CONFERÊNCIA

Em sessão da Comissão UnB.Futuro, reitor da Universidade Livre de Bruxelas defende a importância dos aspectos culturais no ensino superior

Foto: Júlia Seabra/UnB Agência

 

A Comissão UnB.Futuro realizou na manhã desta terça-feira (17) sua primeira sessão do ano de 2015. Com o tema “Universidade e Cultura”, a conferência de Didier Viviers, reitor da Universidade Livre de Bruxelas (ULB), ressaltou a importância de se considerar aspectos da cultura – e não somente aqueles que visam resultados econômicos – nas instituições de ensino superior. O evento foi realizado no dia da francofonia e lotou o auditório da Reitoria da Universidade de Brasília.

 

Historiador e arqueólogo, Viviers atua como reitor da ULB desde 2010. O professor tem desenvolvido na instituição ações que valorizam manifestações artísticas, promovendo a cultura como aliada à produção de conhecimento. Para ele, “associar universidade e cultura é ao mesmo tempo uma evidência e uma raridade”, isso porque, na sua visão, apesar de haver uma demanda crescente por esse tipo de ação, são poucas as instituições que conseguem quebrar seus paradigmas e instituir políticas de maior valorização da cultura.

 

Segundo o conferencista, existem desafios comuns que as universidades e as instituições culturais devem superar. Nesse sentido, é necessário que haja um movimento por parte das universidades no sentido de levar em consideração o fator cultural. Viviers explicou que sua análise partia da condição de um europeu e os desafios podem ser muito diferentes daqueles inerentes ao contexto da América Latina.

 

O pesquisador apresentou três propostas relacionadas à atuação das universidades como instituições culturais. Em primeiro lugar, afirma que é necessário ir na contramão de algumas visões mais utilitaristas, que consideram somente o desenvolvimento econômico como função da universidade. Para ele, é importante que a Academia exerça o papel de gerar empregos e formar trabalhadores em potencial, no entanto, ela não deve se limitar a essa função: “o que a universidade deve produzir são estudantes capazes de se adaptar, evoluir e criticar, e não simplesmente tecnólogos”.

 

Na visão de Viviers, precisamos valorizar mais a “utilidade do inútil”, ou seja, é necessário que aproveitemos melhor as oportunidades oferecidas por aquelas atividades que muitas vezes são julgadas como não tendo utilidade para o ensino. A hiperespecialização dos saberes é um perigo que deve ser evitado, segundo ele. Nesse sentido, a cultura pode ser utilizada a favor da interdisciplinaridade, uma vez que, citando Edgar Morin, ela é capaz de vincular os saberes e os fecundar.

Foto: Júlia Seabra/UnB Agência

 

Como segunda resposta para aliar a cultura à universidade, o conferencista sugere que temos que aprender a lidar com dificuldades básicas: a) aquelas relacionadas ao financiamento público, uma vez que, apesar de haver a necessidade de se buscar fontes de financiamentos privados, o aporte público deve nortear demandas e é preciso garantir a autonomia das instituições; b) as reestruturações, já que as universidades devem preservar suas identidades, apesar de serem louváveis os objetivos de modernização; c) o fator acessibilidade, que diz respeito à ampliação dos públicos. Para Viviers, o acesso deve ser facilitado mais aos espaços de saber, e não apenas aos edifícios: “dizer que tudo é acessível a todos não é suficiente. Deve-se otimizar os conteúdos”.

 

Em terceiro lugar, segundo o conferencista, é importante falar em cultura num contexto de crise. A Europa Ocidental enfrenta momentos constantes de crise e as universidades têm trabalhado para oferecer alternativas positivas para esse contexto. Para Viviers, as ferramentas de arte e cultura podem oferecer alternativas para que essas fases fossem superadas com maior eficiência.

 

Para Didier Viviers, a subjetividade faz parte de toda construção científica, inclusive nas ciências ditas exatas. Por isso, uma formação universitária hoje não deveria deixar de lado os confrontos relativos às manifestações artísticas e as diversidades culturais.

 

Na opinião de Jaime Santana, decano de Pesquisa e Pós-Graduação, a realização da sessão “fortalece a relação científica com a Universidade Livre de Bruxelas e contribui com a internacionalização do conhecimento superior na Universidade de Brasília”.

 

Ao fim da conferência, o professor Ivan Camargo, reitor da UnB, agradeceu a parceria com a Embaixada da Bélgica e frisou que “a conferência de Didier Viviers está diretamente ligada ao esforço de se compreender o ambiente acadêmico como espaço de diversidade e de respeito às diferenças”.

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