Camila Duarte Veras, Eduardo Oliveira Soares, Vanessa Chini e Paola Caliari Ferrari Martins
No ano de 2062, a Universidade de Brasília (UnB) e o Centro de Planejamento Oscar Niemeyer (Ceplan) completarão um século. Tendo em vista que a missão do Ceplan é desenvolver os projetos dos espaços físicos e planejar os campi e as unidades dispersas da Universidade e que tudo é impermanente, que futuro queremos? O que devemos preservar? Transformar? Reinventar?
Pode-se pensar em várias dimensões. Por exemplo, arquitetura, urbanismo, mobilidade urbana, paisagismo, acessibilidade, conforto ambiental, manutenção e assim sucessivamente. Refletir sobre estes aspectos nos remete aos usuários destes espaços, para quem são projetados e planejados: a comunidade universitária. Esta, por sua vez, está imersa em rotinas, vivências, memórias, necessidades, desejos e sonhos. Mas o que nós, parte desta comunidade queremos para o futuro?
No que se refere ao espaço físico, para começar, precisamos promover espaços que acolham a diversidade de pensamentos bem como necessidades funcionais e sociais de nossa comunidade. Então, pensar no futuro envolve ouvir quem circula por esses espaços a fim de entender seus problemas e expectativas. Isso demanda uma boa dose de conversa e debate.
Com foco em 2062, nos disponibilizamos a isso. A equipe do Projeto de Extensão “Centro de Planejamento Oscar Niemeyer (Ceplan): passado, presente e futuro da infraestrutura da Universidade de Brasília” elaborou a Oficina “Arquitetura e infraestrutura na UnB 2062”, inserida nas atividades da Semana Universitária 2025. No auditório da Secretaria de Infraestrutura (Infra), órgão em que o Ceplan atualmente se insere, um grupo de cerca de cerca de vinte pessoas – composto por professores, técnicos administrativos e alunos – formou uma intensa e dinâmica roda de discussão.
Conversas em roda são tipicamente brasileiras. Estamos acostumados com roda de samba, de choro, de capoeira, de gira religiosa, de ciranda, de berequetê, de leitura, de crianças. Roda com início, meio e, novamente, início. Afinal, a roda não tem fim.
A metodologia da oficina se inspirou no pensamento de Antônio Bispo dos Santos1, que propõe um modo de pensar o passado e o futuro a partir da cultura brasileira, e nas atividades desenvolvidas na disciplina Design, Futuros Plurais e Sistemas de Transição, da Pós-graduação em Design da Universidade de Brasília. Ministrada pelo professor Breno Abreu e pela professora Clarice Garcia, a disciplina estimulou o desenvolvimento de uma abordagem metodológica, a Roda do Futuro2, que se propõe pensar possibilidades de futuros sob um olhar decolonial. O desenvolvimento dessa abordagem busca reavaliar dentro do próprio contexto cultural uma metodologia capaz de acolher e abrigar a diversidade em que estamos inseridos.
A Roda do Futuro é ao mesmo tempo abordagem e dispositivo de reflexividade coletiva. Seu êxito não depende de uma execução “perfeita”, mas da capacidade de aprender com o próprio percurso, corrigindo assimetrias, evitando exotizações e sustentando vínculos que convertam imaginação em compromisso praticável. Se a roda se mantém aberta, cuidadosa e iterativa, seus resultados não são apenas produtos (mapa, desejos, lista), mas a instituição de um hábito público: reunir-se para sentir-pensar-agir, de modo que cada fechamento seja um recomeço mais bem informado. Dessa forma, a abordagem recai sobre a diversidade dos participantes que, estando abertos ao compartilhamento, formam uma roda de proposições considerando suas memórias e lembranças, experiências e sonhos.
A atividade da oficina se dividiu em três etapas. A primeira foi a de “Identidade e Reconhecimento”. Após a apresentação de cada participante, foram realizadas perguntas relacionadas à infraestrutura, aos lugares favoritos e aos lugares em que os participantes não se sentiam bem.
Na segunda etapa, a de “Um passo para o futuro”, as respostas foram sistematizadas e complementadas. Mais duas perguntas foram lançadas: Como você imagina a UnB em 2062, ou seja, daqui a 37 anos? O que você gostaria de ver no centenário da UnB em 2062?
Por fim, a terceira etapa se constituiu em um debate sobre expectativas, sonhos e possibilidades da UnB em seu centenário.
Como que registrando uma cápsula do tempo para a UnB de 2062, imaginamos uma universidade...
Pública, gratuita, acolhedora, vanguardista, precursora, resiliente, participativa, dinâmica, humana, valorizada, sustentável e ainda mais diversa e menos elitista.
Com maior autonomia financeira e estabilidade.
Mais integrada à cultura e à vivência de toda população de Brasília.
Viva e aprazível, como Lucio Costa3 imaginava Brasília.
Conectada fisicamente em seus diferentes espaços com percursos acessíveis para todas as pessoas.
Com infraestrutura adequada à segunda metade do século. Talvez ainda persistam problemas nessa área, mas o importante é a crença e o esforço para um futuro melhor.
“Roda mundo, roda-gigante. Rodamoinho, roda pião. O tempo rodou num instante. Nas voltas do meu coração”4. Nas rodas do tempo, lá vai a UnB em direção ao centenário. Esperamos que muitos de nós estejamos lá para celebrar!
Referências
1. Bispo dos Santos, Antônio. A terra dá, a terra quer. São Paulo: Ubu Editora/PISEGRAMA, 2023.
2. DUARTE, Camila; STEMLER, Ivan Sasha Viana; ROSA, Jaquelini Lucas Ferreira da; FORMIGA, Joanette; MAROCCOLO, Maibe; LACERDA, Rafaela de Castro. Cartilha da Roda do Futuro. Brasília. 2025.
3. COSTA, Lucio. Relatório do Plano Piloto de Brasília. Em Relatório do Plano Piloto de Brasília, por GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL. Brasília: GDF, 1991, p. 21.
4. RODA VIVA, Chico Buarque. Em Chico Buarque de Hollanda Vol. 03, 1968.
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