VIGILÂNCIA EM SAÚDE

Em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz, uma plataforma cooperativa também passou a auxiliar a tomada de decisões relativas ao enfrentamento da covid-19

A Sala de Situação da UnB foi criada em 2017 e ganhou força com a pandemia do novo coronavírus. Imagem: Sala de Situação/UnB

 

Criada em 2017, a partir de um projeto de extensão da Faculdade de Ciências da Saúde (FS), a Sala de Situação da Universidade de Brasília tem o objetivo de apoiar o monitoramento, a análise e a definição de ações em saúde junto a estudantes e gestores da área na tomada de decisão.

 

O espaço tem ainda a missão de dar suporte pedagógico e tecnológico para ensino, pesquisa e extensão que permita melhor caracterização e interação entre diferentes atores institucionais e a realidade epidemiológica e tecnológica do Sistema Único de Saúde (SUS).

 

Em três anos de funcionamento, a iniciativa firmou-se no âmbito da Universidade de Brasília, atuou em diversas frentes no Distrito Federal e, com resultados significativos, neste ano – em pleno período de isolamento social para combate à pandemia do novo coronavírus – fez também uma parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Brasília, quando lançaram conjuntamente a Plataforma de Inteligência Cooperativa com Atenção Primária à Saúde para o enfrentamento da covid-19 nos territórios (Picaps).

 

>> UnB e Fiocruz lançam plataforma de inteligência para enfrentamento da pandemia do novo coronavírus

 

Ao reunir esforços de aproximadamente 300 pessoas das duas instituições – entre docentes, técnicos, pesquisadores, estudantes e residentes –, a Picaps atua para fornecer o acesso de informações de inteligência para os profissionais de saúde que atuam na atenção primária, com base em dados sobre o fluxo de pessoas e dos grupos mais vulneráveis à covid-19.

Reitora Márcia Abrahão, durante lançamento da plataforma cooperativa que reúne UnB e Fiocruz Brasília. Foto: Nathália Gameiro/Fiocruz

 

“Agora esses dois atores juntos têm o potencial de conseguir trazer uma velocidade maior entre o que é coleta de dados lá na ponta [na unidade de saúde, na comunidade, na mobilização e no estímulo às lideranças locais] e integrar isso com tecnologias robustas de análise de dados e de vigilância para o enfrentamento da covid-19", afirma o professor Jonas Brant, da Faculdade de Saúde, coordenador da Sala de Situação e um dos responsáveis pela iniciativa Picaps.

 

Para ele, trata-se de uma situação ganha-ganha: "uma equipe que trabalha mais na ponta, no campo, e uma que trabalha mais na inteligência dos dados para a tomada de decisão. É aí que essas duas instituições ganham força”, destaca. 

 

Segundo o docente, a Fiocruz tem um importante projeto de residências multiprofissionais – são cerca de 200 residentes trabalhando em terreno, com forte atuação voltada para a escala local – e outro para o desenvolvimento de tecnologias de suporte a decisões e resposta a emergência, para o qual recentemente captaram recursos da Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAP-DF). E a Sala de Situação da UnB tem um projeto grande de suporte a territórios, mais voltado para Regiões de Saúde do DF, Regiões Administrativas e municípios vizinhos.

 

“Esse tem sido o design que temos construído para dar suporte aos territórios, seja com ações de estímulo às lideranças locais para o enfrentamento de epidemia lá nas comunidades, seja com análise de dados e modelagem para poder prever os rumos da epidemia”, explica Brant, que é epidemiologista.

 

A plataforma de inteligência cooperativa tem trabalhado com ênfase na gestão de projetos e estratégias, inclusive para coordenar crises, e com uso de tecnologias de informação e comunicação para dar o apoio necessário.

 

Os pilares que regem a parceria no momento são quatro: o de construção de cenários – a modelagem analisa o presente e tenta predizer o futuro da epidemia; o de vigilância em saúde, que usa os dados das predições e das tecnologias para entender o que está acontecendo e propõe como organizar melhor o processo de vigilância, que ações podem ser desencadeadas e ajuda a definir os métodos para que elas possam ocorrer; o de revisão do conhecimento, que busca informações na literatura a partir de demandas como as de municípios e territórios, por exemplo; e, por fim, o de tradução do conhecimento, que visa adequar esse material construído por todas as outras áreas para que possa chegar de forma mais palatável para o público-alvo em um suporte direto de atendimento.

Professor do Departamento de Saúde Coletiva da UnB, Jonas Brant coordena a Sala de Situação e é um dos responsáveis pela iniciativa Picaps. Foto: Luis Gustavo Prado/Secom UnB

 

“A Picaps traz a possibilidade da construção de um arcabouço de colaboração, então ganhamos mais velocidade nas ações conjuntas, mas segue cada órgão com sua individualidade. Esse é o grande fator positivo desse espaço formal de colaboração interinstitucional”, avalia Brant, ao lembrar que ambas as instituições mantêm suas rotinas e seus compromissos assumidos anteriormente à pandemia.

 

“O que fazemos, ao integrar a Picaps, é construir um espaço de integração para que as ações que estão sendo feitas pela Fiocruz não sejam repetidas pela Sala de Situação. Assim, podemos alinhá-las e de forma que um grupo possa fortalecer o outro", descreve.

 

Por exemplo: a Sala de Situação trabalha com ênfase a questão do geoprocessamento e a equipe da Fiocruz dedica-se em especial ao mapeamento local. Assim, a possibilidade de integração desses dados gera potencial para algumas análises mais complexas, como pontua Brant.

 

APOIO – Em abril, o Ministério da Educação liberou recursos para o enfrentamento da pandemia do novo coronavírus. Foram R$ 6,5 milhões, dos quais, R$ 500 mil se direcionaram à Sala de Situação e à iniciativa da Plataforma de Inteligência Cooperativa com Atenção Primária à Saúde para o enfrentamento da covid-19 nos territórios (Picaps).

 

O aporte permitiu a parceria com a Fiocruz Brasília (Picaps) e a realocação da Sala da UnB, que deixou as estruturas da Faculdade de Ciências da Saúde e passou para um novo espaço no prédio anteriormente ocupado pela Autotrac, no campus Darcy Ribeiro.

Integrantes da iniciativa Picaps no novo espaço da Sala de Situação. Foto: Nathália Gameiro/Fiocruz

 

“Estamos construindo os planos de trabalho, que iniciam efetivamente a partir da semana que vem, e começamos a dar escala para um trabalho que já vem sendo feito nas últimas semanas, que é o suporte a territórios", explica o professor Jonas Brant.

 

"Já temos um trabalho bem organizado com a Região Oeste do DF, apoiando eles na construção de modelos de como predizer o comportamento da epidemia [do novo coronavírus]. Então, parte das discussões que subsidiaram a região no debate desse lockdown da Ceilândia partiram desses modelos”, exemplifica.

 

Brant refere-se à decisão do governador do Distrito Federal de retomar o fechamento de shoppings centers e parques em Ceilândia, Sol Nascente e Estrutural por 72 horas, de segunda (8) a quarta-feira (10).

 

Para se ter uma ideia, de acordo com o Relatório da Situação da covid-19 no Distrito Federal, mantido pela parceria com a Picaps, os casos confirmados da doença em Ceilândia passaram de 128, em 11 de maio, para 2.610 exatamente um mês depois. A incidência, que era de 29 casos para cada cem mil habitantes, saltou para 588 no mesmo período.

 

Segundo o assessor de Planejamento em Saúde da Região Oeste Francino Azevedo, a equipe da Universidade de Brasília tem dado apoio significativo no enfrentamento ao novo coronavírus.

 

“A Sala de Situação da UnB tem nos apoiado muito no processo de acompanhamento da pandemia de covid-19. A equipe tem atuado com o geoprocessamento dos casos e também nas projeções matemáticas de curva de contaminação. Na nossa região de saúde, eles auxiliam a tomada de decisão para onde direcionar a força de trabalho. Auxiliam ainda no processo de análise diário da situação da infecção. Essas informações apoiam a gestão local no processo de escolha das melhores estratégias no enfrentamento da pandemia”, informa Azevedo.

 

DENGUE – Apesar de o foco hoje em dia, no mundo, ser o combate ao novo coronavírus, a Sala de Situação também trabalha em outras frentes, como o enfrentamento da dengue na Região Leste, que engloba Paranoá, São Sebastião, Jardim Botânico.

 

“Na Região Leste conseguimos formalizar uma Sala de Situação, além de uma melhor integração dos processos, principalmente no ano passado, para o enfrentamento da dengue. A região foi uma das que melhor conseguiu acompanhar a dinâmica da epidemia para poder direcionar as ações de enfrentamento. Foi um dos grandes resultados que tivemos com a Sala de Situação da UnB”, lembra o professor epidemiologista Jonas Brant.

 

“Dengue é uma epidemia em paralelo e ela tem ganhado fôlego, de certa forma, por estarmos olhando muito a covid-19. Então, temos trabalhado com eles para ajudar na resposta à dengue neste cenário, que também é muito complicado”, comenta o docente.

 

Segundo ele, a equipe da Universidade de Brasília já prevê que em 2021 haverá outros cenários difíceis para acompanhar e resolver: doenças de arboviroses, como tuberculose, sífilis, dengue, chikungunya voltarão a preocupar e trazer desafios para o Estado brasileiro. Por isso, é importante ter a Sala de Situação sempre ativa e com monitoramento constante.

 

SALA ESTRATÉGICA – “Um espaço como este permite que estejamos monitorando uma série de eventos para poder antever uma situação que possa ocorrer lá na frente. No início de janeiro, por exemplo, quando a China notificou esse evento da covid-19, nossa equipe da Sala já se ativou e já começou a construir o Plano de Contingência para o Enfrentamento da Covid na UnB. Conseguimos criar um comitê para isso (Coes), e conseguimos ativar o processo muito mais rápido. O monitoramento da situação nos permite ter inteligência para nos preparar”, assegura Jonas Brant.

Painéis alimentados diariamente pela Sala de Situação, no âmbito da iniciativa Picaps, subsidiam decisões de gestores em saúde. Imagem: Sala de Situação/UnB

 

O epidemiologista acredita que a criação da Sala de Situação três anos atrás foi uma visão estratégica da Faculdade de Ciências da Saúde, e hoje está mais forte e mais diversificada também.

 

“Com o cenário da crise, criamos uma disciplina de extensão e conseguimos envolver um grande número de alunos não só da FS. Ganhamos fôlego para enfrentar esse desafio do novo coronavírus: a Dasu [Diretoria de Atenção à Saúde da Comunidade Universitária], a STI [Secretaria de Tecnologia da Informação] e outras áreas da UnB também cederam funcionários para que pudéssemos ganhar musculatura para esse momento. A Sala de Situação é espaço constante, mas que cresce num momento de crise como este”, conta Brant.

 

Atualmente, estudantes também dos cursos de Enfermagem, Saúde Coletiva, Farmácia, Ciência da Informação, Engenharia de Software, Nutrição, Relações Internacionais e Comunicação atuam na Sala de Situação da UnB.

 

“É importante que a Universidade não só olhe para dentro para poder responder aos seus problemas, mas também crie essa capacidade de ensinar metodologias como as de sala de crise, de sistemas de comando e operação, de salas de situação de modo geral. É uma cultura de planejamento que temos pouco ainda no Brasil. É importante que apoiemos a estruturação dessas ferramentas para todos os níveis e precisamos que todas as instituições estejam integradas. A ideia é que consigamos responder a crises de maneira coordenada”, arremata o coordenador da Sala de Situação, Jonas Brant.

 

Leia mais:

>> UnB cria fundo para doações de combate à covid-19

>> UnB lança edital de fluxo contínuo para projetos voltados ao combate da Covid-19

>> Maratona de Inovação para retomada de atividades dará prêmios de até R$ 2 mil

>> Estudo analisa a qualidade de vida de pessoas recuperadas de Covid-19

>> Pesquisa lança a luz sobre a relação da Covid-19 com os diversos climas encontrados no Brasil

>> Engajamento em app de saúde pode conceder quatro créditos a estudantes da graduação

>> Pesquisa da UnB mapeia manifestações neurológicas associadas ao Sars-CoV2

>> Glossário apresenta definições de termos relacionados à Covid-19

>> Pesquisa para planejar retomada do calendário acadêmico da UnB está no ar

>> UnB oferece assistência a pais da comunidade universitária durante isolamento social

>> Organizar o tráfego de pedestre pode reduzir o risco de contaminação durante a pandemia

>> Pesquisa com plasma sanguíneo de pacientes curados pode mudar cenário da Covid-19

>> UnB mantém, em modo remoto, atividades administrativas, pesquisas e iniciativas de extensão  

ATENÇÃO – As informações, as fotos e os textos podem ser usados e reproduzidos, integral ou parcialmente, desde que a fonte seja devidamente citada e que não haja alteração de sentido em seus conteúdos. Crédito para textos: nome do repórter/Secom UnB ou Secom UnB. Crédito para fotos: nome do fotógrafo/Secom UnB.