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UnB e outras universidades uniram-se ao Alto Comissariado das Nações Unidas para produzir documento que deve ajudar na elaboração de políticas públicas

 

Diretora do Instituto de Letras, Rozana Naves, representante do Comitê Nacional para os Refugiados (Conare), Bernardo Lafeté, representante do Acnur no Brasil, José Egas, e secretário de Planejamento e Projetos da ESMPU, Volker Bohne. Foto: Luis Gustavo Prado/Secom UnB

 

Elevado capital linguístico e escolar, escolaridade acima da média do brasileiro, mas renda inferior a R$ 3 mil. Esses dados, apresentados nesta quinta-feira (30), traçam o perfil socioeconômico dos refugiados no Brasil. Lançado no auditório da Escola Superior do Ministério Público da União (ESMPU) pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), o levantamento foi produzido e estudado pela Universidade de Brasília, por meio da Cátedra Sérgio Vieira de Mello (CSVM), vinculada ao Instituto de Letras (IL). Outras universidades e instituições brasileiras participaram do desenvolvimento.

 

O trabalho foi coordenado pelo professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Márcio Oliveira. Ele afirmou que o trabalho não teria sido possível sem as equipes de cada estado, citando nominalmente a diretora do IL, Rozana Naves, a coordenadora do Núcleo de Ensino e Pesquisa em Português para Estrangeiros (Neppe), Lúcia Barbosa, e o coordenador do Observatório das Migrações Internacionais (OBMigra), Leonardo Cavalcanti.

 

Refugiados são aqueles que não tiveram outra opção senão a de sair de seus países de origem, por motivos de perseguições diversas e violações de direitos humanos, e que por isso requerem proteção internacional. Um esclarecimento importante é que não há concessão de refúgio por parte do estado ou governo, apenas o reconhecimento da condição de refugiado.

 

LEVANTAMENTO Para desenvolver o trabalho de campo, a equipe contou com coordenadorias em oito estados, distribuídos na forma de catorze cidades. A combinação foi escolhida por meio de um desenho amostral internacional por cotas, que levou em consideração a população refugiada no país, atingindo o número máximo de 500 participantes. Apesar da meta, 487 refugiados foram entrevistados. O Obmigra colaborou com a pesquisa fornecendo dados e contribuindo tecnicamente na formulação da amostra, incluindo o desenho da representatividade estatística do estudo. 

 

Entre os dados apresentados à plateia, pode-se observar que quase 90% dos refugiados (419) têm entre 18 e 49 anos. Os entrevistados são originários, majoritariamente, da Síria, da República Democrática do Congo, da Angola e da Colômbia, que correspondem juntos a mais de 70% da amostra total. Pouco mais da metade dos refugiados está trabalhando. Entre os que trabalham, cerca de 20% atua no ramo do empreendedorismo, o que indica uma realidade dos povos refugiados que vivem no país.

 

O estudo foi além de apresentar esses dados e, segundo os organizadores, pretende servir como base para a formulação de políticas públicas que contemplem a integração social do refugiado. “Passei por campos de refugiados durante vários momentos da minha vida e, o que percebo, é que não há reconhecimento da identidade nacional e nem integração dessas pessoas“, relatou o representante da ESMPU, Volker Bohne.

 

Na Universidade de Brasília, essa integração acontece por meio do Neppe, que ajuda, por meio do ensino da língua portuguesa e da cultura brasileira, a inserir melhor os migrantes na sociedade. O Instituto de Letras também tem um projeto coordenado pelas professoras Maria Carolina Calvo, Sabine Gorovitz e Susana Martínez que oferece apoio aos refugiados na área de tradução, especialmente quando eles necessitam de atendimento pelos órgãos públicos.

 

“Pretendemos assim formar um banco de dados de tradução que possa servir de consulta para minimizar os problemas de comunicação”, afirma Rozana Naves. “Nosso intuito é possibilitar uma melhor integração social."

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