Projeto pretende analisar a possível relação entre as características ambientais e a expansão do Sars-CoV2 

Pesquisa estuda as correlações entre variações climáticas e a disseminação do novo coronavírus. Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Fotos públicas

 

Sob coordenação do professor Rafael Franca, do Departamento de Geografia (GEA/UnB), o projeto do Laboratório de Climatologia Geográfica está ampliando o debate sobre a influência do clima na pandemia de covid-19. O estudo analisa as correlações entre variações climáticas e a disseminação do vírus causador da doença.

 

O estudo é um dos aprovados em chamada pública realizada pelo Decanato de Pesquisa e Inovação (DPI), pelo Decanato de Extensão (DEX) e pelo Comitê de Pesquisa, Inovação e Extensão de combate à Covid-19 (Copei) da Universidade de Brasília. A pequisa propõe a investigação das variáveis climáticas, levando em consideração o território nacional bastante diverso e o comportamento do patógeno Sars-CoV2 neste contexto.

 

De acordo com o professor Rafael Franca, a pesquisa ”pode contribuir na formulação de estratégias sanitárias de enfrentamento da doença pela população, governos e sistemas de saúde”. Para ele, “investigar prováveis relações entre elementos climáticos, como temperatura, umidade relativa do ar, precipitação, insolação, entre outros, e a propagação do vírus seria uma contribuição científica relevante da geografia”.

 

CLIMA E COVID-19 – A pandemia, embora já apresente números expressivos e urgência para a elaboração de soluções, é muito recente, tendo seus primeiros registros datando de dezembro de 2019, na China.

 

Pensando nisso, os pesquisadores se debruçaram sobre as inúmeras dúvidas e especulações a respeito do tempo de permanência e sobrevivência do vírus em diversas superfícies, levando em conta condições climáticas distintas.

 

Para isso, Rafael Franca decidiu levantar dados de diferentes regiões brasileiras, considerando que, em um país continental, cada uma delas pode apresentar clima completamente distinto das demais. É o caso, por exemplo, de Brasília (com clima tropical típico de altitude), Manaus (com clima equatorial úmido) e São Paulo (com clima com maior influência subtropical). Em um país com tamanha diversidade climática, compreender o comportamento do Sars-CoV2 em cada situação pode ajudar a direcionar mecanismos de prevenção no futuro.

 

Observando esses apontamentos, o pesquisador alerta para o risco de que o vírus se torne endêmico após a pandemia, manifestando surtos sazonais. Isso já ocorre com as cepas do vírus Influenza, causador da gripe comum. Neste caso, o vírus tem maior circulação durante estações mais frias, época associada a hábitos sociais que facilitam a contaminação, como a permanência em locais fechados. “Os resultados de estudos como o nosso ajudariam elucidar tais aspectos do novo coronavírus e contribuiriam para adoção de estratégias de prevenção, adaptação e mitigação da doença”, frisa.

 

FASE INICIAL – A pandemia de covid-19 está em seu auge no Brasil, gerando diariamente um grande volume de informações que, nas mãos dos pesquisadores, serão transformadas em dados importantes para o resultado do estudo. Neste momento, o professor e equipe trabalham em ajustes de metodologia e bancos de dados.

 

Em função disso, Rafael Franca considera que “qualquer análise nesse momento seria prematura ou incompleta”. De acordo com ele, como algumas regiões do país estão prestes a entrar na estação mais fria do ano e outras, por sua vez, estão iniciando sua estação seca, resultados preliminares poderiam ser divulgados a partir de setembro.

Professor Rafael Franca, do Departamento de Geografia, coordena a pesquisa realizada pelo Laboratório de Climatologia Geográfica. Foto: Arquivo pessoal

 

Apesar disso, a pesquisa já conta com hipóteses baseadas em estudos semelhantes já realizados em outros países. Por serem pesquisas muito recentes, contudo, a equipe identifica resultados ambíguos e contraditórios.

 

“Já vimos estudos estrangeiros que concluíram que o aumento da temperatura e da umidade relativa do ar diminuem significativamente a transmissão do vírus, mas também encontramos um estudo brasileiro que mostrou justamente o contrário, ou seja, que temperaturas médias mais altas e umidade relativa média favoreceram a transmissão da covid-19”, afirma o professor.

 

Franca levanta a possibilidade de que elementos, como insolação e nebulosidade apresentem maior influência do que os estudados até agora.

 

NOVAS DOENÇAS – Pesquisadores de todo o mundo têm se perguntado sobre a relação entre as mudanças climáticas e o surgimento de novas doenças transmitidas por animais. A relação fica mais evidente quando se observa doenças tropicais como dengue, chikungunya, zika, leishmaniose e malária, todas transmitidas por vetores em comum: mosquitos.

 

Ao analisar dados dos últimos anos, é possível identificar o aumento da área de ocorrência dessas doenças ao redor do globo, sendo provável resultado da influência do clima mais quente, oriundo do aquecimento do planeta.

 

Franca destaca, no entanto, que o surgimento do Sars-CoV2 pode não estar atrelado diretamente ao aquecimento global, mas à forma como a sociedade se relaciona com os recursos naturais. Desde o século XX, há forte exploração de biomas e ecossistemas de forma exponencial, para sustentar uma sociedade alicerçada no consumo.

 

Rafael observa ainda que “essas práticas, quase sempre pouco sustentáveis do ponto de vista ambiental, contribuem para redução da biodiversidade, por meio da extinção de espécies ou mesmo de ecossistemas inteiros”. De acordo com ele, “animais ameaçados em seu ambiente natural ou em confinamento em sistemas agrícolas intensivos apresentam fragilidades imunológicas que os tornam mais vulneráveis a doenças”.

 

Essa hipótese pode explicar, por exemplo, como a interação com esses animais potencialmente contaminados pode promover a transmissão de patógenos que, ao sofrerem mutações, tornam-se uma ameaça real à saúde humana.

 

O pesquisador alerta para a possibilidade de novas e mais severas pandemias no futuro caso governos não trabalhem para estabelecer soluções estratégicas e imediatas em favor de processos produtivos mais sustentáveis.

 

PREVENÇÃO – Com os dados resultantes da pesquisa, será possível compreender melhor a influência de condições climáticas diversas sobre o tempo de sobrevivência do novo coronavírus. Desta forma, essas informações serão utilizadas em estratégias de prevenção orientadas futuramente para evitar uma nova onda de contaminações e aumentos sazonais dos casos de covid-19 no Brasil.

 

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