OPINIÃO

Rodrigo Miloni Santucci é professor da Faculdade UnB Planaltina (FUP), doutor em Geociências pela Universidade Estadual Paulista. Foi paleontólogo do Departamento Nacional de Produção Mineral.

Rodrigo Miloni Santucci

 

No dia 07 de março de 1958, a comunidade paleontológica brasileira, reunida nas dependências do então Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), no Rio de Janeiro, aprovou o estatuto de fundação da Sociedade Brasileira de Paleontologia. Esse era o desfecho de uma série de reuniões e discussões anteriores sobre a importância dos estudos paleontológicos e da necessidade de reconhecimento e expansão da Paleontologia no país que estavam mais restritos ao próprio Rio de Janeiro e, em menor grau, em São Paulo e no Rio Grande do Sul.

 

Não é por menos que o dia de fundação da Sociedade Brasileira de Paleontologia também marca no Brasil o dia do paleontólogo – o profissional que tem os fósseis como foco principal de estudo.

 

É interessante notar que não existe um curso de graduação em Paleontologia no Brasil, e o mesmo roteiro se repete na grande maioria dos outros países. Muitas vezes, o aspirante a paleontólogo faz um curso de graduação primeiro e depois se especializa, com mestrado e doutorado em paleontologia. As carreiras que mais “fornecem” candidatos a paleontólogo são as de Biologia e Geologia. Mas como se trata de uma área do conhecimento essencialmente multidisciplinar, há paleontólogos formados em Ecologia, Física, Geografia, Medicina, entre outras áreas. Ainda, mais recentemente, vemos um interessante crescimento do número de pessoas vindas das áreas das artes e design se tornando paleoartistas, produzindo ilustrações, animações e modelos de fósseis, com papel fundamental para a divulgação dos trabalhos científicos para o público em geral.

 

Ao longo do tempo também é possível perceber que as atividades e estudos realizados pelos paleontólogos ficaram cada vez mais diversificados pois, além dos clássicos trabalhos de campo com marretas, talhadeiras e catalogação de informações, hoje temos mais recursos para pesquisa e equipamentos disponíveis para análise cada vez mais sofisticados, os quais permitem a realização de estudos estatísticos, análises químicas e de imageamento com maior resolução e precisão, como é o caso do uso da tomografia computadorizada, a qual permite a visualização e reconstrução da anatomia interna dos fósseis de forma não destrutiva.

 

Felizmente, essa tendência de mudança mundial nas abordagens de estudos paleontológicos também é percebida nos trabalhos de paleontólogos brasileiros nas últimas décadas, os quais têm obtido cada vez mais inserção e relevância internacional.

 

A preocupação com a preservação do patrimônio nacional também tem levado os agentes públicos responsáveis pela preservação do patrimônio paleontológico a tomarem medidas de proteção em relação aos fósseis. Nesse sentido, são cada vez mais comuns as exigências de ações de salvamento paleontológico realizadas por profissionais da área em obras que envolvam movimentação de rochas com potencial fossilífero. Nesse caso, entretanto, a legislação relacionada a essas atividades de salvamento ainda não é clara e efetiva o suficiente para garantir a preservação do patrimônio paleontológico em todas essas obras.

 

Neste dia do paleontólogo, e no ano em que comemoramos o 66º aniversário da Sociedade Brasileira de Paleontologia, podemos dizer que a comunidade paleontológica brasileira vem ganhando mais relevância e tem interagido de forma mais dinâmica com o público em geral, mostrando a importância do estudo dos fósseis para o entendimento do passado do nosso planeta e dos processos evolutivos, contribuindo com o debate sobre mudanças climáticas ou mesmo para a contemplação da posição dos seres humanos diante da vastidão do tempo geológico.

Neste dia do paleontólogo desejo que todos aqueles que amam o passado da Terra tenham um brilhante futuro pela frente!

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