OPINIÃO

Fernanda Paulini é médica veterinária e bióloga, mestre e doutora em Reprodução Animal pela Universidade de Brasília (UnB). Atualmente é docente e pesquisadora do CFS, no Instituto de Ciências Biológicas da Universidade de Brasília, trabalhando em projetos relacionados à fisiologia e reprodução. Coordena também os projetos de extensão Meninas na Ciência-UnB e Meu Corpo eu Cuido, ambos com o propósito de incentivo às mulheres.

Fernanda Paulini

 

A ciência, estabelecida por homens, é fruto da sociedade patriarcal que minou os direitos das mulheres ao longo dos séculos. Até o início do século XX, a carreira científica era considerada imprópria para as mulheres e, as que produziam conhecimento traíam a própria natureza. Estudos de Aristóteles e Nietzsche colocavam a mulher como biologicamente inapta, principalmente para as ciências e, a fim de naturalizar o processo discriminatório, as mulheres foram incorporadas às responsabilidades do lar. É importante salientar que os mecanismos de exclusão são estruturais, haja vista a inserção da mulher na academia. A carreira científica exige dedicação integral, o que se evidenciou na pandemia da covid-19. Sobrecarregada, a mulher não consegue consolidar sua carreira. Com inúmeros obstáculos, é possível considerar o desenvolvimento tardio das mulheres na pesquisa e sua invisibilidade. Enquanto a ciência brasileira luta para sobreviver, as cientistas enfrentam o desafio adicional de se fazerem representadas.


Menos de 35% dos pesquisadores do mundo são mulheres e, ainda que estudos indiquem redução na desigualdade na ciência no Brasil, há poucas mulheres nos cargos de chefia. A maternidade é outra questão relevante, pois o curriculum exclui o tempo da licença, período de baixa produção científica. Foi comprovado ainda que, os projetos liderados por mulheres têm menos chances de financiamento.


Diversos fatores são responsáveis pela discrepância na representatividade feminina, que estão presentes desde a infância até a conclusão de sua carreira. “É papel da escola possibilitar a transformação de estruturas sociais opressoras”, dizia Paulo Freire. Assim, o ambiente educacional deveria atuar contra a repressão feminina, já que ao reprimir, também marginalizam mulheres. Segundo Simone de Beauvoir: “Não se nasce mulher, torna-se mulher”. O gênero é um produto social com base em normas e critérios masculinos e a ideologia de gênero é herança da construção social. Nas últimas décadas, o uso de métodos contraceptivos proporcionou uma mudança na dinâmica populacional, diminuindo a média de filhos no Brasil, ainda que a carga de responsabilidades no lar seja desequilibrada e a taxa de mães-solo, alta. Os direitos reprodutivos abriram caminhos para as mulheres, resultando na modificação dos comportamentos culturais estabelecidos, que corresponde à maneira como elas se posicionam, são vistas na sociedade e podem ser incentivadas a investir na carreira.


No Brasil, ações e programas têm sido organizados para absorver os desafios da igualdade de gênero em carreiras de pesquisa, como o projeto Meninas na Ciência, que ocorre em diversas universidades. Em 2018, aconteceu o encontro Por um Planeta 50-50 em 2030: Mulheres e Meninas na Ciência & Tecnologia. Não basta ser mulher, é necessário ocupar os lugares de decisão para pensar políticas, subverter as desigualdades e promover a inclusão.

 

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