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No Seminário Antártica 2048, especialistas debatem estratégias para fortalecer a presença do Brasil no continente. Revista Darcy foi distribuída aos participantes

 


Ao lado de militares, reitora Márcia Abrahão falou ao público sobre a presença da Universidade de Brasília na Antártica. Foto: Luis Gustavo Prado/Secom UnB

 

Discutir a influência do Brasil na ciência e no futuro da Antártica foi o cerne do Seminário Antártica 2048, que aconteceu nesta quinta-feira (16), no Palácio do Planalto. Realizado com apoio da Universidade de Brasília, o evento reuniu docentes, pesquisadores e representantes do setor público.

Palestrante nos painéis Ciência e formas de expandir a esfera de influência do Brasil na Antártica, o docente Paulo Câmara explicou o objetivo do seminário. “Muitos desconhecem a importância da pesquisa antártica e até mesmo da região. Não sabem que a atividade científica é condição obrigatória para se manter como membro consultivo do Tratado Antártico, o que nos dá direito a voto sobre o futuro desta porção do globo”, esclarece o coordenador das pesquisas da UnB na Antártica.

O docente também abordou aspectos geopolíticos: “Existe uma zona de possível conflito no território antártico, onde há reclames territoriais de argentinos, britânicos e chilenos. Nossa base está lá. Essa é uma informação que interessa não só aos cientistas, mas aos brasileiros de maneira geral, já que, no futuro, isso pode gerar disputas”, destacou Câmara.

A informação diz respeito às reivindicações territoriais que atualmente estão suspensas pelo Tratado Antártico, uma vez que este acordo destinou a região apenas para fins pacíficos. Tais pretensões podem ser revistas futuramente, desde que haja consenso entre os países signatários do tratado.

Também palestrante no encontro, Jefferson Simões, vice-presidente do Comitê Científico sobre Pesquisa Antártica (órgão internacional que rege as atividades científicas antárticas), alerta que, “hoje, o Brasil investe menos na ciência antártica do que países com economias e Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) inferiores, como a África do Sul”.

Vice-presidente do Comitê Científico sobre Pesquisa Antártica, Jefferson Simões, e professor Paulo Câmara: engajados pelo futuro da ciência brasileira no continente gelado. Foto: Luis Gustavo Prado/Secom UnB

 

Para ele, a falta de investimento não é apenas um problema financeiro, mas uma questão de gestão. “O Brasil não está dando a devida atenção para o continente antártico. Apesar de liderarmos estas pesquisas na América Latina, nossos programas têm tido uma série de dificuldades para continuar seus trabalhos”, apontou Simões, sobre os cortes de verba que atingem a ciência brasileira.

PROTAGONISMO Representando a UnB na abertura do seminário, a reitora Márcia Abrahão destacou que a instituição é a única do país a realizar pesquisas com vegetação antártica do ponto de vista filogenético – que trata do estudo da relação evolutiva entre grupos de organismos.

“O material coletado na Antártica é trazido para o Herbário da UnB, o que gera um enorme potencial de estudo para nossos alunos e para pesquisadores de todo o mundo”, ressaltou a reitora sobre a coleção de musgos antárticos mantida pela Universidade, a maior da América Latina.

A reitora anunciou a distribuição de exemplares da edição nº 19 da revista Darcy a todos os participantes do seminário. A publicação traz um dossiê sobre a presença brasileira na Antártica, com destaque para a pesquisa protagonizada pela Universidade de Brasília. 

 

O Seminário Antártica 2048  foi realizado em parceria entre a Escola Superior de Guerra (ESG), a Marinha do Brasil, a Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (CIRM) e a Universidade de Brasília. 


CIÊNCIA Desde 2014, estudantes de graduação, mestrado, doutorado da UnB participam anualmente das expedições do Programa Antártico Brasileiro. Sob a coordenação de Paulo Câmara, professor do Instituto de Ciências Biológicas (IB), estes pesquisadores estudam a vegetação antártica, com foco em espécies de briófitas e líquens chamados de bipolares, pois, supostamente, ocorrem nas regiões polares sul e norte.

No período, os estudiosos coletaram cerca de quatro mil amostras de briófitas antárticas. O projeto também relaciona-se com a internacionalização da UnB, por ser realizado em parceria com cientistas da Argentina, Chile, Espanha, Estados Unidos e Holanda. Por meio do Programa de Pós-Graduação em Botânica do IB, o projeto já formou mestres e doutores especializados em vegetação antártica.

 

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