OPINIÃO

 

Anelise Gregis Estivalet é professora do Programa de Pós-Graduação em Direitos Humanos e Cidadania (PPGDH/UnB) e pós-doutoranda da Cátedra Unesco em Educação a Distância da Universidade de Brasília.

Anelise Gregis Estivalet

 

A era digital gerou muitos avanços, inclusive em relação à emancipação das mulheres. No entanto, essa mesma tecnologia introduziu novas formas de desigualdade, resultando em menos meninas e mulheres nas carreiras tecnológicas e nas que utilizam serviços digitais. Dados da ONU Mulheres (2022), revelam que a exclusão das mulheres do mundo digital deixou de gerar 1 trilhão de dólares para os países de baixa e média renda na última década. Estima-se que essa perda chegará a 1,5 trilhão de dólares até 2025 (UN Women’s Gender Snapshot 2022). A inversão desse quadro exigirá o enfrentamento, dentre outros problemas, da violência e do assédio on-line. Segundo a Unesco (2022), apenas 1 a cada 4 mulheres denunciam às plataformas a violência online sofrida.


Conforme a tecnologia avança em nossa vida diária, aumenta também a desigualdade de acesso entre homens e mulheres. De acordo com o Informe Inovação, mudança tecnológica e educação na era digital para alcançar a igualdade de gênero e o empoderamento de todas as mulheres e meninas, publicado no final de 2022 pela ONU, 63% das mulheres têm acesso à internet, enquanto os homens, 69%. As mulheres, ainda, têm 12% menos probabilidade de possuir um telefone celular, percentual que permanece praticamente inalterado desde 2019, ou seja, antes da pandemia do covid-19. Essa desigualdade é ainda mais acentuada se levarmos em conta diferenças raciais, etárias, socioeconômicas ou de local de moradia. Nos países menos desenvolvidos, por exemplo, somente  25% da população está conectada – sendo que os homens tem 52% mais chances de fazerem parte desse grupo, mesmo que a banda larga móvel esteja disponível para 76% da população.


No que se refere ao ingresso de meninas e mulheres em carreiras relacionadas à tecnologia, elas representam menos de um terço dos funcionários do setor em todo o mundo. Aquelas que conseguem ingressar nesse setor, geralmente enfrentam um ambiente hostil, além das diferenças salariais e taxas de promoção significativamente mais baixas (52 mulheres para cada 100 homens). Quase metade delas, 48%, relata ter sofrido assédio no local de trabalho. Por consequência, essa ausência de mulheres no mundo da tecnologia acaba por refletir nas inovações tecnológicas. Afinal, a tecnologia reflete seus criadores. E, por não ser pensada por mulheres, ela dificilmente será feita para mulheres.


Portanto, todas essas informações servem para alertar que precisamos, urgentemente, de ações propositivas. Precisamos não só ampliar as estruturas jurídicas, como no caso da violência on-line, mas também a efetividade no atendimento das demandas recebidas, diminuindo a revitimização. Por fim, ensinar cidadania digital pode não só motivar meninas e mulheres a seguirem carreiras tecnológicas, como também pode ajudar a minimizar a violência on-line, ensinando meninos e homens a se tornarem defensores da igualdade de gênero.

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