OPINIÃO

Flávia Lara Barcelos é professora na Faculdade de Medicina na Universidade de Brasília. É nefrologista, médica intensivista e Chefe da Divisão Médica do Hospital Universitário (HUB-UnB).

Flávia Lara Barcelos

 

O Dia Mundial do Rim é uma campanha global criada pelas Sociedade Internacional de Nefrologia (International Society of Nephrology - ISN) e pela International Federation of Kidney Foundations (IFKF), que são instituições internacionais sem fins lucrativos em 2006. Desde então, esse dia é comemorado sempre na segunda quinta-feira do mês de março anualmente.

 

Essa celebração foi idealizada com objetivo de ampliar a conscientização sobre a importância do funcionamento adequado dos rins para manutenção de uma vida saudável. Além disso, visa divulgar os fatores de riscos relacionados ao desenvolvimento da doença renal crônica e, assim, reduzir a incidência das doenças renais e dos impactos clínicos relacionados a ela.

 

A doença renal crônica (DRC) é uma síndrome clínica definida por alterações de um dano estrutural renal ou pela redução da função renal estimada por meio da taxa de filtração glomerular. Essas alterações devem persistir por três meses ou mais para, assim, caracterizar uma DRC. Ela se manifesta de forma assintomática na maior parte dos casos, o que dificulta o seu diagnóstico precoce. As manifestações clínicas mais frequentes são retenção de líquidos, elevação dos níveis pressóricos, falta de ar, fraqueza e perda do apetite. Esses achados clínicos estão relacionados a redução da capacidade de filtração e depuração de toxinas que ocorrem nos estágios mais avançados da DRC. Destaca-se também o aumento do risco cardiovascular relacionado com estimada com redução da taxa de filtração glomerular ou “perda da função renal” e com o aumento do nível proteinúria do paciente. Quando a doença é identificada nas fases mais tardias, o dano renal muitas vezes é irreversível, sendo necessária a instituição de tratamento dialítico para alívio dos sintomas e manutenção da vida. Estima-se que, no Brasil, cerca de 50 mil pessoas por ano com doença renal morrem precocemente antes de ter acesso à diálise ou ao transplante, segundo dados da Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN).

 

As principais causas de doença renal crônica no Brasil é o diabetes mellitus e a hipertensão arterial. Outros fatores de risco modificáveis envolvidos na patogenia da DRC são o tabagismo, a obesidade e o sedentarismo.

 

A prevalência mundial da DRC na população adulta foi estimada em 9,1% em estudo realizado 2017. No Brasil, é estimado que 8,9% da população tenha algum grau de DRC. A Sociedade Brasileira de Nefrologia estimou que 148.363 pessoas estão em terapia dialítica, de acordo com censo realizado em julho 2021, com taxa de mortalidade bruta estimada de 22,3%. Esses dados mostram a extensão da prevalência da DRC, sendo de grande relevância a realização de ações que divulguem a medidas preventivas e de diagnóstico precoce da doença renal.

 

A Campanha do Dia Mundial do Rim de 2024 aborda o tema “SAÚDE DOS RINS (& exame de creatinina) PARA TODOS: porque todos têm o direito ao diagnóstico e acesso ao tratamento”. Nesse sentido, a campanha visa à divulgação de medidas de prevenção de doenças renais como, por exemplo, o controle adequado de hipertensão arterial e diabetes mellitus e a adoção de hábitos saudáveis como a prática de atividade física e cessação do tabagismo. A campanha enfoca também no rastreamento sistemático da DRC em pacientes com DM e HAS com dosagem de creatinina sérica (marcador da taxa de filtração glomerular). Além disso, ressalta a necessidade da equidade do acesso ao diagnóstico e tratamento precoce para todos por meio da implementação de políticas públicas que garantam o acesso aos meios diagnósticos, às medicações de alto custo e suporte de terapia renal substitutiva de forma ampla e equânime a toda população. Esse se configura um dos maiores desafios considerando o cenário atual do Sistema Único de Saúde diante das disparidades socioeconômicas entre as diversas regiões do Brasil.

 

Referências

1. Global, regional, and national burden of chronic kidney disease, 1990-2017: a systematic analysis for the Global Burden of Disease Study 2017

2. Nerbass, Fabiana B., et al. "Censo Brasileiro de Diálise 2021." J Bras Nefrol. 45.2 (2022): 192-198.

3. Gregorio T Obrad. GT. Epidemiology of chronic kidney disease.In uptodate 2024

4. Sociedade Brasileira de Nefologia. Dia Mundial do Rim https://dmr.sbn.org.br/#sobre

 

ATENÇÃO – O conteúdo dos artigos é de responsabilidade do autor, expressa sua opinião sobre assuntos atuais e não representa a visão da Universidade de Brasília. As informações, as fotos e os textos podem ser usados e reproduzidos, integral ou parcialmente, desde que a fonte seja devidamente citada e que não haja alteração de sentido em seu conteúdo.