SERVIÇO

HIV, sífilis e hepatites B e C são as infecções acusadas pelo teste. Em 5 de dezembro, FCE recebe ação pelo Dia Mundial de Combate à Aids

 

Em média, chegam a ser realizados 500 testes por mês nos campi Darcy Ribeiro e de Ceilândia. Foto: Beto Monteiro/Secom UnB

 

A cada ano, milhares de pessoas são infectadas com o vírus HIV em todo o mundo. Mesmo com todo avanço nas áreas médica e científica, a aids ainda é uma doença sem cura e que pode levar à morte se não tratada adequadamente. Para gerar mais conscientização sobre esse risco, desde 1988, 1º de dezembro é lembrado como Dia Mundial da Luta contra a Aids.

 

Vinte anos depois, o que se vê é a incidência de uma das mais graves doenças sexualmente transmissíveis de todos os tempos aumentando no Brasil. Segundo os boletins epidemiológicos do Ministério da Saúde, o número de casos de infecção pelo HIV passou de 37.884 em 2016, para 42.420 em 2017, um crescimento de 11%. E a realidade das contaminações está mais próxima do que se imagina. O Polo de Prevenção de IST & Aids da Universidade de Brasília notificou pelo menos dez casos positivos de HIV e 15 de sífilis em 2018.

 

Considerando que são realizadas cerca de seis mil testagens anualmente, o índice de 0,16% é pequeno quando comparado com a taxa média de incidência da população brasileira, de 0,8%. Ainda assim, não deixa de ser um dado preocupante. “Recebemos um público diferenciado, que não constitui uma amostra da sociedade. Não se trata de um inquérito epidemiológico”, presume o atual coordenador do projeto, José Antônio Iturri de La Mata, professor de Saúde Coletiva da Faculdade de Ceilândia (FCE).

 

O Polo de Prevenção de IST & Aids é um projeto de extensão da UnB cujo objetivo é promover educação sexual à comunidade. São realizadas testagens de quatro infecções sexualmente transmissíveis (IST) – HIV, sífilis, hepatite B e hepatite C. Preservativos e materiais informativos também são disponibilizados, tudo gratuitamente.

No campus Darcy Ribeiro, o atendimento é realizado às quartas-feiras, das 9h às 16h. Na FCE, o polo funciona a cada primeira quarta-feira do mês. Foto: Amália Gonçalves/Secom UnB

 

Com parceria da Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF), chegam a ser distribuídos, mensalmente, 15 mil preservativos masculinos, mil femininos e mil sachês de gel lubrificante. “Não é apenas um lugar de distribuição de preservativos e testagem. A maioria das pessoas são não reagentes, mas se trata de público que quer e precisa de orientação”, assegura José Iturri.

 

“A relação entre prazer e responsabilidade é muito tensa. Como manter uma sexualidade prazerosa e livre, de um lado, e manter um cuidado com a saúde e o corpo, de outro?”, reflete. Para o docente, o mérito do polo está justamente em trabalhar questões que são pouco discutidas na sociedade.

 

HISTÓRICO – Criado em 2004, o polo integrava o Programa Nacional de Saúde e Prevenção nas Escolas. “A UnB foi convidada pelos Ministérios da Saúde e da Educação a participar desse projeto, que também contava com o apoio da Unesco, à época”, informa o psicólogo e professor aposentado Mário Angelo Silva, que coordenou o polo até meados do primeiro semestre de 2018.

 

O objetivo era capacitar professores das redes pública e privada para temáticas relacionadas à educação sexual, como prevenção, violência e relações de gênero. Entre 2004 e 2010, foi desenvolvido projeto de cooperação internacional com países africanos para ajudar na criação de espaços de informação e aconselhamento em Angola, Guiné-Bissau e Moçambique.

 

“O polo se tornou referência para a formação de profissionais em educação sexual”, pontua Mário. A partir de 2012, foi firmada a parceria com a SES-DF para realização de testagem com diagnóstico rápido. “No início, a iniciativa era voltada especialmente para a população LGBT e profissionais do sexo”, conta.

“O projeto é hoje um importante serviço que a UnB oferece à comunidade”, destaca o professor Mário Angelo. Foto: Amália Gonçalves/Secom UnB

 

Em seguida, o serviço passou a ser oferecido no campus Darcy Ribeiro, com ações também nos demais campi. “Os alunos que atuavam no projeto eram capacitados pela Secretaria de Saúde”, frisa o docente.

 

SEXUALIDADE E INFORMAÇÃO – O Polo de Prevenção de IST & Aids realiza mensalmente 500 testagens rápidas. A grande maioria do público é formado por estudantes, jovens com idades entre 19 e 22 anos, mas o projeto também atende servidores e terceirizados da UnB.

 

Atuando como enfermeira voluntária, Heloísa Veiga admite que muitas pessoas chegam sem nenhuma informação a respeito das infecções sexualmente transmissíveis. Ela atribui o problema à falta de investimento em políticas de prevenção de longo alcance. “Não se vê mais propagandas na TV e outras mídias, apenas em determinadas épocas, como Carnaval ou datas específicas”, lamenta.

 

Estudante de Filosofia, Tatiane Rodrigues Santos procurou o atendimento do polo. “Já conhecia o trabalho e acho que a iniciativa dentro do campus facilita. É uma possibilidade de conversar sobre sexualidade e receber dicas”, opina. Ela acha que “os jovens não costumam procurar esse tipo de serviço em outras instituições”.

 

Yan Ribeiro é um dos universitários que integra a equipe do projeto. Graduando em Saúde Coletiva, ele acredita que educação sexual ainda é um tabu, mas que a experiência lhe possibilitará um diferencial na formação. “Abre a visão, temos mais contato com as diversidades e aprendemos a lidar com as diferenças”.

A psicóloga Heloísa Veiga em atendimento a estudante no campus Darcy Ribeiro. Foto: Beto Monteiro/Secom UnB

 

A prevenção de doenças sexualmente transmissíveis é do interesse da estudante Yunara Fernandes Venturelli, que pretende trabalhar na área e atualmente faz parte da Comissão de IST do Conselho de Saúde do DF. “A sexualidade está presente em tudo nas nossas vidas, não apenas nas relações sexuais”, reflete.

 

Em sua percepção, a grande maioria recorre ao polo como ato de emergência após uma relação de risco. “Alguns já vieram mais de uma vez e, mesmo com todas as orientações, continuam se expondo”.

 

Para Yunara, isso é resultado da carência de políticas de educação sexual na infância e adolescência. “A consciência do corpo e de cuidado com a saúde deve ser tratada no ensino fundamental, para que, desde criança, se aprenda sobre liberdade e autonomia sexual”, opina.

 

SAÚDE PÚBLICA – Desde 2016, a denominação Infecção Sexualmente Transmissível (IST) é utilizada pelo Ministério da Saúde, em substituição à expressão Doença Sexualmente Transmissível (DST). A mudança deve-se à possibilidade de uma pessoa ter e transmitir uma infecção, mesmo sem sinais e sintomas.

 

A principal via de transmissão é pelo contato sexual sem o uso de camisinha, mas há também outros agentes, como compartilhamento de seringas e agulhas, especialmente no uso de drogas injetáveis. “A transfusão sanguínea é um risco muito ínfimo, pois o sistema hematológico segue procedimentos rigorosos e seguros na hemoterapia”, diz o médico José Iturri.

 

De qualquer forma, ele alerta para a importância da esterilização de instrumentos pontiagudos. “Salões de beleza e estúdios de tatuagem, por exemplo, devem seguir as recomendações da Vigilância Sanitária."

José Iturri ministra atualmente a disciplina Modelos e práticas de atenção à saúde, do curso de Saúde Coletiva na FCE. Foto: Luis Gustavo Prado/Secom UnB

 

Uma das ações do polo é o acompanhamento das pessoas que tiveram resultado positivo. “Nós orientamos a procurar o centro de saúde mais próximo da residência do indivíduo, mas alguns já nos relataram que o tratamento estava indisponível”, conta. A falha nos serviços públicos de saúde é um grande problema, na visão do pesquisador.

 

“Basta uma aplicação de penicilina para que a pessoa esteja curada da sífilis. No entanto, é crescente os casos de crianças com sífilis congênita”, expõe. Ele refere-se à transmissão vertical, em que as mães passam a infecção ao bebê, via placenta. Em 2017, foram registrados mais de 20 mil casos.

 

O teste rápido disponibilizado no polo acusa quatro infecções sexualmente transmissíveis, mas existem cerca de dez tipos de IST. Embora algumas delas ainda não tenham cura, o portador pode ter qualidade de vida se seguir o tratamento e manter um estilo de vida saudável. “Há pessoas que já vivem há 25 anos com o vírus HIV”, exemplifica Iturri.

 

CONTINUIDADE – Atualmente, a equipe do Polo de Prevenção de IST & Aids é formada pelos professores José Iturri e Mário Angelo, pela enfermeira voluntária Heloísa Veiga e por estudantes – maior força de trabalho.

 

“Neste ano, com a redução das bolsas, os graduandos estão dividindo o benefício financeiro para permanecerem no projeto”, lamenta o professor Mário Angelo. Atualmente, os 13 alunos participam do projeto como extensionistas pela disciplina Modelos e práticas de atenção à saúde. Por isso, o polo, que abria diariamente no Darcy Ribeiro, passou a funcionar apenas uma vez por semana. Em Ceilândia, uma vez por mês.

Professor José Iturri, ao lado de Heloísa Veiga e as estudantes Alice Cardoso, Yunara Venturelli e Lorena Tavares, que atuam no projeto. Foto: Luis Gustavo Prado/Secom UnB

 

O risco de encerramento do projeto existe, por isso o professor Mário tem buscado alternativas para não interromper o atendimento. “O polo hoje é um serviço da UnB e estamos recorrendo ao Decanato de Extensão (DEX) para consolidar uma equipe própria de trabalho."

 

Para marcar o Dia Mundial da Luta contra a Aids, a equipe irá realizar uma ação especial em Ceilândia, no próximo dia 5. Das 8h às 13h15, acontecem a testagem rápida e o aconselhamento (Sala 1 - Multiuso). Entre 9h e 17h, posto de vacinação de adultos (Sala 2 - Multiuso). Das 14h às 17h, roda de conversa e atividade cultural, em parceria com o grupo de hip-hop Jovens de Expressão.

 

SERVIÇO 

Funcionamento do Polo de Prevenção de IST & Aids:

• Campus Darcy Ribeiro: às quartas-feiras, das 9h às 16h – sala A1135/136 – ICC Sul

• Faculdade de Ceilândia: primeira quarta-feira do mês, das 9h às 16h – sala do Serviço de Orientação ao Universitário (SOU)

ATENÇÃO – As informações, as fotos e os textos podem ser usados e reproduzidos, integral ou parcialmente, desde que a fonte seja devidamente citada e que não haja alteração de sentido em seus conteúdos. Crédito para textos: nome do repórter/Secom UnB ou Secom UnB. Crédito para fotos: nome do fotógrafo/Secom UnB.