INOVAÇÃO

Tecnologia criada no Laboratório de Farmacologia Molecular da UnB, em parceria com o LNBio de Campinas, permitirá a elaboração de medicamentos que agem no DNA do paciente

Foto: Reprodução/NHGRI

 

Um grupo de pesquisadores do Laboratório de Farmacologia Molecular (FarMol) da Universidade de Brasília, em parceria com o Laboratório Nacional de Biociências (LNBio) em Campinas, está desenvolvendo uma técnica que pode ajudar na criação de novas drogas para o tratamento de doenças como o câncer.

 

Segundo o professor do curso de Farmácia da UnB e coordenador da pesquisa, Guilherme Santos, a nova técnica foca na modulação da arquitetura da cromatina, complexo DNA-proteína responsável por regular a expressão gênica. A ideia se baseia no reconhecimento do nucleossomo – unidade repetitiva da cromatina – como alvo terapêutico.

 

Ainda de acordo com o pesquisador, novas drogas para o tratamento de diversos tipos de câncer e doenças metabólicas atuam em proteínas específicas capazes de alterar a abertura e o fechamento da cromatina. A estratégia consiste em modular essa estrutura usando moléculas similares a peptídeos.

 

“Até agora, simulações em computadores e testes in vitro com células cancerígenas mostraram resultados promissores”, diz o professor.

 

Ele explica que essa estratégia oferece uma nova possibilidade para o tratamento do câncer.

 

"Não esperamos que esta nova classe de drogas cure a doença, mas, sem dúvida, ela representa uma esperança aos pacientes que não respondem a terapias tradicionais", afirma. "A ideia é associar estas novas moléculas a outras drogas disponíveis no mercado para obtenção de uma melhor resposta clínica”, destaca.

 

Pensando nisso, os cientistas patentearam uma pequena biblioteca de 62 peptídeos. O objetivo, dizem, é criar um acervo com mais de três mil compostos capazes de corrigir, com alta especificidade, diferentes disfunções celulares.

 

“Estes peptídeos se mostraram capazes de controlar a multiplicação de células cancerígenas e inibiram a expressão de genes inflamatórios”, entusiasma-se Santos.

 

Os resultados foram publicados na revista especializada Trends in Pharmacological Science, uma das mais importantes no mundo na área de farmacologia e toxicologia.

Os pesquisadores Isabel Torres e Guilherme Santos no Laboratório de Farmacologia Molecular da UnB. Foto: Isa Lima/UnB Agência

 

INDÚSTRIA BRASILEIRA – O professor prevê para daqui a quatro anos os primeiros testes com seres humanos e até 12 anos para que a droga esteja no mercado. “Todo o processo é extremamente caro, na ordem de bilhões”, diz.

 

Antes disso, a técnica vai ser testada em camundongos. “Temos todos os indícios de que vai funcionar como previsto, mas precisamos conhecer os efeitos colaterais”, justifica.

 

Para o desenvolvimento desta nova classe de drogas, o grupo espera contar com financiamento federal e de fundações de pesquisa, além de parcerias com grandes laboratórios farmacêuticos.

 

"Uma startup foi criada para comercializar a tecnologia, a Nucleosantos Therapeutics", conta o pesquisador. "Ela trabalhará com a descoberta e o desenvolvimento de moléculas que se ligam ao nucleossomo", detalha.

 

Aluna do doutorado em Farmácia e integrante do grupo de pesquisa na UnB, a biomédica Isabel Torres diz ser recompensador trabalhar com pesquisa de alto impacto. Para ela, os resultados são promissores, mas é preciso "dedicação e paciência" para chegar lá.

 

Único no Brasil, Santos ressalta que poucos laboratórios no mundo trabalham com essa tecnologia – "não mais de quatro". "É uma pesquisa de alto impacto científico que pode trazer resultados práticos e afetar a vida de muitas pessoas", afirma.

 

Em setembro, ele viaja, à convite, para Baltimore, nos Estados Unidos, para apresentar os resultados do trabalho.

 

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