OLHARES AFRICANOS

Além de despertar o prazer pela leitura, coletivo En classe et en scène inspira reflexões sociais

Leitura dramática da peça Uma temporada no Congo, de Aimé Césaire, pela atriz Cristiane Sobral. Foto: Reprodução

 

Há mais de uma década, o coletivo En classe et en scène do Instituto de Letras (IL/UnB) une teatro e literatura – principalmente de autores da África Subsaariana –, no ensino de língua francesa.

 

Alunos de Letras da UnB, professores e estudantes de línguas e literaturas das redes pública e particular do Distrito Federal (DF) encenam peças em português e em francês ou versões bilíngues de obras de diferentes autores. "Já trabalhamos também com encenações bilíngues português-Libras", conta a coordenadora do projeto e professora do Departamento de Línguas Estrangeiras e Tradução (LET/IL), Maria da Glória Magalhães.

 

"Em 13 anos, vários trabalhos foram realizados, mas gostaria de destacar Bintou, do escritor marfinense Koffi Koffi Kwahulé, encenada durante a pandemia, e a peça O grito da gaivota, idealizada e dirigida por meu doutorando surdo Lucas Sacramento", cita a professora.

 

A primeira apresentação do grupo ocorreu em 2011, com a peça Catharsis, do dramaturgo togolês Gustave Akakpo, durante a Semana da Francofonia – evento anual e internacional, que ocorre em meados de março, em celebração ao idioma francês. E a mais recente produção envolve a tradução e leitura dramática de uma peça do poeta, ensaísta e dramaturgo Aimé Césaire, chamada Uma temporada no Congo, que narra os acontecimentos políticos naquele país africano entre 1959 e 1961 em sua luta pela independência da colonização belga.

Da esquerda para a direita, Juliana Mantovani, João Vicente e Maria da Glória Magalhães, em premiação no Rio de Janeiro. Foto: Acervo Pessoal

 

A tradução da peça de Aimé, assinada por Maria da Glória e pelos pesquisadores da pós em Literatura (Póslit/IL) Juliana Mantovani e João Vicente, recebeu o Prêmio da Embaixada da França de Melhor Tradução este ano. A premiação ocorreu em agosto, na Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro.

 

Segundo a professora, a tradução do francês para o português do Brasil da peça de Césaire pôde ser realizada graças a um convite da Editora Temporal, pela qual também foi lançada a tradução da peça Encruzilhada, do dramaturgo togolês Kossi Efoui. "Já foram realizadas algumas leituras em português e francês da peça, e a sua encenação está sendo planejada para 2024", antecipa.

 

Ela aponta que o poeta, político e dramaturgo francês nascido na Martinica (antigo departamento ultramarino da França), figura artística importante da metade ao final do século 20, tem voltado à cena literária nos últimos anos "com um vigor e uma atualidade estupendos". "A poesia de Césaire traz temas políticos como os processos contracoloniais e de luta contra as opressões, ainda necessários e imprescindíveis para o século 21, com uma intensidade estética deslumbrante", destaca.

 

ATENÇÃO – As informações, as fotos e os textos podem ser usados e reproduzidos, integral ou parcialmente, desde que a fonte seja devidamente citada e que não haja alteração de sentido em seus conteúdos. Crédito para textos: nome do repórter/Secom UnB ou Secom UnB. Crédito para fotos: nome do fotógrafo/Secom UnB.