PRESENÇA ILUSTRE

Kailash Satyarthi foi reconhecido em 2014 por seu trabalho contra a exploração infantil. Evento marcou lançamento de campanha por justiça para crianças

Kailash Satyarthi ministrou palestra no Memorial Darcy Ribeiro, o Beijódromo. Foto: Audrey Luiza/Secom UnB

 

Protagonista na luta contra o trabalho infantil, o indiano Nobel da Paz de 2014, Kailash Satyarthi, esteve na UnB e dialogou com mais de 200 crianças e adolescentes sobre liberdade infantil e direito à educação. O encontro no Memorial Darcy Ribeiro foi promovido pela organização cem milhões, iniciativa do indiano para reunir pessoas em todo o mundo em torno da causa. Durante o evento, foi lançada a campanha Quando cada criança terá justiça no Brasil e no mundo?.

 

Para o coordenador-geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação e da Plataforma cem milhões, Daniel Cara, a luta de Kailash está em sintonia com o projeto pedagógico da Universidade de Brasília, de Darcy Ribeiro e de Anísio Teixeira. “É a construção de uma pessoa extremamente coerente, que vai até os lugares onde ocorrem explorações e literalmente salva as pessoas inseridas naquele espaço”, explica.

 

No encontro, Satyarthi compartilhou um pouco de sua história com voluntários, professores e crianças de escolas públicas e privadas, numa manhã inspiradora. O evento aconteceu na quinta-feira (17). Na reunião, também foi exibido o filme O preço da Liberdade, documentário sobre o confronto travado entre o Nobel da Paz e o crime organizado, na Índia e no mundo. 

Vinda de Kailash Satyarthi à UnB marcou lançamento de campanha em defesa das crianças. Foto: Audrey Luiza/Secom UnB

 

Aos 60 anos, em 2014, Kailash Satyarthi foi reconhecido ao lado da ativista paquistanesa Malala Yousafzai, à época com 17 anos, devido ao trabalho de ambos no resgate de pessoas confinadas e em situação de escravidão. Ele libertou mais 80 mil crianças ao redor do mundo. “Nesses 40 anos em que trabalho na libertação, quebraram minha pernas, meus ombros e minha cabeça, mas jamais o meu coração foi partido”, expressou o Nobel.  

 

Interagindo com o público, Satyarthi propôs reflexões sobre uso de recursos naturais, demarcação de fronteiras e disputas internacionais por meio ambiente ou desenvolvimento tecnológico, sobretudo quando direitos de crianças e adolescentes são violados para alcançar o objetivo final.

 

O Nobel dividiu um pouco das experiências que teve ao tentar resgatar famílias submetidas à escravidão, entre as quais saiu ferido e perdeu companheiros de luta para o crime organizado da Índia. Numa destas ações, ele conta que se deparou com um grupo de crianças escravizadas que nunca havia tido contato com frutas, nomeando cachos de bananas como se fossem tipos diferentes de cebolas ou batatas.

 

Com esperança, Satyarthi projeta um futuro em que as crianças de hoje transformem seus lugares de influência. “Se uma criança, como eu fui, pode chegar a ser um Nobel da Paz, não há nada que a impeça de ocupar o lugar de qualquer liderança mundial”, opina. “Mas não é necessário ser um presidente para mudar um país.”

Professora da FE, Catarina de Almeida reconhece a importância da atuação do Nobel Kailash Satyarthi. Foto: Audrey Luiza/Secom UnB

 

Para a professora da Faculdade de Educação (FE) Catarina de Almeida, que intermediou a vinda de Satyarthi à Universidade de Brasília, a defesa da infância é abrangente, não se restringindo apenas ao combate ao trabalho precoce, mas se aplicando à luta por direito à educação e ao combate de outros tipos de exploração, como sexual, doméstica e psicológica.

 

“É importante lembrar que parte desses abusos é cometido por pessoas próximas às vítimas e dentro das residências. Ou seja, o não acesso à educação é um espaço fértil para que essa violência continue”, relaciona.

 

Representando a reitora, o diretor da Casa da Cultura da América Latina (CAL/DEX), Alex Calheiros, destaca que o evento demonstra a abertura da Universidade a pessoas que contribuem para a transformação do mundo. “Nós temos lutado para tornar a UnB um lugar democrático. Projetos como esse são bem-vindos e necessários para isso", afirma.

 

Com Kailash Satyarthi, a lista de laureados que marcaram presença na UnB fica mais extensa. Em 2018, o Nobel da Paz de 1980, Adolfo Pérez Esquivel, esteve no auditório da ADUnB. Aaron Ciechanover, em 2017, e Fraser Stoddart, em 2019, ambos Nobel de Química, de 2004 e de 2016, respectivamente, vieram à Universidade. Além do Nobel de Medicina de 2011, Bruce Beutler, que conheceu a UnB em 2015.

 

*estagiário de Jornalismo na Secom/UnB.

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