ALIMENTAÇÃO

Plataforma Mangút foi idealizada por estudantes da UnB em apenas cinco dias. Página já está disponível para consumidores e produtores

Com o projeto, produção orgânica local ganhou um canal de comercialização on-line. Imagem: Reprodução

 

Muitos setores produtivos do Distrito Federal sofreram impactos negativos diante da pandemia da covid-19. Parte deste segmento, os produtores de orgânicos passaram a acumular prejuízos e perdas em sua produção, já que têm encontrado dificuldades de escoá-la em seus principais espaços de comercialização, como as feiras. É nesse contexto que um grupo de alunos da Universidade de Brasília usou a criatividade e o conhecimento para movimentar a cadeia produtiva de orgânicos por meio de um site na internet, o Mangút.

 

O que seria inicialmente um aplicativo tornou-se um site responsivo, que funciona de forma otimizada em plataformas distintas, como computadores e celulares. A página promove a interação entre produtores e consumidores para fazer girar a economia por meio da tecnologia.

 

>> Acesse a plataforma Mangút

 

Coordenado pelo professor Sanderson Barbalho, do Departamento de Engenharia de Produção da Faculdade de Tecnologia (FT), o projeto foi desenvolvido em tempo recorde: apenas cinco dias. O que garantiu que, rapidamente, a situação econômica dos produtores começasse a tomar outro rumo. Os integrantes da iniciativa cumpriram um cronograma apertado para alcançar o resultado social o mais rápido possível.

 

O nome do site, Mangút, é inspirado em palavra da etnia indígena Krenak utilizada em referência à comida e ao ato de comer. “O portal Mangút busca resgatar a importância do alimento plantado na terra e colhido com as mãos, livre de agrotóxicos e cultivado por quem conhece e cuida da terra. Ou seja, da comida, no sentido mais tradicional do termo. Mangút é um nome ancestral que representa o que os povos originais do Brasil compreendiam por alimentação, o que vem sendo resgatado pela prática da agricultura orgânica e agroflorestal”, explica Sanderson.

Coordenador do projeto, o professor Sanderson Barbalho destaca que a iniciativa beneficia produtores de orgânicos prejudicados por conta da pandemia da covid-19. Foto: Arquivo pessoal

 

A plataforma permite apenas a comercialização de alimentos orgânicos, por isso reacende a discussão sobre alimentação saudável e livre de toxinas provenientes da agricultura convencional. A alimentação orgânica e agroecológica possibilita, indiretamente, o estabelecimento de um ciclo virtuoso, no qual produtores podem sustentar suas famílias com a renda desses produtos, além de fomentar o mercado local de alimentos plantados próximos de quem os consome.

 

“Nesse sentido, o portal Mangút é uma plataforma que conecta produtores e consumidores de produtos orgânicos e agroecológicos na mesma região, facilitando a comercialização e incentivando seu consumo”, completa o professor da FT.

 

Para o consumidor, os benefícios são incontáveis, e já começam na saúde e no equilíbrio proveniente do consumo de produtos mais frescos, de qualidade e sustentáveis. Para o produtor, a venda pela plataforma vai permitir alcançar o público que não tem conseguido ir às feiras por conta da pandemia. 

 

IDEALIZAÇÃO – O projeto começou a ser esboçado por estudantes do curso de Engenharia de Produção da UnB e pelos professores Sanderson Barbalho e Iracema Moura (também do Departamento de Engenharia de Produção da FT), da disciplina Sistemas Agroalimentares. 

 

A proposta foi pensada em conjunto com a Articulação do Ecossistema de Orgânicos e Produtos Agroflorestais do DF e Região Integrada de Desenvolvimento (Ride), a qual envolve Embrapa Cerrados, Central do Cerrado, Instituto Invento, Instituto Federal de Brasília (IFB) e outros parceiros. Na UnB, o grupo está articulado com o Núcleo de Estudos Agroecológicos (NEA), vinculado à Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária (FAV), ao Centro de Desenvolvimento Sustentável (CDS) e à Faculdade de Tecnologia (FT).

 

Marcos Vinicius Miranda, graduando do quinto período em Engenharia de Produção, foi responsável por coordenar a equipe. Ele compartilhou como foi a experiência de produzir um sistema funcional tão rapidamente: “O Mangút estar funcional nesse período foi muito gratificante, e a experiência voluntária foi bastante construtiva, com uma equipe bastante dedicada ao desenvolvimento e manutenção do projeto". 

 

Além de estudantes de Engenharia de Produção, o projeto reuniu alunos de diversos cursos, o que permitiu uma análise mais aprofundada das necessidades dos produtores para viabilizar a plataforma.

Plataforma dá maior visibilidade aos produtores de orgânicos e facilita o escoamento de sua produção. Foto: Pixabay

 

Com a integração de diferentes conhecimentos, foi possível, por exemplo, reduzir o caminho percorrido pelo alimento e o contato direto com intermediários, o que pode diminuir as chances de contaminação dos alimentos pelo novo coronavírus.

 

Juan Enrique de Araújo Batista, pós-graduando em Geociências Aplicadas e Geodinâmica, é um dos participantes. O estudante avalia que o Mangút ainda não atingiu toda a sua capacidade, mas com maior adesão à plataforma será possível, aos poucos, transformar o contato do produtor com o consumidor, eliminando atravessadores e facilitando a visibilidade dos produtos.

 

A estudante do sexto semestre de Engenharia de Produção Gabriela Viana acrescenta que “ajudar a construir um mercado de produtos orgânicos/agroecológicos auxilia tanto os fornecedores, com o escoamento da produção e liberdade de localização, como os clientes, com mapeamento e disposição geográfica de fácil acesso dos produtos, além de estimular o consumo de alimentos mais saudáveis”.

  

Para Lauana Vieira dos Santos, engenheira florestal e pesquisadora no Núcleo de Estudos em Agroecologia da UnB, os produtos comprados em supermercados têm uma cadeia muito longa de produção e o Mangút permite encurtá-la, além de aproximar produtores e consumidores, em uma relação de reciprocidade e valorização.

 

Os idealizadores do projeto também mencionam outros benefícios para os agricultores. “A importância social do site é tornar visível os tipos de produção orgânica e agroecológica, produtos que muitas vezes têm dificuldades de inserção em mercados comuns”, destaca Icaro Sousa Abreu, graduando em Ciências Ambientais.

 

NAVEGAÇÃO – Pelo site, os usuários poderão filtrar a localização dos pontos de venda, verificar a disponibilidade dos produtos orgânicos na região e entrar em contato com o vendedor. A plataforma é intuitiva tanto para o consumidor quanto para o produtor. O sistema é alimentado com as informações fornecidas pelos próprios produtores após o cadastro, que pode ser feito de forma rápida por smartphone ou computador.

 

O produtor também deve comprovar que seu produto de fato é orgânico via certificado, assistência técnica ou outro meio. Após o cadastro e aprovação, ele poderá atualizar diariamente a disponibilidade de seus produtos e capacidade de fornecimento. É possível encontrar o passo a passo para a inscrição no próprio site.

 

Toda a operação na plataforma é gratuita para o produtor de orgânicos, já que o atual formato do projeto é financiado pelo grupo Silo - Arte e Latitude Rural. Trata-se de uma organização da sociedade civil que se dedica a acolher e promover projetos culturais em zonas rurais. 

 

A iniciativa da UnB foi contemplada em um edital do Silo, no âmbito do Laboratório de Emergência Covid-19 Reconfigurando o Futuro, que apoiou projetos voltados para a redução dos impactos causados pelo Sars-CoV2 no meio urbano e rural. O Mangút foi um dos 16 projetos selecionados entre as 98 propostas submetidas. Houve a colaboração de voluntários em diversas áreas, como engenharias, letras e comunicação.

 

De acordo com o professor Sanderson Barbalho, além de no Distrito Federal, o Mangút está sendo implementado em Manaus e há a intenção de direcioná-lo, conforme a demanda de cada região, para outras cidades do Brasil.

 

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