Carlos Eduardo Esch
Hoje comemoramos o Dia do Podcast no Brasil. Mais do que uma mera efeméride, a data pode ser considerada um marco da nossa era digital, já que há vinte e um anos esse termo nem existia no nosso vocabulário corrente e, principalmente, em nossas mentalidades. O podcast é fruto da profunda e dinâmica transformação produzida pela digitalização. Ela nos oferece e, até certo ponto, também nos impõe uma série de recursos que estão alterando, significativamente, uma diversidade de processos humanos como o consumo, o entretenimento, as relações pessoais e sociais, os modos de sentir e, de forma muito importante, como nos informamos.
A evolução das chamadas plataformas digitais que hospedam uma série de serviços (redes sociais, streaming, financeiros, educacionais, governamentais, entre outros), foi conformando parte significativa do que se denomina ecossistema digital, ambientes que originaram novas formas e possibilidades de trabalho, de estabelecer relacionamentos e de produção de serviços e produtos em múltiplas áreas. Com a ascensão dos dígitos binários, as mídias tradicionais, como os bons e velhos jornais, as televisões e as rádios passaram a ter que conviver com novos canais de comunicação.
De múltiplas formas, o podcast é fruto desse processo tecnológico que dotou o cotidiano de uma conectividade impensada até então, com intensidade e velocidade de implementação e alto poder de transformação da vida. A tecnologia nos vinculou funcionalmente a empresas, instituições e pessoas, mesmo que essas ligações, predominantemente operacionais, nem sempre nos aproximem verdadeiramente e, de fato, como humanos e cidadãos.
Diferente do passado analógico, momento no qual o poder de comunicar e informar grandes audiências estava centralizado nos meios tradicionais e controlados pelos seus conglomerados empresariais, a tecnologia baseada nos bits disponibilizou um mundo com um poder inovador de “ligar os indivíduos”, suas vivências e vozes. A comunicação em tempo real proporciona o potencial de estabelecer inumeráveis canais de expressão que fomentam a formação de comunidades virtuais que compartilham experiências, manifestam e confrontam interesses e perspectivas sobre uma série de acontecimentos e temáticas que marcam o mundo.
A vivência do digital tem, em tese, um implícito sentido e potencial democratizante ao instituir processos que fomentam novos produtores e maneiras de elaborar conteúdos comunicacionais, de divulgá-los e, em consequência, de incrementar consumos por parte de usuários da rede. Nesse contexto se insere o podcast como forma de expressão artística, política, cultural, educativa, publicitária, informativa, entre outras tantas possibilidades que possam ainda ser exploradas.
Nesse cenário, o podcast tem um enorme potencial para funcionar como um fator de fortalecimento da democracia ao ser um instrumento de incentivo à participação e manifestação cidadã e ao estabelecimento e consolidação de uma cultura pública que seja influenciada pela diversidade de perspectivas que alimentam e influenciam o debate social. Além disso, ele tem sido utilizado por movimentos e entidades sociais e políticas como instrumento do debate critico que estimula a cobrança cidadã em diversas searas da vida pública e promove o aumento da transparência e da prestação de contas por parte das instituições e agentes estatais que devem, em tese, promover e velar por tudo aquilo que interessa à cidadania.
As percepções sobre as inovações tecnológicas que surgem tendem a ser positivas e otimistas a partir de significados que as colocam como grandes recursos inovadores e transformadores de realidades. No entanto, como qualquer processo tecnológico, com profundo sentido e intenso uso humano, o digital e o desenvolvimento das redes e do ambiente da internet também trouxe inúmeros desafios aos modos como nos apropriamos dos recursos disponibilizados.
Aspectos como o isolamento social, a perda de habilidade de convívio, a dependência da tecnologia, a desinformação articulada, o fomento à polarização social, o ataque a privacidade, entre outros, são consequências que estão vinculadas a fenômenos decorrentes da digitalização. Manifestações que se apresentam como poderosos e contínuos desafios para os indivíduos e para a sociedade, tanto na sua configuração técnico-burocrática quanto nos processos de convivência. Dessa forma, assim como qualquer outra tecnologia, os possíveis valores e sentidos atribuídos ao podcast estão diretamente relacionados ao modo como o utilizamos.
Neste dia de comemoração, as velas da maioridade devem ser sopradas com a consciência do poder do podcast de fomentar a vida social positivamente, mas também com a lucidez dos desafios que se apresentam para mantê-lo, digamos assim, no bom caminho, evitando seu uso para a desinformação e dotando-o de capacidade para enfrentar a saturação de mercado e sobrecarga de conteúdos, a dificuldade de monetização dos novos produtores, a produção ineficiente e sem qualidade entre outras tantas dificuldades que também estão no seu horizonte imediato.
Resta a nós estarmos atentos a tudo o que consumimos na rede e nas mídias tradicionais. Como bom apaixonado pelo áudio, neste dia não poderia deixar de falar... Salve o universo sonoro!!!! Que boas novas sempre nos alcancem por meio do som que nos traz o calor da vida!!!!
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