OPINIÃO

Claudete Ruas é professora aposentada do Departamento de Estatística da Universidade de Brasília. Experiência em Probabilidade e Estatística, ênfase em Estatística Aplicada e Demografia. E em análise de dados e pesquisa com surveys na avaliação de políticas públicas.

Claudete Ruas

 

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE, apresentou os primeiros resultados do Censo Demográfico 2022 divulgando o total da população residente e o número de domicílios nos 5570 municípios brasileiros. Resultados muito aguardados, previstos inicialmente para serem obtidos em 2020. As restrições no período da pandemia e a falta de recursos necessários inviabilizaram por dois anos a realização do Censo 2022.

 

A referência da data do Censo é a população residente na data de primeiro de agosto de 2022, com tempo previsto igual a três meses para o recenseamento junto à população nos domicílios. No entanto, devido a diferentes fatores a coleta foi estendida por dez meses, encerrando-se em maio de 2023. Muitas dificuldades ocorreram no levantamento dos dados nesse período, como o movimento para a realização de eleições no país, a falta de recursos necessários para a realização do censo planejado, a falta de divulgação adequada à importância de atender aos recenseadores, fatores estes que contribuíram para a dificuldade de contratação e permanência de recenseadores nas atividades prejudicando o andamento da coleta. Outros fatores, conhecidos em outros levantamentos, foram referentes às dificuldades de acesso a locais de alta densidade demográfica e difícil acesso como às áreas de favelas (que contou neste Censo com um programa específico), acesso aos domicílios com um único morador que precisa de horário marcado para ser encontrado e a grande dificuldade para acessar residências de população de maior renda, geralmente em condomínios e edifícios. Problemas conhecidos e que, agravados neste Censo, exigiram mais esforços para sua resolução.

 

No entanto, é importante destacar que o IBGE tem um trabalho técnico bastante consolidado ao longo de seus mais de 88 anos de funcionamento. A metodologia e execução dos censos demográficos decenais têm sido constantemente aperfeiçoadas e seguem as recomendações definidas pela Divisão de Estatística das Nações Unidas estabelecidas nos Princípios Fundamentais das Estatísticas Oficiais. O Censo 2022 trouxe inovações tecnológicas e metodológicas em várias etapas de planejamento e execução.

 

Dentro deste contexto, todos os cuidados com a qualidade do levantamento e dos resultados continuaram sendo primordiais para a divulgação dos dados. Os primeiros resultados do Censo 2022 também foram apresentados e analisados por especialistas da área. Indicadores da qualidade da cobertura da população estão sendo estudados e os próximos dos muitos resultados que serão entregues permitirão ajustes finos, se necessários. Com essa fundamentação foram divulgados os 203.062.512 habitantes residentes em 90 milhões de domicílios no Brasil e sua distribuição no território. Um novo retrato do Brasil, importante para a definição de políticas públicas e tomadas de decisão para investimentos públicos ou privados, nas mais diversas áreas, como saúde, educação, habitação, emprego entre outras. Que esse retrato do país contribua para que políticas e decisões atentas às necessidades da população sejam efetivadas rapidamente, enfrentando os desafios atuais.

 

A Contagem da População em 2015, meio da década, pesquisa importante para balizar corretamente as estimativas de população ao longo da uma década não ocorreu por falta de recursos. É vital que a Contagem da População em 2025 seja viabilizada. O respeito aos técnicos e a valorização do trabalho do IBGE em sua missão essencial para conhecermos o Brasil deve ser garantida sob pena de não contarmos com a elevada qualidade do Censo Demográfico e tantos outros levantamentos e pesquisas realizados pelo IBGE.

ATENÇÃO – O conteúdo dos artigos é de responsabilidade do autor, expressa sua opinião sobre assuntos atuais e não representa a visão da Universidade de Brasília. As informações, as fotos e os textos podem ser usados e reproduzidos, integral ou parcialmente, desde que a fonte seja devidamente citada e que não haja alteração de sentido em seu conteúdo.