INCLUSÃO

Desenvolvido por alunos de licenciatura em Computação, software Expressar complementa trabalho pedagógico em escolas públicas do Distrito Federal

Foto: Júlio Minasi/UnB Agência

 

O software educacional Expressar é o mais novo produto do Projeto Participar, atividade desenvolvida no Departamento de Ciência da Computação (CIC) da UnB. A ferramenta de apoio pedagógico trabalha expressões faciais em estudantes autistas clássicos, categoria com maior nível de comprometimento e que requer trabalho educacional específico.

 

A tecnologia é resultado do trabalho de conclusão do curso de licenciatura em Computação dos estudantes Diego André Santos e Wellington Sousa. O download é gratuito e está disponível apenas para tablets com sistema computacional Android.

 

O Expressar apresenta fisionomias de sorriso, choro, raiva e medo. São utilizados vídeos de atores e fotografias reais, contemplando uma diversidade de rostos de pessoas de várias idades e etnias. O objetivo é que o usuário autista possa reconhecer tais expressões nos ambientes que frequenta.

 

"Quando o autista vê alguém sorrindo, pode identificar que é um momento de prazer e satisfação e, inclusive, imitar a pessoa. De alguma forma, esse processo pode incluí-lo na sociedade, porque a criança ou o jovem compreende as expressões e tem suas primeiras interações", explica Mara Rúbia Martins, professora da rede pública de ensino do Distrito Federal e especialista em autismo, que testou o programa.

 

Crianças, jovens e adultos de escolas públicas regulares e especiais do Distrito Federal usaram o software. Por meio de relatórios e questionários, o Expressar foi bem avaliado pelos professores que participaram dos testes.

 

A ferramenta contempla o conteúdo do currículo funcional do MEC para educação especial e visa complementar as atividades que o aluno faz na sala de aula. Segundo Mara Rúbia, a inclusão dos tablets no trabalho pedagógico é também uma motivação a mais aos estudantes.

O Expressar é uma ferramenta de inclusão, destaca a professora Mara Rúbia. Foto: Júlio Minasi/UnB Agência

 

Não há pré-requisito ou idade definida para a utilização do programa, porém, a orientação é que a atividade seja mediada por profissionais da área de educação. "Cabe ao professor planejar e organizar o trabalho, além de acompanhar o desempenho do aluno", avalia Mara Rúbia.

 

Professor do CIC e coordenador do Projeto Participar, Wilson Henrique Veneziano comemora a experiência positiva com a tecnologia, entretanto, alerta para o descaso com o tema no país. "No Brasil, as empresas comerciais desenvolvedoras de softwares não veem as pessoas com deficiência como um mercado importante. É imprescindível que o Estado brasileiro estimule mais as instituições de ensino e de pesquisa nessa área", diz.

 

CRIAÇÃO – O Expressar foi desenvolvido pelos estudantes Diego André Santos e Wellington Sousa em pouco mais de um ano, orientados pelo professor Wilson Veneziano, com o acompanhamento de docentes da rede pública, especialistas em autismo.

 

A dupla possuía, até então, pouco conhecimento sobre o público autista. "O maior desafio foi se colocar na posição da pessoa com autismo", explica Wellington.

 

Ambos destacam a experiência enriquecedora proporcionada pelo trabalho para suas formações e a importância de se desenvolver um produto que terá aplicação prática e que ajudará inúmeras pessoas. "Foi um aprendizado muito bom, porque ao mesmo tempo que colocamos em prática os conhecimentos acadêmicos, aprendemos muito sobre essas pessoas, suas realidades, como se relacionam e suas limitações. É um projeto que vai melhorar a vida de muita gente", diz Diego.

Wellington Sousa e Diego André Santos, criadores do software

 

A ferramenta foi desenvolvida em parceria com a UnBTV por meio da produção de vídeos utilizados no programa e com professores de escolas públicas do DF, que contribuíram com especificações e testes da ferramenta. O projeto de desenvolvimento do Expressar recebeu apoio de bolsas de estudo do Programa Pibid da Capes e está no âmbito do Núcleo de Tecnologia Assistiva, Acessibilidade e Inovação da UnB.

 

PROJETO PARTICIPAR – Criada há cinco anos, a iniciativa é reconhecida por desenvolver tecnologias inéditas no Brasil, que visam colaborar com o trabalho didático e pedagógico de conteúdos voltados para jovens e adultos com deficiência intelectual e autismo. Alguns exemplos são os softwares Participar, voltado para alfabetização, e o Somar, sobre aplicabilidade social da matemática. Existe também uma ferramenta que trabalha gestos sociais para autistas clássicos, o Aproximar.

 

Segundo Wilson Veneziano, esses programas são utilizados por milhares de escolas públicas brasileiras, pela rede Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) e por escolas de Portugal e Angola. Até o fim do semestre, a previsão é que sejam lançados outros três programas educacionais.

 

ATENÇÃO O conteúdo dos artigos é de responsabilidade do autor e expressa sua visão sobre assuntos atuais. Os textos podem ser reproduzidos em qualquer tipo de mídia desde que sejam citados os créditos do autor. Edições ou alterações só podem ser feitas com autorização do autor.