“Na década de 1970, com apenas 28 anos, Fausto Alvim Júnior era um dos homens que mais conhecia matemática no Brasil. As coisas aconteceram em sua vida de maneira surpreendente”, contou Maria Mercedes Alvim, filha de Fausto Alvim, o primeiro estudante a receber um diploma de graduação pela Universidade de Brasília (UnB). Na tarde desta quinta-feira (3), com a presença de amigos e admiradores, foi inaugurada uma placa em homenagem ao matemático, localizada no prédio da Secretaria de Administração Acadêmica (SAA), no campus Darcy Ribeiro.

Pedro Jorge de Castro, professor aposentado da UnB e cineasta, lembrou do amigo com carinho: “A primeira vez que o encontrei foi na rodoviária de Brasília. Ele era magro, alto e usava uma calça que ficava curta nele. Fausto Alvim foi uma pessoa com quem convivi, um amigo, e a colaboração que ele me deu foi de uma clareza excepcional”.

“É uma emoção muito grande voltar aqui na Universidade, ver seus colegas e ouvir palavras tão bonitas a seu respeito”, disse Maria Mercedes, que prosseguiu contando brevemente a história de vida de seu pai. Aos 12 anos, Fausto foi morar na fazenda do avô. Na bagagem, o seu bem mais precioso era um livro com imagens do universo, e rapidamente começou a se interessar por estrelas, vasculhando o céu vasto. Naquela fazenda, deu início a uma criação de marrecos, cujo lucro foi investido na aquisição de livros e de um telescópio. Construiu, então, um laboratório particular.

Autodidata, Fausto passou a estudar as fórmulas que regem o universo e se apaixonou pela matemática. Sentindo necessidade de ampliar seus conhecimentos, ingressou no curso de Matemática da jovem UnB, onde se tornaria o primeiro estudante a receber um diploma de graduação, o que aconteceu com menos de dois anos de faculdade, tamanha sua inteligência. No mesmo ano, 1963, recebeu também uma bolsa para aperfeiçoar os estudos em Londres, no King’s College.

Darcy Ribeiro, então reitor da Universidade, reconhecia sua genialidade. “Formamos e doutoramos, em quatro anos, um rapaz de alto talento matemático que não tinha nem diploma primário. Aqui chegou, começou a frequentar aulas de Matemática e logo saltou para o mestrado. Os matemáticos disseram que ele era ótimo, mas não podia estudar oficialmente, porque não tinha nem o ginasial. Isso eu resolvo, respondi, dei-lhe o ginasial. Em quatro anos o rapaz Fausto Alvim era doutor, não doutor feito por mim, ele fez seu doutorado na Inglaterra, brilhantemente.”

Dessa forma, Fausto Alvim continuou o traçado de sua trajetória recheada de pioneirismo. O matemático foi o primeiro ex-estudante da UnB a ter um diploma de doutorado e a tê-lo feito em uma universidade internacional. De volta ao Brasil, agora como Doutor Fausto, retornou à UnB para lecionar, o que fez por muitos anos, chegando à chefia do Departamento de Matemática. Ele foi o primeiro professor doutor da Universidade a ter feito graduação na própria UnB. O diploma de doutorado está posicionado ao lado da placa que o homenageia.

Fausto Alvim foi também o primeiro presidente da Associação dos Docentes da UnB (ADUnB), que ajudou a fundar. A associação representava a luta democrática travada pela sociedade contra o regime autoritário vigente na época. “Esta é uma homenagem muito significativa para a UnB nestes 60 anos e também no ano do centenário de Darcy Ribeiro. É muito gratificante ver a história de um cientista brilhante e que também se preocupava com o país e com o papel social da universidade. Em um momento difícil pelo qual passava a UnB, Fausto, juntamente com outros docentes, teve a coragem de criar a ADUnB e se contrapor à situação de repressão que acontecia na época”, afirmou a reitora Márcia Abrahão, na cerimônia de descerramento da placa.