OPINIÃO

 

Rafael Litvin Villas Bôas é professor da Licenciatura em Educação do Campo na Faculdade UnB Planaltina. Coordena o grupo de pesquisa Terra em Cena: teatro, audiovisual e educação do campo.

 

 

Felipe Canova Gonçalves é professor de Artes Visuais e Audiovisual na Licenciatura em Educação do Campo da Faculdade UnB Planaltina e no Mestrado Profissional em Artes (ProfArtes/IdA). É integrante da coordenação do grupo de pesquisa Terra em Cena: teatro, audiovisual e educação do campo.

 

 

Kelci Anne Pereira é professora da área de educação na Licenciatura em Educação do Campo da Faculdade UnB Planaltina e integrante do Coletivo Terra em Cena. Pesquisa e desenvolve projetos de extensão na temáticas educação popular do campo, agroecologia e artes.

Rafael Litvin Villas Bôas, Felipe Canova Gonçalves e Kelci Anne Pereira

 

O Coletivo Terra em Cena se organiza no campus de Planaltina da UnB como uma ação extensionista desde 2010, primeiro como projeto e depois como programa de extensão com várias ações articuladas. Começamos essa história porque notamos que para fortalecer a formação estética e política das/dos futuras/os professores/as do campo era necessário estender a experiência de trabalho com as linguagens artísticas para o período em que nossas/os estudantes estão atuando em suas comunidades de origem, no que denominamos Tempo Comunidade. Desta forma, as turmas da Licenciatura em Educação do Campo poderiam protagonizar experiências formativas e pedagógicas envolvendo escolas e comunidades camponesas e quilombolas.

 

O curso em que atuamos forma por áreas de conhecimento, habilitando em Linguagens, Ciências da Natureza e Matemática, e organiza-se em dois eixos metodológicos durante o Tempo Comunidade: o de Inserção Orientada na Escola (IOE) e o de Inserção Orientada na Comunidade (IOC). Nesse contexto, compreendemos que o Terra em Cena colabora para que as linguagens artísticas e a cultura se articulem com processos de formação e organização social, estabelecendo os elos entre educação popular, cultura popular e comunicação popular, tanto buscando a formação de lideranças populares quanto a socialização dos meios de produção das linguagens artísticas para o fortalecimento das lutas camponesas e quilombolas.

 

Desde então diversos coletivos foram criados nas comunidades em que atuamos: a Brigada Semeadores, junto ao MST/DFE (2003-2013); o grupo Arte Kalunga Matec (2010), na comunidade Engenho II do quilombo Kalunga; o grupo Consciência e Arte (2011), no assentamento Itaúna; o Coletivo Arte e Cultura em Movimento (2011), no assentamento Virgilândia (GO); o grupo Vozes do Sertão Lutando por Transformação (VSLT), em Cavalcante (GO); o Coletivo Cenas Camponesas (PI). Em 2023, foram fundados o grupo Ledocênicas, por estudantes da LEdoC que residem nos arredores de Planaltina em 2023; e o grupo Jiquitaias, das comunidades quilombolas Kalunga Diadema e Ema, do quilombo Kalunga, em Teresina de Goiás (GO). Temos, ainda, o próprio Terra em Cena, que, em diversos momentos dos seus 14 anos de existência, atuou como elenco, montando peças de construção própria, como “Contra quê? Contra quem?” (2010), ou versões adaptadas de obras de referência do teatro político, como “Mutirão em Novo Sol” (2011 e 2012), além de realizar encenações para rua e versões audiovisuais de cenas de um grupo de agitação e propaganda soviético chamado Coletivo Blusa Azul, que atuou entre 1923 a 1927 na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), no âmbito do projeto Terra em Cena Conta Coletivo Blusa Azul (2017). Além disso, as produções coletivas de murais no campus de Planaltina e nas escolas do campo, assim como a criação de documentários por estudantes da LEdoC sobre seus territórios de moradia são resultados da práxis de nosso coletivo.

 

As disciplinas da Licenciatura em Educação do Campo ministradas por docentes do Terra em Cena se articulam às demandas organizativas, pedagógicas e políticas do curso: para o seminário dos 15 anos da LEdoC, a disciplina “Fundamentos Básicos das Artes Plásticas” produziu estandartes com os nomes das turmas do curso, que são nomes de pessoas que se destacaram na luta pela democracia e pela reforma agrária. As figuras destas pessoas foram gravadas nos estandartes por meio da técnica do stencil. Para as atividades da comissão de divulgação do vestibular da LEdoC, em 2024, a disciplina de “Oficina Básica de Artes Cênicas” (OBAC) construiu cenas de Teatro Fórum e de Teatro de Agitprop para serem apresentadas em escolas, comunidades camponesas e quilombolas, bem como em acampamentos e assentamentos da reforma agrária, no momento em que a comissão de divulgação do vestibular fazia o chamamento para o curso e explicava a forma de seu funcionamento.

 

Ao longo de 14 anos, organizamos cinco edições da Mostra Terra em Cena e na Tela, no DF, GO e PI, e, em 2024, faremos a VI edição da Mostra, na cidade de Cavalcante, em Goiás. O método de preparação para as Mostras envolve o processo de apoio, pelos formadores/as do Terra em Cena, aos grupos parceiros da Rede Terra em Cena, acompanhando-os em ensaios preparatórios às apresentações e debates durante as Mostras. Também realizamos curadorias e processos de produção audiovisual junto aos coletivos parceiros do Terra em Cena e organizamos práticas de criação e pintura coletiva de painéis e murais, visando expressar a identidade, a cultura e a resistência dos povos e comunidades camponesas nas paredes dos territórios por onde a Mostra passa.

 

O Terra em Cena trabalha de forma articulada com as dimensões do ensino, da extensão e da pesquisa. Desde 2016 somos também um grupo de pesquisa cadastrado no CNPQ. E desde 2017 criamos, em parceria com alguns coletivos e movimentos sociais, a Escola de Teatro Político e Vídeo Popular do DF. Publicamos dois livros coletivamente e muitos artigos, monografias, dissertações e algumas teses foram escritas envolvendo os temas, questões e experiências desenvolvidas pelo Terra em Cena. Os livros “Teatro político, formação e organização social” e “Cultura e Política: narrativas da Escola de Teatro Político e Vídeo Popular” podem ser encontrados no blog. Entendemos que o esforço da sistematização é fundamental para avançarmos no processo de informação, formação e organização, assumindo a inerente relação entre política e arte, bem como defendendo a arte como um direito humano pelo qual nos fazemos seres poético-políticos!

 

 

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