OPINIÃO

 

Flaviane de Carvalho Canavesi é professora, pesquisadora e extensionista na Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Brasília. Atua no Núcleo de estudos, pesquisa e extensão em Agroecologia.

Flaviane de Carvalho Canavesi

 

A Agroecologia, compreendida como campo científico que integra áreas do conhecimento em perspectiva interdisciplinar, vem sendo a base de pesquisas e de ensino na Universidade de Brasília, com interface em extensão universitária que promove uma atuação dialógica em campo com experiências da agricultura familiar em sua diversidade identitária, povos originários e comunidades tradicionais.

 

Não há como compreender a Agroecologia fora das lutas camponesas por terra e territórios e pela defesa das identidades de povos e comunidades tradicionais. É constante a observação dos grupos de agricultoras(es), em interação com as pesquisas realizadas pela UnB, que acessam mercados institucionais ou comercializam em feiras agroecológicas sem nem mesmo ter a regularização de suas áreas de produção e vida. A segurança fundiária das áreas de produção de alimentos saudáveis possibilitaria o acesso a créditos e investimentos a longo prazo, nos sistemas biodiversos de produção e sobretudo na infraestrutura social de habitat, fatores hoje inexistentes na maioria das áreas.

 

A extensão rural é considerada a primeira política pública para o rural que traz a Agroecologia como referencial para agriculturas de base sustentável. Integrada a ações de extensão rural e reforma agrária já nos anos 2000 no governo Olívio Dutra, no RS, traz subsídios, junto a outras iniciativas, à Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica. Mais tarde, a extensão rural facilmente performou a Agroecologia em conceitos genéricos e evasivos como o termo “sustentável”. É com a Política Nacional de Agroecologia e Agricultura Orgânica, em 2012, que fica mais evidenciada a necessidade de impulsionar, através de políticas públicas, um processo de transição Agroecológica.

 

O Departamento de Assistência Técnica e Extensão Rural, da Secretaria de Agricultura Familiar e Agroecologia do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (Dater/Safa/MDA), com o objetivo de fortalecer a execução da Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (Pnater), busca, através da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Brasília (FAV/UnB), parceria para desenvolver estudos que possam qualificá-la, possibilitando, através da pesquisa e da formação continuada, a revisão dos processos até então iniciados.

 

No momento em que celebramos o Dia Internacional de Luta dos Trabalhadores do Campo, e uma década do Ano Internacional da Agricultura Familiar escolhido pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), ressaltamos a importância para o ensino, a pesquisa e a extensão universitária, entendendo a extensão rural e agroecologia nesse contexto de políticas públicas importantes para o fortalecimento da agricultura familiar e de uma reforma agrária e urbana como ponto de partida para impulsionar a produção e disponibilização de alimentos.

 

No mês de março, lançamos o projeto trienal de pesquisa ERA – Extensão Rural e Agroecologia: os princípios e objetivos da Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural revisitados. Sua execução pode ser seguida pelas redes sociais.

 

Pretendemos, a partir das metas que reúnem levantamento de dados, apresentação e discussão de recomendações em espaços de participação social, formação continuada e produção de artigos, referenciais metodológicos, cartilhas e informes, contribuir com conhecimentos que possam aportar com o desenvolvimento dos territórios.

 

A UnB necessária em interação com a realidade dos territórios, incidindo para qualificar políticas públicas a partir de uma ciência contextualizada e cidadã.

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