OPINIÃO

 

 

Juliana Dias é professora da Universidade de Brasília. É fundadora e coordenadora do grupo de pesquisa Educação Crítica e Autoria Criativa (GECRIA-UnB/CNPq). Orienta no Programa de Pós-Graduação em Linguística da UnB pesquisas, na área da Análise de Discurso Crítica. 

Nubiã Tupinambá é mestra em Linguística pela Universidade de Brasília. Defendeu, em 2017, a dissertação Identidades, vozes e presenças indígenas na Universidade de Brasília sob a ótica da Análise de Discurso Crítica. Em 2023, defendeu seu doutorado em meio a uma celebração na Maloca com a pesquisa: Práticas discursivas e sociais da presença indígena na Universidade de Brasília: construindo caminhos para a permanência e troca de saberes sob o foco a Análise de Discurso crítica.

 

Juliana Dias e Nubiã Tupinambá

 

Em 13 de fevereiro, aconteceu a defesa de doutorado da aluna indígena do Programa de Pós-Graduação em Linguística (PPGL/UnB), Nubiã Tupinambá. Sob orientação da professora Juliana de Freitas Dias, na área de Análise de Discurso Crítica, Nubiã investigou os processos sociais e discursivos que marcam a presença de estudantes indígenas na Universidade de Brasília nos últimos cinco anos.


Para uma pesquisa pautada no chão da decolonialidade e da resistência transgressiva, uma defesa decolonial: uma defesa ritual aconteceu no espaço da Maloca, junto a colegas indígenas e não indígenas, junto a parentes, junto à presença ancestral de Dona Maria Vitória Tupinambá, junto ao maracá, ao cocar, ao urucum. Celebramos com as professoras Altaci Rubim (LIP/UnB), Ana Tereza Reis (FE/UnB), Teresinha Marcis (UESC), Mara Luíza Coroa (PPGL/UnB) e com o professor Atauan Soares (IFBA) como participantes da banca de avaliação, ou seria como participantes quase parentes, engajados na luta dos acadêmicos indígenas?


Em sua pesquisa, Nubiã traz não só análises críticas do contexto desafiador vivenciado cotidianamente pelos parentes na UnB, como nos presenteia com muitos caminhos por meio de sua ‘embarcação-tese’ que abre rotas, trajetórias, de forma dialogada, inclusiva e autoetnográfica. Sua tese abre uma fresta de luz do sol dos Tupinambás na troca de saberes, nas políticas de permanência, na interculturalidade crítica. Nubiã abraça posturas reflexivas e decoloniais, no propósito de ter o alicerce na construção do diálogo, da interação e da resistência para existência do ser diferenciado, ser ‘sentipensante’. A doutora traça o panorama dos trabalhos feitos por estudante indígenas nos últimos 5 anos, nas mais diversas áreas e cursos da UnB. São inúmeros TCCs, dissertações e algumas teses escritas por indígenas acadêmicos. Qual o significado do trabalho feito para aldeia? Que tipo de retorno/interação os estudantes receberam do professor e dos seus colegas não indígenas na apresentação/avaliação deste trabalho?


Como resultados, destacamos movimentos de transformação discursiva e social, nas práticas reflexivas e acionais de diversos sujeitos da universidade: estudantes indígenas, estudantes não indígenas, docentes e comunidade em geral. Desejamos e vamos trabalhar para esta pesquisa alcançar a equipe gestora da nossa universidade. Ao investigar conflitos identitários relativos à esfera de poder, às diferenças e exclusões, Nubiã compreendeu e partilhou conosco como essas tensões e crises são construídas na via discursiva e como podem ser superadas; analisou as implicações e relações dos discursos com as práticas sociais e, principalmente, contribuiu para este debate em termos de mudança da realidade social. A pesquisadora evidenciou, por fim, em sua pesquisa qualitativa de base (auto)etnográfica crítica transgressiva, que a interação que se dá no processo de construção de troca de saberes, de modos de ser e de novas formas de poder que se vive no percurso.


Eis uma amostra de sua introdução:


O BARRO


Eita! Barrou!


Não esperava que uma palavra pudesse fazer em mim muitas transformações. Na verdade, não se trata de uma palavra simplesmente, substantivo simples. Ela representa uma ruptura, um recomeço, uma descoberta e um envolvimento ancestral, especialmente quando sei que nele, no barro, ou nela, na palavra, se traduz nossa composição materializada.

Obs: Nubiã é pesquisadora do Grupo de Pesquisa Educação Crítica e Autoria Criativa (GECRIA-CNPq/UnB) desde 2017. Em breve, sua tese estará disponível no repositório da BCE/UnB e no site do Gecria – www.autoriacriativa.com

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