colonialista que une os países da América Latina e Caribe se reflete no funcionamento das instituições e nos currículos. “A exclusão social crescente é uma outra face desse tipo de processo econômico, maliciosamente chamado de ‘desenvolvimento’, que gera segmentos descartáveis, segundo uma lógica de indiferença”, criticou.

UnB no encerramento da CRES+5: reitora Márcia Abrahão com o reitor (2009/2012), José Geraldo de Sousa Junior, palestrante da sessão final. Foto: Cecília Lopes/Ascom GRE

 

“Sob a perspectiva da condição ultraneoliberal, sigo pensando que, para as classes dominantes, as empresas multinacionais e as oligarquias, pouco importa que milhões de pessoas morram de fome e de doenças provocadas pela fome. O que importa, em um quadro como este, é acrescentar mais privilégios a esse núcleo de elite, que constitui o que Darcy Ribeiro denominou de ‘engenho de moer gente’, na voragem de contínua concentração dos rendimentos, cada vez mais acentuada e desigual”, disse José Geraldo.

Para mudar esse cenário, o reitor argumenta que a educação emancipatória deve se aproximar da realidade dos povos da região, promovendo os conhecimentos, saberes e referências dessas comunidades. José Geraldo finalizou a apresentação alertando para a necessidade da liberdade de ensino e da autonomia universitária, que vêm sofrendo graves ameaças na região.

HOMENAGEM – No encerramento da CRES +5, o vice-reitor da UnB em 1977, Marco Antônio Rodrigues Dias, foi homenageado por sua vasta contribuição para a educação brasileira e mundial, em especial quando ocupou a direção da Divisão do Ensino Superior da Unesco, entre 1981 e 1999.

Nos corredores da CRES+5, a reitora conversou com o homenageado do evento, vice-reitor da UnB em 1977, Marco Antônio Dias. Foto: Cecília Lopes/Ascom GRE

 

Marco Antônio tem sua história marcada na Universidade de Brasília por ter sido, juntamente com o professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo José Carlos Córdova Coutinho, um dos únicos docentes a votar contra a expulsão de 60 estudantes da UnB, por serem contrários à ditadura militar. Na ocasião, apenas seis membros do Conselho Universitário (Consuni) votaram contra a medida: quatro estudantes e os dois professores. Coutinho é professor emérito da UnB.

DECLARAÇÃO FINAL – A CRES+5 culminou na declaração final da conferência, lida em português e em espanhol, que busca combater a mercantilização e a privatização dos sistemas educativos e defender a educação como bem público. Para tanto, o texto ressalta a importância de um modelo em que o ensino seja plural, inclusivo, humanista, diversificado e igualitário, lutando contra discursos negacionistas e anticientíficos.

O documento destaca ainda: “os estudantes constituem o foco principal do nosso trabalho, seja no âmbito docente, de pesquisa, institucional ou social, pois representam o futuro de nossas comunidades e personificam os aspectos mais valiosos da nossa identidade e diversidade”. Além disso, orienta para uma “perspectiva descolonizadora que deve constituir o centro da consciência latino-americana e caribenha”.

A CONFERÊNCIA – Cerca de duas mil pessoas participaram da CRES+5, a reunião de prosseguimento da III Conferência Regional de Educação Superior da América Latina e Caribe (CRES). O evento foi organizado pela Capes e pela Secretaria de Educação Superior (Sesu) do Ministério da Educação (MEC), em parceria com o Instituto Internacional para a Educação Superior na América Latina e no Caribe (Iesalc) da Unesco e com o Espaço Latino-Americano e Caribenho de Educação Superior (Enlaces).

Dividida em 12 eixos temáticos, a CRES+5 avaliou as conquistas da educação superior da região e estabeleceu as prioridades para a próxima CRES, em 2028. O objetivo é destacar o progresso alcançado desde a conferência de 2018, bem como os desafios, principalmente após a pandemia de covid-19.