Gabriel Dorfman
Mais uma estação de verão se aproxima, quando os brasileiros privilegiados deslocar-se-ão para os balneários e cidades litorâneas do país, em busca de descanso. Boa oportunidade para refletir brevemente sobre o que vem há mais de meio século ocorrendo no extenso litoral do país.
A observação das cidades litorâneas brasileiras em geral, e, a título de paradigma dos resultados de um processo que se desenrola há décadas, do balneário catarinense de Camboriú, enseja o recurso a uma variável pouco usada: a relação custo-malefício. Qual o custo de produzir objetos tão grotescos e ofensivos às sensibilidades medianamente cultivadas? Qual o custo de destruir paisagens de beleza ímpar? Qual o custo de legar às futuras gerações testemunhos tão eloquentes da ganância desenfreada e da estupidez humana? Importante: todos esses são custos COLETIVOS – suportados por todos os brasileiros do presente e do futuro.
Fosse Camboriú o único desses objetos de avassaladora relação custo-malefício, isso já seria grave, pelo que aquela cidade trouxe de destruição a um dos mais belos trechos do litoral brasileiro. Infelizmente, no entanto, a tragédia é muito mais ampla; Camboriú é apenas a “cereja do bolo” (qual o ingrediente básico desse bolo?). Há mais de meio século, vêm sendo disseminados no litoral brasileiro objetos de fealdade grosseira1, pastiches provincianos de algo que até hoje goza de admiração – a praia de Copacabana.
Recife, Salvador, Fortaleza, e, perto de Camboriú, Itapema e Florianópolis. Justo Santa Catarina, o estado de um dos mais altos IDHs do país, tem ocupado um lugar de vanguarda no processo de destruição do litoral brasileiro por meio de uma urbanização mal concebida e descontrolada.
Tudo tolerado em nome da velha esparrela da criação de postos de trabalho, da dinamização da economia, da criação de riqueza. Estranha riqueza, esta, constituída por objetos de arquitetura banal, regidos pela lógica do “quanto mais alto, melhor”. Melhor para quem? Talvez, para os que, encarapitados em apartamentos de milhões de reais, dão vazão à compulsão de ostentar sua prosperidade econômica; com certeza, para quem embolsa o grosso dos lucros gerados pela multiplicação desenfreada de metros quadrados de um solo que, em passado mais ou menos remoto, oferecia aos seus ocupantes a possibilidade de fruir de um ambiente aprazível.
Qual o custo disso que é um dos mais trágicos capítulos do processo de ocupação do território brasileiro? O da dilapidação de um patrimônio construído em milhões de anos, que cada geração teria a RESPONSABILIDADE de legar íntegro e bem cuidado às próximas gerações, expressando assim seu compromisso para com elas e a gratidão por ter podido cumprir ali seu ciclo de vida; as gerações futuras de brasileiros, no entanto, só conhecerão as paisagens paradisíacas de seu litoral por meio de fotografias antigas.
Referência
DORFMAN, G. Notícias d´A mais bela capital do Brasil: Gramma Editora - RJ, 2018.
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