O arquiteto que participou da construção de diversas edificações da Universidade de Brasília e fez história ao se aventurar no campo da fotografia, o professor emérito da UnB Luis Humberto Martins Pereira morreu nesta sexta-feira (12), vítima de um linfoma no sistema nervoso central. Restritos aos familiares e amigos próximos, o velório e o enterro serão realizados no cemitério Campo da Esperança. Luis Humberto deixa esposa, filhos e netos.
A Reitoria lamentou o falecimento em nota de pesar, expressando a contribuição do docente à instituição que ele ajudou a fundar: “Por seu incontornável legado de paixão profissional e dedicação ao ensino, recebeu o título de professor emérito em 2011. Adorava a UnB”.
Amigo de Luis Humberto desde os anos 1960, o professor emérito da UnB José Coutinho acompanhou toda a carreira do arquiteto e fotógrafo. Eles reuniam-se com frequência para tomar café, contar casos e relembrar histórias. Coutinho afirma que em determinada época eles almoçavam juntos no Restaurante Universitário e em função da forma como Luis Humberto contava anedotas, muitas pessoas passaram a disputar os lugares próximos para ouvir o docente e presenciar suas dramatizações.
“Era a mesa mais alegre do restaurante. Esse traço de alegria o caracterizava, e também suas improvisações. Ele era uma figura muito agregadora, todos tinham prazer de estar em volta dele”, afirma. José Coutinho também cita outra qualidade do colega – a de saber conduzir polêmicas, uma vez que tinha posições fortes sobre diversos temas.
O OLHAR PELAS LENTES – “O legado fotográfico dele hoje obscurece o seu legado arquitetônico”, expressa José Coutinho. Mesmo tendo atuado ao lado de grandes nomes da arquitetura, como quando integrou a equipe de Alcides da Rocha Miranda em importantes projetos na UnB, o desvio de percurso – ou nas palavras de Coutinho, o desvio de talento –, de Luis Humberto realmente ganhou notoriedade na fotografia.
Tendo se destacado na cobertura política, acompanhando especialmente os bastidores da capital durante a ditadura militar, passou por diferentes veículos de imprensa. Também demonstrou que a arte da fotografia pode se estender a outras esferas, da flora do Cerrado a paisagens domésticas.
>> Confira a última exposição de Luis Humberto, antecipada na revista Darcy, em 2017
“Suas imagens nos ensinam a apreciar a poesia das coisas inexploradas, uma autêntica poética do banal, visto que para o fotógrafo não existe tema menor e tudo pode ser transformado”, aprecia o professor da Faculdade de Comunicação (FAC), Marcelo Feijó.
Sobre a sua irreverência fotográfica, o jornalista Severino Francisco comenta, em crônica, como a sua postura crítica trouxe inovações com fotos que se aproximam da caricatura e do cartoon. “Enquanto os políticos faziam pose de estátua, ele flagrava o lance revelador da prepotência, do ridículo e da teatralidade bufônica”, reflete.
TRAJETÓRIA – Formado em Arquitetura pela antiga Universidade do Brasil, atual Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o carioca Luis Humberto chegou a Brasília em 1961 e esteve entre os professores que foram demitidos da UnB em consequência do golpe militar.
Luis Humberto foi reintegrado à Universidade na década de 1980, tornando-se professor titular em 1992. Na visão de Feijó, o "estar no mundo" o fez um professor-fotógrafo, ou um fotógrafo-professor. Mas ele também teve experiência como gestor, quando dirigiu a Fundação Cultural do Distrito Federal por indicação da classe artística, em tempos de redemocratização, no governo de José Aparecido. Também foi chefe de Departamento e decano de Extensão na UnB na gestão do reitor Ibanez.
Dentre as obras sobre o artista, destacam-se o livro escrito pela jornalista Nahima Maciel, Luis Humberto - A luz e a fúria, no qual ela traça o perfil do fotógrafo e arquiteto carioca e a publicação Luis Humberto: do lado de fora da minha janela, do lado de dentro da minha porta, organizada por seus discípulos Salomon Cytrinowicz, Pedro Karp Vasquez e Rubens Fernandes Junior.
HOMENAGENS – Quando completou 80 anos, a FAC realizou um evento para celebrar a trajetória do professor emérito, reunindo professores, estudantes, ex-alunos e admiradores. Organizado por Marcelo Feijó, o encontro foi marcado por opiniões, análises e memórias de Luis Humberto.
Em 2018, a mostra A Reforma Possível do Olhar fez parte do pacote de ações do governo para comemorar os 30 anos de inclusão de Brasília na lista de Patrimônio Mundial pela Unesco. Houve intensa mobilização de artistas, fotógrafos e ex-alunos que se indignaram quando souberam que a proposta das fotos de Luis Humberto não havia sido contemplada com recursos do Fundo de Apoio à Cultura. A exposição também estampou as páginas da revista Darcy em 2017.
O curta-metragem documental em sua homenagem, Luis Humberto: O Olhar Possível integrou a programação do 52º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, em 2019; ademais, o fotógrafo foi um dos homenageados na edição seguinte (53º) do festival.
Assista homenagem feita pela UnBTV:
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