OPINIÃO

Paula Melo Martins é professora na Faculdade de Ciências e Tecnologias em Saúde no campus da Faculdade de Ceilândia na Universidade de Brasília (FCE/UnB).

Paula Melo Martins

 

O 21 de maio é uma data de grande significado para todos aqueles que reconhecem o valor das plantas medicinais na saúde, na cultura e na história dos povos. Nesse mesmo dia, celebram-se o Dia Internacional do Chá, instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU), e o Dia Nacional da Planta Medicinal, instituída pelo Projeto de Lei nº 1.922/2021, em homenagem ao professor Francisco José de Abreu Matos, da Universidade Federal do Ceará, que dedicou toda a sua vida ao estudo das plantas medicinais.

 

O chá é uma das bebidas mais consumidas do mundo, ficando atrás apenas da água. Embora a palavra “chá” tenha sua origem no mandarim e seja muitas vezes associada à espécie Camellia sinensis, planta de origem chinesa, foi introduzida em diversas partes do mundo pelas rotas marítimas. A espécie foi descoberta por volta de 2737 a.C., pelo imperador Shennong, que teria experimentado infusões de diversas plantas em busca de efeitos medicinais. A espécie possui efeito estimulante, antioxidante e diurético. Dela derivam os chás verde, preto, branco e oolong, que se diferenciam pela forma de processamento.

 

O termo chá é amplamente usado para designar infusões de diversas outras plantas, muitas delas com propriedades medicinais. Assim, a prática de “tomar um chá” tanto na China como em outros países está profundamente ligada à sabedoria popular e ao uso tradicional das plantas como forma de cuidado com a saúde, além de um forte elo entre o ser humano e a natureza.

 

No Brasil, essa prática é parte do cotidiano de milhões de pessoas. O país abriga uma das maiores biodiversidades do planeta e uma longa tradição no uso terapêutico de espécies vegetais, resultado da interação entre os conhecimentos indígenas, africanos e europeus. É comum encontrarmos nas casas brasileiras preparos com boldo (Plectranthus barbatus Andrews) para problemas digestivos, capim-limão (Cymbopogon citratus DC. Stapf) para ansiedade, ou guaco (Mikania laevigata Sch.Bip.ex Baker) para acalmar a tosse.

 

O Dia Nacional da Planta Medicinal, também celebrado em 21 de maio, foi instituído como forma de valorizar esse conhecimento e estimular a pesquisa científica e o uso racional das plantas medicinais. A data homenageia o dia de nascimento de Francisco José de Abreu Matos, farmacêutico, professor e defensor da fitoterapia como ferramenta de saúde pública. Sua atuação foi decisiva para o desenvolvimento de projetos como as Farmácias Vivas, que integram o uso de plantas medicinais ao Sistema Único de Saúde (SUS), promovendo acesso, segurança e sustentabilidade.

 

Tanto no cenário internacional quanto no contexto brasileiro, o 21 de maio é uma oportunidade para refletir sobre o papel das plantas medicinais na promoção da saúde e na preservação dos saberes tradicionais. Celebrar o chá é celebrar também a conexão entre natureza e bem-estar, ciência e cultura, tradição e inovação.

 

Em cada xícara de chá medicinal há não apenas princípios ativos vegetais, mas também histórias, territórios e afetos. E reconhecer isso é dar visibilidade a uma prática viva, resistente e essencial para o cuidado integral da saúde humana.

 

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