OPINIÃO

Vanessa Oliveira Tavares é mestre em Linguística e revisora de textos da Secretaria de Comunicação da Universidade de Brasília (Secom/UnB).

Vanessa Oliveira Tavares

 

As origens da prática da revisão de texto certamente são bastante remotas, muito próximas à invenção da escrita. Já a sua profissionalização foi esboçada na atividade dos monges copistas e estabeleceu-se com o surgimento da Imprensa Gutemberg.

 

No início, portanto, livros e jornais eram o foco do trabalho de quem revisava e estes exigiam do profissional o conhecimento específico de determinada variedade linguística, formal e padrão. Desde então, muitas transformações aconteceram na comunicação e nas práticas sociais que as envolvem, que levaram ao surgimento de outros tantos gêneros textuais e suportes.

 

No entanto, permanece no senso comum a noção de que o correto é exclusivamente o que atende às regras do formal, padrão e escrito. E, consequentemente, que o papel de quem revisa é meramente patrulhar o cumprimento estrito a essas prescrições gramaticais, não importando onde e nem quando.

 

De fato, a revisão de texto é indispensável nas atividades de uso formal da língua, principalmente em âmbitos governamentais e empresariais, não à toa que, por muito tempo, redação oficial foi uma das principais atividades atribuídas ao profissional de revisão.

 

Com o avanço dos estudos linguísticos e as mudanças nas formas e nos meios de comunicação, essa configuração e esse espaço foram se expandindo, apesar de ainda hoje, no senso comum, prevalecer a ideia de que a língua se resume à norma padrão, e que qualquer texto que não se encaixe em suas prescrições está errado. Mas, por ser essa uma crença que resulta da compreensão estreita sobre o que é uma língua, como ela funciona e qual o seu papel na sociedade, ela pode e deve ser superada por meio da educação e da conscientização dos falantes.

 

As línguas têm variedades, cujos usos e características envolvem aspectos como contexto, identidade, localidade e cultura. A variedade padrão, a da gramática normativa, que tradicionalmente tem sido entendida como única correta, é apenas mais uma e, como todas as outras, tem sua hora e lugar de uso.

 

Por isso que o papel do revisor envolve, entre outras atividades, conferir e adequar palavras, usos, estruturas, expressões a cada variedade e modalidade (oral ou escrita) da língua, considerando o gênero textual e a prática social em que ela se manifesta. Por isso mesmo há diversas áreas de atuação, como revisão de livros, de conteúdo para web (sites, redes sociais, aplicativos...), de trabalhos acadêmicos, de traduções, de publicações científicas, entre outras.

 

A tecnologia ampliou a área de atuação do revisor. Além de trazer novos nichos, também trouxe ferramentas que potencializam muito o seu trabalho.

 

Inclusive, no que se refere à discussão atual sobre a possível ameaça das inteligências artificiais (IAs) para a profissional de revisão, arrisco-me a prever que, assim como o corretor do Word, que de possível ameaça tornou-se um aliado (nas marcações, na comparação de versões do documento, na busca por erros de digitação e afins), as IAs podem ser uma ferramenta muito útil no desenvolvimento do trabalho de quem revisa texto.

 

Para isso, é essencial que as inteligências orgânicas que atuam nesta área busquem manter-se atualizadas com as demandas da sociedade. Desenvolvam ou reforcem habilidades relacionadas à tecnologia, interação social, a desenvolvimento de soluções, e de busca de conhecimento.

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