OPINIÃO

Hugo Leonardo Ribeiro é professor efetivo do Departamento de Música da Universidade de Brasília. Doutor em Música pela Universidade Federal da Bahia (UFBA).

Hugo Leonardo Ribeiro

 

Em 2008, iniciei minha tese de doutorado afirmando que o gênero musical metal não é apenas um dos mais difundidos em todo o globo, mas também um dos que menos recebem atenção dentro da academia. No entanto, diferentemente da maioria dos demais gêneros musicais, sua notoriedade garante que mesmo aqueles que tenham ouvido muito pouco metal, ainda assim, tenham uma opinião sobre ele.

 

Quando falamos em rock, quase todos lembram de suas origens no blues americano, e bandas clássicas como os Beatles ou o Led Zeppelin são facilmente recordadas e associadas ao nome. Todavia, somente os iniciados têm alguma noção do quanto esse gênero se transformou e se ramificou ao longo do tempo. Um de seus ramos mais prolíferos começou com bandas que associávamos ao termo “heavy metal”. Contudo, heavy metal tornou-se uma designação usada por leigos para aquilo que os iniciados chamam, simplesmente, de metal.

 

O gênero metal começou a formar sua identidade estilística no final da década de 1960, na Inglaterra, desenvolveu-se durante os anos 1970 e ganhou enorme popularidade nos Estados Unidos na década de 1980. Suas principais características são o timbre distorcido das guitarras, o alto volume dos shows e da audição em geral, o timbre vocal — muitas vezes tão grave e distorcido quanto o das guitarras, outras vezes limpo e agudo como o do canto lírico —, o uso do sistema modal para evocar certos significados afetivos, o processo composicional baseado em riffs de guitarra, as estruturas rítmicas inicialmente simples e os solos de guitarra virtuosísticos.

 

Porém, uma das marcas da cultura metal é justamente um processo constante de fragmentação que leva ao surgimento de inúmeros subgêneros, cada um desenvolvendo características estilísticas peculiares. Tais divisões também se relacionam com questões de identidade: a necessidade de identificar-se com um grupo específico, não apenas como forma de diferenciação, mas também como tentativa de preservar certa ideologia underground. Se o heavy metal se desenvolveu como um estilo que pretendia subverter a sonoridade musical dominante, acrescentando inicialmente a distorção das guitarras e uma bateria mais grave e “pesada”, à medida que essa sonoridade se torna a nova norma, surge um novo subgênero para confrontar o sucesso do heavy metal, assumindo novamente a posição de underground. Por isso, temos subgêneros como heavy metal, power metal, death metal, doom metal, thrash metal, prog metal, entre vários outros. Esses subgêneros preservam algumas características do grande gênero metal, mas modificam outras, como o timbre da voz, o andamento das músicas ou a complexidade das composições.

 

Ao estudar a cena metal, percebi que uma plateia informada compartilha experiências musicais por meio de expectativas aprendidas, organizadas e percebidas como camadas de significação na escuta musical. Fazer parte de uma cena envolve aprender o que ouvir — como categorizar o que é de importância primária ou secundária — e como avaliar as composições e performances de acordo com esses critérios. Esse aprendizado geralmente leva alguns anos de convívio na cena.

 

Mas, se você quer pular algumas etapas e ter uma boa noção de quais bandas são importantes e qual é o repertório canônico do rock e do metal, está convidado a participar de meu curso de extensão, ofertado todos os anos durante a Semana Universitária da UnB. O curso Heavy Metal para iniciantes — curso de apreciação musical da história do metal faz um passeio musical desde o blues até o black metal, com o objetivo de oferecer aos participantes uma visão geral sobre a grande diversidade de subgêneros relacionados ao metal e de ajudá-los a perceber as semelhanças que os unem e as pequenas diferenças sonoras que os distinguem.

 

 

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