BALANÇO

Docente do Departamento de Serviço Social esteve à frente do decanato desde o início da atual administração. Saída foi a pedido, no fim de fevereiro

Foto: Beatriz Ferraz/Secom UnB


Decana de Assuntos Comunitários desde novembro de 2012, a professora Denise Bomtempo deixou o cargo no fim do mês de fevereiro. Com extenso currículo na Universidade de Brasília, onde também foi aluna, chefe de departamento, diretora de instituto e decana de Pesquisa e Pós-graduação, Denise falou em entrevista à Secretaria de Comunicação sobre as principais conquistas de sua gestão à frente do DAC.

 

O aumento no alcance da assistência estudantil, o novo modelo de gestão do Restaurante Universitário e a criação da Diretoria da Diversidade estão entre os destaques mencionados pela gestora.

 

Quais foram os principais desafios encontrados no início da gestão?

 

Quando assumi, o DAC passava por uma fase difícil. A gestão anterior teve três decanos, houve muitas ocupações na Reitoria, a Casa do Estudante precisou ser desocupada para reforma. Foram situações marcantes. Então mapeamos tudo o que estava agregado ao decanato e nos perguntamos sobre qual seria sua real vocação. Muitas coisas eram apensadas a ele sem uma direção estratégica. A questão da segurança, por exemplo, tinha uma envergadura muito grande lá dentro. O DAC comprava equipamentos para vigilantes e policiais, por exemplo. Entendo que podemos discutir política de segurança, mas não ter a responsabilidade por toda essa área. Para isso existe a Diretoria de Segurança, vinculada à Prefeitura. A partir daí, organizamos audiência pública, fizemos parcerias, nos reunimos com representantes da comunidade universitária e alcançamos resultados. Foi importante demarcar esse território de ação do DAC, determinar o público alvo. Nos deparamos também com muitas demandas envolvendo violência, homofobia, lesbofobia, transfobia, assédios e racismo. O DAC é o pulmão da Universidade, aqui se sente o que acontece na sociedade brasileira. O decanato abarca todas essas contradições. Como resposta, recuperamos um trabalho iniciado pela gestão anterior em torno do tema e decidimos criar a Diretoria da Diversidade (DIV).

 

Como é lidar diretamente com as necessidades cotidianas dos alunos?

 

Nesta gestão, definimos nossa filosofia de trabalho junto à comunidade com base em diálogo, em uma boa ausculta. Auscultar é mais que ouvir, é sentir a necessidade de quem conversa conosco. Além disso, imprimimos uma gestão de portas abertas, recebendo o estudante no gabinete. É a partir disso que conseguimos conscientizar a comunidade de que a Universidade é para ela, que na administração não há adversários.

 

Quais foram as realizações mais destacadas da gestão?

 

A criação da Diretoria da Diversidade teve uma repercussão muito boa na comunidade. Aconteceu no momento certo, em que estavam se acirrando algumas dificuldades e uma resposta da gestão se mostrava urgente. Hoje a DIV está se transformando em um centro de referência em acolhimento e orientação de casos dessa natureza. Em termos de vocação do DAC, demos um salto. Temos mais psicólogos, assistentes sociais e pedagogos no quadro efetivo. Começamos com menos de 10 assistentes sociais na DDS para atender todos os campi. Hoje temos 23. Por parte dos estudantes, havia uma série de demandas que precisavam ser atendidas. Considero que atendemos de forma bem concreta as reivindicações dos estudantes naquilo que podíamos fazer. Não temos mais atrasos em pagamentos, exceto por questões financeiras do MEC. Desburocratizamos as folhas de pagamento, diminuindo em até 18 dias sua tramitação, em parceria com o DGP e o DAF. Hoje esse processo leva três ou quatro dias. A mudança de conceito de gestão do Restaurante Universitário foi um ganho muito grande para a comunidade universitária. Nós tínhamos o RU mais fechado que aberto nos anos anteriores, era um sistema de alta gestão, onde a Universidade era responsável tanto por comprar alimentos como pela manutenção do Restaurante. Isso mudou totalmente. Hoje recebemos muitos elogios ao sistema, ao cardápio. Abrimos outras unidades e seguimos padrões de qualidade internacionais. O que temos feito na Casa do Estudante também é uma conquista relevante. Há projetos para que a CEU seja modelo no Brasil, no sentido de que os alunos descubram talentos e potencialidades relacionados às suas formações para trabalhar em prol do coletivo na Casa. Em assistência estudantil temos vários resultados positivos. Enquanto no Brasil, entre estudantes que recebem assistência, temos mais desligados do que titulados, na UnB temos mais titulados do que desligados. Isso é um indicador de sucesso, mas ainda há muito o que fazer em prol do ensino, da pesquisa, da extensão e da promoção da cidadania – que penso ser a vocação do DAC.

 

Como foi trabalhar com restrição de recursos?

 

Os recursos para assistência estudantil na UnB aumentaram bastante com a adesão ao Sisu, em 2013. Com isso, estabelecemos metas para aumentar em 30% a inserção de novos estudantes na assistência estudantil a cada ano, entre 2013 e 2016. Atingimos plenamente. Em relação a outras diretorias, já foi mais difícil, porque são muito amplas. Com as restrições orçamentárias, houve muita negociação para suprir carências. Fizemos tudo com muito sacrifício, com o desafio de não diminuir a programação. No Plano de Desenvolvimento Institucional do DAC, direcionei quase tudo para a Diretoria de Esporte, Arte e Cultura (DEA). O resultado foi satisfatório, não prejudicamos as atividades e ainda saltamos do 4º para o 1º lugar no esporte universitário entre as federais. Isso mostra como o processo criativo de um gestor hoje tem que ser maior do que outrora. Temos que aprender a fazer a gestão na adversidade. Mas todas as diretorias precisam de mais suportes financeiros para continuar crescendo. A realidade atual é de uma previsão orçamentária já limitada, somado ao financeiro que às vezes falha.

 

Em poucas palavras, como definiria seu trabalho?

 

Uma gestão baseada em diálogo, confiança e respeito. Saio do DAC com o sentimento de missão cumprida. Foram processos difíceis, negociações com estudantes, mas o que fica é a sensação coletiva de missão cumprida. Nenhum gestor faz nada sozinho. Vejo um horizonte de crescimento, continuidade e protagonismo para o decanato nos próximos anos.

 

A quais atividades tem se dedicado no momento?

 

Voltei a me dedicar mais ao Departamento de Serviço Social, estou dando aulas no noturno e supervisionando estágios. Estava com saudades de ter mais contato com os estudantes do meu curso. Estou buscando me dedicar com mais vigor às pesquisas. Sou pesquisadora 1B no CNPq e estou ligada a um estudo internacional sobre influências organizacionais nas políticas sobre drogas em âmbito global. Minha saída do DAC foi muito dialogada, pois sei da importância de preservar a amizade e a admiração pelas pessoas que estiveram comigo nas conquistas desta gestão. Agradeço à UnB pela oportunidade de colocar toda a minha experiência à serviço da instituição.