PROANTAR

Cientistas partem em expedição ao continente gelado neste sábado (22). Mais dois grupos estão com viagens previstas para final de dezembro e janeiro do próximo ano

Foto: Mariana Costa/UnB Agência

 

Neste sábado (22), o primeiro grupo de cientistas ligado ao projeto de pesquisa Evolução e dispersão de espécies antárticas bipolares de briófitas e liquens viaja rumo à Antártida e retorna, “se o clima ajudar”, antes do Natal, em 20 de dezembro. Este é primeiro projeto coordenado pela UnB a participar do Proantar, o programa de pesquisas da Marinha brasileira.

 

“Voos e viagens de navio para a região dependem muito de boas condições climáticas”, explica o biólogo e professor da UnB Paulo Câmara, coordenador do projeto realizado em parceria com instituições de pesquisa nacionais e estrangeiras, como o Jardim Botânico do Rio e a Naturalis Biodiversity Center na Holanda.

 

“A logística da viagem é bastante complexa”, avalia Câmara. O grupo sai de Brasília e segue para a base área do Galeão no Rio onde embarca num avião da FAB rumo a Pelotas, no Rio Grande do Sul, para recolher roupas resistentes ao frio, na estação de apoio da Marinha. De lá, segue para Punta Arenas no Chile e, a bordo de um Hércules C-130, parte para a base chilena Eduardo Frei Montalva em território antártico. O grupo, então, se divide e é conduzido para as estações e os acampamentos de pesquisa. A viagem até os destinos finais se dá por meio de helicópteros ou navios.

Ilustração: Apoena Pinheiro/UnB Agência

 

Os cientistas são aguardados na estação brasileira e em duas estrangeiras, uma da Polônia e outra da Coreia do Sul. “Haverá gente nossa também nos navios de pesquisa da Marinha e em acampamentos em lugares remotos”, detalha Paulo Câmara. O professor recorda o incêndio que destruiu a Estação Comandante Ferraz em 2012. “A base brasileira ainda é provisória, ficaremos nos chamados MAE, módulos antárticos emergenciais.”

Professor Paulo Câmara coordena pesquisa. Foto: Mariana Costa/UnB Agência

 

Primeiro pesquisador da UnB a embarcar nesta expedição, Câmara viaja, nesta primeira etapa, com uma pesquisadora do Jardim Botânico do Rio e dois outros da UFMS. “No total, somos 18”, diz em referência ao grupo de pesquisa. "Dez cientistas são da UnB."

 

Segundo ele, até março do ano que vem, três grupos viajam com a missão de fazer a coleta de briófitas e liquens no continente gelado. “Temos que aproveitar o período de verão quando aparecem as plantas”, explica. “A segunda turma vai passar o réveillon no navio polar Ary Rongel”, diz. Um terceiro grupo está com partida prevista para final de janeiro.

 

PREPARATIVOS - O grupo do Instituto de Ciências Biológicas (IB) investiga a semelhança genética de liquens e briófitas nos dois pólos do planeta há um ano. “Além do valor ecológico, briófitas são plantas com poder medicinal”, diz a mestranda em Botânica Júlia Mundim, que também participa do projeto.

 

 

Espécies vegetais da Antártica

 

Pesquisadores da UnB vão à Antártica

 

Parte desse estudo, a expedição vem sendo preparada há alguns meses. Em julho, microscópios, lupas e GPS, entre outros materiais de pesquisa, foram despachados para o Rio de Janeiro, de onde seguiram para a Antártida em navios da Marinha brasileira. Em agosto, os pesquisadores passaram por treinamento de uma semana no Rio. “O treinamento é obrigatório para todos que vão”, diz Câmara.

 

Para viajar, os cientistas fizeram também uma série de exames: sangue, coração, pulmão e psiquiátrico, “para enfrentar o isolamento”. Nenhuma vacina é obrigatória, segundo o grupo. A vacina contra a gripe é apenas recomendada.

 

Por ser um lugar inóspito, com dificuldades de acesso, temperaturas baixas e ventos que podem chegar a quase 200 km/h, disciplina e “desapego” são características importantes de quem vai. “Nem todo mundo encara ficar longe de casa, sem internet, sem saber quando vai voltar”, observa o coordenador.

 

UNB NA ANTÁRTIDA - Não é a primeira vez que pesquisadores da UnB desbravam o inóspito território. Em 2010, o antropólogo Luís Guilherme Resende passou seis meses estudando o dia a dia de cientistas de diferentes países na Antártida, por exemplo. Na época, ele fazia o doutorado na Universidade de Brasília e estava vinculado a um grupo da UFMG. Este, contudo, é o primeiro projeto coordenado pela UnB a participar do programa de pesquisas da Marinha, o Proantar.

 

Arqueólogos brasileiros vão à Antártida

 

Pesquisador conta como é a vida na Antártida

 

Preparando-se para partir em dezembro, o doutor em Biologia Pedro De Podestá acredita que o grupo, formado por alunos de graduação, mestrado e doutores ligados à área de Botânica, também carrega a responsabilidade de representar a UnB e o Brasil na região. “Estamos levando uma bandeira da universidade para ser fincada em território antártico."

ATENÇÃO O conteúdo dos artigos é de responsabilidade do autor e expressa sua visão sobre assuntos atuais. Os textos podem ser reproduzidos em qualquer tipo de mídia desde que sejam citados os créditos do autor. Edições ou alterações só podem ser feitas com autorização do autor.