OPINIÃO

Robson Vasconcelos Carvalho é doutorando em Ciência Política na UnB e membro do grupo de pesquisa Democracia e Desigualdades.

Robson Carvalho

 

Diante das postagens do empresário Elon Musk, na rede digital de sua propriedade, o ex-twitter, que é claramente identificado e sintonizado com a extrema-direita, fiquei com a impressão de que ele e Jair Bolsonaro têm os mesmos roteiristas; aliás, impressão, não, certeza mesmo. Os discursos e posicionamentos, a forma de ataque e a linguagem utilizada são os mesmos, e, inclusive, uma de suas falas são idênticas às de Bolsonaro, quando, ainda presidente da república, discursou na Avenida Paulista e atacou ao Supremo Tribunal Federal e especialmente o ministro Alexandre de Morais.

 

Para mim, nada de surpresa, pois, há anos venho alertando para a não-neutralidade das plataformas de redes e mídias digitais, tidas por “sociais”; são empresas privadas de comunicação estrangeiras e como tais, têm seus próprios interesses e estão por trás da chegada da extrema direita ao poder – e dos ataques à democracia – em diversas partes do planeta.

 

Já se sabe que as chamadas big-techs têm tanto poder no mundo, que chegam a funcionar com “Estados-Paralelos”. Mas, sinceramente, não sei se o que mais me chama a atenção no caso do Brasil, é a violência e a forma explicita como uma delas, (o ex-twitter) por meio de seu proprietário, Elon Musk, ataca à democracia e as instituições ou se é o complexo de vira-latas sem noção da extrema direita e de setores da direita e da imprensa brasileira que respaldam tais ataques, ou mesmo dão visibilidade à questão no debate público, como se fosse uma questão de mera opinião.

 

Ora, descumprir as leis de um país, desdenhar de sua constituição e atacar suas autoridades públicas, constituem, inequivocamente, atos criminosos que devem ser veementemente desautorizados e punidos. Países diversos da América do Norte e da Europa têm se posicionado duramente contra estes tipos de ataques e os proprietários de diversas empresas já foram ao banco dos réus e parlamentos pelo mundo.

 

E, no caso do Brasil? O que vemos? Discursos oportunistas que respaldam os ataques às leis e consequentemente à nossa soberania nacional. O Brasil e nós, brasileiros, merecemos respeito! Lamentavelmente, um tema de tamanha gravidade, que poderia unir polos opostos na política, se depara com uma postura onde um deles aproveita-se da situação para se promover. E falando em “promoção”, Elon Musk acaba de restaurar e promover, contra uma ordem judicial do Supremo Tribunal Federal, a conta no ex-twitter do criminoso, covarde e foragido blogueiro Alan dos Santos, fortalecendo-o perante uma horda de alienados, da mesma espécie que depredou as sedes dos três poderes no 8 de janeiro de 2023.

 

Sob o discurso de liberdade de expressão, opinião e pensamento, gera-se uma grande cortina de fumaça que acaba se espalhando com rapidez diante da polarização fabricada e escondendo, mais uma vez, a gravidade da perturbação do debate público e do ataque à democracia e às instituições brasileiras, em momento delicado: primeiro, porque há projetos fundamentais sobre a urgente regulamentação das plataformas de mídias digitais no Congresso Nacional, e segundo, porque estamos às vésperas do início de mais um processo eleitoral, onde o Tribunal Superior Eleitoral tem se esforçado para endurecer as regas e minimizar a interferência indevida nas eleições.

 

O viralatismo oportunista e submisso da extrema direita e do bolsonarismo brasileiro, apenas comprovam, com este tipo de atitude, que, de patriotas, nacionalistas e defensores da soberania nacional, eles não têm absolutamente nada.

 

Material publicado, em 09 de abril, no Youtube

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