Rodrigo Gurgel Gonçalves

Estamos enfrentando a maior epidemia de dengue do DF. Em janeiro de 2024 foram registrados quase 31 mil casos prováveis segundo o Ministério da Saúde, número 11 vezes maior em relação ao mesmo período de 2023. A epidemia cresce a cada dia, até 6 de março foram registrados 120 mil casos prováveis no DF, que está no topo da incidência de dengue no Brasil. O que está acontecendo?

As epidemias de dengue são resultantes de múltiplas causas: aumento da temperatura e das chuvas devido a fenômenos climáticos, saneamento básico inadequado, número de agentes de saúde insuficientes, baixa eficácia das ações do governo para controlar o Aedes aegypti, descontinuidade das ações durante o ano, dificuldade da população para eliminar os criadouros domésticos, resistência dos mosquitos aos inseticidas e existência de quatro sorotipos circulando ao mesmo tempo no país, favorecendo as reinfecções. Nesse cenário, o mosquito se reproduz, o vírus é disseminado, as pessoas adoecem, os hospitais enchem e os governos emitem decretos, como foi feito pelo GDF.

A boa notícia é que novas tecnologias de controle de A. aegypti foram desenvolvidas. A OMS indica a necessidade de incorporação dessas tecnologias nos serviços de saúde, entre elas o método Wolbachia, as Estações Disseminadoras de Larvicidas (EDLs) e a Borrifação Residual Intradomiciliar (BRI), as quais são recomendadas pelo Ministério da Saúde.

A soltura de A. aegypti com a bactéria Wolbachia é uma estratégia interessante. Após sucessivas gerações, o número de mosquitos com Wolbachia tende a aumentar até que a população inteira de mosquitos tenha esta característica. A bactéria reduz em 50% o tempo de vida dos mosquitos e impede que o vírus da dengue se desenvolva nos mesmos. Apesar do sucesso dessa tecnologia, há necessidade de uma infraestrutura especializada, que dificilmente é encontrada nos municípios.

O uso de EDLs é uma tecnologia de baixo custo para controle de A. aegypti. A EDL é um pote plástico escuro com água, no qual é impregnado um larvicida. Os mosquitos pousam na EDL, as partículas do larvicida ficam impregnadas e eles as transportam para os criadouros, inviabilizando o desenvolvimento das larvas. As EDLs facilitam a disseminação do larvicida pelos próprios mosquitos, que naturalmente são melhores do que os agentes de saúde para detectar criadouros. Pesquisas da UnB usando EDLs mostraram redução de 66% na quantidade de mosquitos em São Sebastião. Estudos realizados nos prédios da UnB também a eficácia das EDLs. Outra pesquisa da UnB objetiva reduzir a densidade de mosquitos em uma área de alta vulnerabilidade na Estrutural usando EDLs. Devido ao baixo custo e eliminação de criadouros escondidos e de difícil acesso, as EDLs são tecnologias que devem ser incorporadas pelos serviços de controle.

A BRI é a aplicação de inseticida de ação residual nas paredes internas dos imóveis por um agente de saúde, geralmente usada para controle dos vetores da malária, doença de Chagas e leishmanioses. Ao pousar na parede, o mosquito entra em contato com o inseticida e morre. Vários estudos demonstraram a eficácia do método para A. aegypti e o Ministério da Saúde recomenda o uso antes do início do período epidêmico, principalmente em imóveis com grande circulação de pessoas (escolas, unidades de saúde, centros comunitários).

Essas tecnologias de controle de mosquitos, aliadas às vacinas, trazem um reforço importante para o enfrentamento das epidemias de dengue, que também deve ser realizado com ajuda da população, cuidando da limpeza da residência e eliminando eventuais criadouros. No DF recomendamos a aplicação imediata de EDLs e BRI. Para isso, elaboramos um plano de ação junto com a equipe da SES-DF para incorporar essas tecnologias para o controle de A. aegypti. Me alegro na esperança de viver em uma capital sem tantas pessoas adoecendo e morrendo por dengue. Para isso, universidades, população e governo devem andar de mãos dadas, cada um fazendo a sua parte.

Clique aqui para visualizar a apresentação sobre a dengue

Saiba mais sobre os resultados do controle com EDLs em São Sebastião