OPINIÃO

Maria Regina Catai Chalita é professora de Oftalmologia na Universidade de Brasília.Orientadora da Pós-Graduação na UnB.

Maria Regina Catai Chalita

 

No dia 7 de maio comemoramos o Dia do Oftalmologista. Esta é uma área fascinante que remonta à mais antiga história escrita disponível – e que fez avanços notáveis nos últimos anos. A prática da oftalmologia tem sido documentada desde a antiguidade. Sua existência remonta à Antiga Babilônia com uma referência aos olhos feita no Código de Hamurabi (2250 a.C.) – “Se um médico realizar uma cirurgia ocular e salvar o olho, receberá dez siclos em dinheiro”. No entanto, não foi até o Egito Antigo que o primeiro registro escrito conhecido de tratamentos médicos de doenças oculares foi descoberto no Papiro de Ebers, um rolo de 110 páginas que remonta a 1550 a.C.

Outro texto médico inicial que incluía extensas informações sobre o tratamento dos olhos era o Sushruta Samhita, um texto indiano que é considerado um dos fundamentos da Ayurveda, ou cura tradicional indiana. Os oftalmologistas modernos consideram Sushruta o primeiro cirurgião de catarata. Os métodos descritos por ele são semelhantes ao tratamento cirúrgico primitivo conhecido como couching, que envolvia empurrar a lente turva típica da catarata para o fundo do olho para limpar a visão.

 

Muitos dos principais avanços que levaram à nossa compreensão do olho humano e sua estrutura podem ser datados dos gregos antigos. Aristóteles dissecou os olhos dos animais e foi o primeiro a documentar três camadas no olho. Na Idade Média, lentes e microscópios eram comumente usados para examinar o olho e aprender sobre sua estrutura. Embora a estrutura básica fosse conhecida, ainda havia mistérios a serem resolvidos.

O primeiro hospital do mundo dedicado ao tratamento dos olhos foi fundado em Londres em 1805. É o Hospital de Olhos de Moorfields, o qual ainda está em funcionamento até hoje, sendo referência na oftalmologia. 

 

Com a evolução da medicina e das técnicas cirúrgicas, as cirurgias de catarata deixaram de ser realizadas apenas quando os paciente já apresentavam cegueira pelo opacidade total do cristalino e começaram a ser realizadas quando o indivíduo apresentava baixa de visão importante. Isto só foi possível graças a um oftalmologista chamado Harold Ridley que inventou a lente intraocular para substituir o cristalino. Durante a Segunda Guerra Mundial, Ridley viu vítimas da Força Aérea Real com ferimentos nos olhos e observou que, quando lascas de plástico acrílico das coberturas do cockpit da aeronave ficavam alojadas em seus olhos, isso não desencadeava reação inflamatória, assim como as lascas de vidro. Isso o levou a propor o uso de lentes artificiais para tratar a catarata. Ele testou uma lente fabricada com o mesmo material em 1949, realizando o primeiro implante de uma lente intraocular, embora não tenha sido até fevereiro de 1950 que ele deixou uma lente artificial permanentemente em um olho. Na época, foi extremamente criticado por seus pares, os quais consideravam uma “loucura” deixar um pedaço de acrílico dentro do olho. Graças a médicos visionários e engajados na cura da cegueira como Ridley tivemos avanços incríveis na restauração da visão de milhares de pessoas no mundo. 

 

O campo da oftalmologia é empolgante e está em constante evolução. Embora as microcirurgias de hoje pareçam mágicas para os primeiros médicos, não duvidamos que o mesmo aconteceria com os oftalmologistas modernos se pudéssemos ver o futuro.

 

REFERÊNCIAS

1. Andersen SR (1997). The eye and its diseases in Ancient Egypt. Acta Ophthalmologica, 75: 338-344.

2. Magnus H (1999) Ophthalmology of the ancients. Translated by Waugh RL. Vol 2. Wayenborgh, Oostende pp 461–469.

3. Apple, David J. (2006). Sir Harold Ridley and his fight for sight: he changed the world so that we may better see it. Thorofare, NJ: Slack. ISBN 978-1-55642-786-2.

4. Leffler CT, Klebanov A, Samara WA, Grzybowski A (2020). The history of cataract surgery: from couching to phacoemulsification. Ann Transl Med. 8(22):1551.

 

 

ATENÇÃO – O conteúdo dos artigos é de responsabilidade do autor, expressa sua opinião sobre assuntos atuais e não representa a visão da Universidade de Brasília. As informações, as fotos e os textos podem ser usados e reproduzidos, integral ou parcialmente, desde que a fonte seja devidamente citada e que não haja alteração de sentido em seu conteúdo.