OPINIÃO

Carlos Alberto Ramos é graduado em Ciências Econômicas pela Universidade de Buenos Aires (1975), mestre em Economia pela Universidade de Brasília (1985) e doutor em Economia pela Université Paris 13 (Paris-Nord) - Campus de Villetaneuse (1992). Atualmente é professor adjunto da Universidade de Brasília. Tem experiência na área de Economia, com ênfase em Economia dos Recursos Humanos.

Carlos Alberto Ramos



As avaliações da ópera-bufa de Trump (e do Trumpismo, se chegar a perdurar) ocuparão mentes por décadas, tentando compreender como a nação que é fronteira tecnológica do mundo e sua maior potência econômica e militar abriu espaço para que um personagem entre grotesco e burlesco chegara à presidência. Contudo, uma até superficial observação da distribuição geográfica de seus votos induz a concluir que, muito provavelmente, no trumpismo está a revolta da América Profunda, a âncora social de sua ascensão, contra as elites da costa oeste e do nordeste. E, complementando essa perspectiva, o status da meritocracia como valor social está sendo colocado no centro do debate.


Lembremos que a meritocracia como conceito e objetivo político foi introduzido no debate pelo sociólogo britânico Michael Young (1915-2002) e, na sua concepção, foi assumido como um prisma progressista (de esquerda) uma vez que outorgava ao combate a favor da igualdade de oportunidades uma âncora conceitual e prática. A velha estratificação britânica de classes seria injusta, uma vez que a posição social de cada geração estaria determinada no ordenamento das gerações anteriores.  A loteria da vida ou das circunstâncias deveria ser substituída pela estratificação, produto do mérito de cada indivíduo, mérito que seria o resultado da fórmula QI + Esforço. A distribuição de renda (ou seja, de resultados) que essa perspectiva geraria seria “justa” (na concepção de Rawls), uma vez que proporcionaria um leque de incentivos que propiciaria o crescimento e acabaria beneficiando os situados nos menores decis.  


O próprio Young questionou a universo conceitual que tinha gerado em um romance de 1958 (The Rise of Meritocracy), onde colocava a possibilidade de uma sociedade meritocrática gerar um sistema aristocrático muito próximo ao vigente na sociedade britânica do Século XIX. Não unicamente muito próximo em termos de rigidez, senão talvez mais preservo, uma vez que seus integrantes teriam a arrogância de imaginar que sua posição de “vencedores” é justificável, dado que é resultado de seus méritos individuais e não de suas origens sociais.  O sistema educativo “carimbaria” esse mérito por meio de diplomas.  O nível de educação e o prestígio da instituição que emite o “carimbo” seriam o passaporte para situar cada indivíduo na sua posição dentro da hierarquia social. Sucede que o acesso a uma instituição depende da posição social da família, de suas conexões, do prestígio e qualidade da educação prévia, etc. Dessa forma, a hierarquia social, por meandros diferentes aos das aristocracias do Século XIX, conservaria um imobilismo. No caso dos EUA, os formados em alguma universidade da Ivy League ou nos centros de excelência na Costa Oeste ocupariam aqueles postos de trabalho com maiores salários e com acentuado prestígio social, empregos que requerem habilidades técnicas, cognitivas e sócio-emocionais adquiridos no ambiente familiar, social e no sistema educacional de elite.  

 

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