Caroline de Oliveira Alves
“Maternar” é um verbo que carrega em si a potência do cuidado, da entrega e do amor em movimento. Vai além do simples ato biológico de ser mãe — é sobre viver intensamente a experiência do cuidar, com tudo o que ele traz: de afeto, medo, coragem e renúncia. As mães que vivem a rotina de ter internado o filho em uma UTI Neonatal vivenciam um maternar diferente.
Nesse ambiente altamente tecnológico e controlado, entre sons de monitores, alarmes e rotinas rígidas, o maternar se transforma. Se reinventa. Se ressignifica. Essas mães não foram preparadas para maternar assim, mas aprendem, com cada gesto, a cuidar de seus filhos de um jeito completamente novo. Em vez do aconchego no colo, muitas vezes só é possível oferecer um toque, com as pontas dos dedos, através da portinhola da incubadora. Em vez de amamentar no peito, o leite é extraído para ser ofertado por sonda, gota a gota. Em vez de silêncios íntimos, a sinfonia diária é feita de bipes e respirações artificiais. Cada boletim médico é um turbilhão de emoções — uma mistura intensa de medo, alívio, ansiedade, gratidão e, muitas vezes, dor. E, mesmo assim, essas mães seguem. Com a força que nem sabiam que tinham.
Ao contrário do que muitos imaginam, a UTI Neonatal não é um espaço exclusivo para bebês prematuros. Lá estão recém-nascidos com diferentes condições de saúde: bebês que nasceram a termo, com 9 meses, mas que enfrentaram complicações no parto; bebês com síndromes genéticas, malformações, cardiopatias, infecções graves, e até mesmo aqueles que estão sob cuidados paliativos. Cada história ali é única — e cada mãe também.
Maternar, nesse contexto, é receber alta hospitalar da maternidade com o coração despedaçado e braços vazios, pois o bebê não recebe alta junto, vai para a UTI Neonatal. É acordar cedo, todos os dias, mesmo exausta e em recuperação do parto, para visitar o filho na UTI Neonatal e acompanhar sua evolução. É passar horas ao lado da incubadora, conversando, rezando, esperando. É se dividir entre o bebê que está internado e os outros filhos que aguardam em casa. É abrir mão de si, silenciosamente, para estar presente — inteira — onde mais importa.
É também maternar em parceria com a equipe de saúde, confiando nos profissionais que ajudam a manter a vida do seu filho, aprendendo sobre medicações, sondas, frequência respiratória, procedimentos e planos de cuidado. É criar vínculos mesmo sem o toque, é celebrar cada grama conquistada, cada respiração espontânea, cada medicamento suspendido, cada avanço que parece pequeno aos olhos do mundo, mas representa uma imensidão para quem acompanha a vida do seu bebê.
Neste Dia das Mães, nossa homenagem é para essas mães que descobrem, entre fios e incertezas, um amor que desafia a lógica e rompe qualquer limite. Um amor que nasce no medo, cresce na resiliência e floresce no cuidado. Um amor que não desiste, mesmo quando tudo parece frágil demais.
Às mães da UTI Neonatal: vocês são coragem em forma de presença, ternura em meio ao caos, força delicada que sustenta o impossível. O maternar de vocês é inspiração, é potência, é puro amor.
Feliz Dia das Mães.
ATENÇÃO – O conteúdo dos artigos é de responsabilidade do autor, expressa sua opinião sobre assuntos atuais e não representa a visão da Universidade de Brasília. As informações, as fotos e os textos podem ser usados e reproduzidos, integral ou parcialmente, desde que a fonte seja devidamente citada e que não haja alteração de sentido em seu conteúdo.