RECONHECIMENTO

Projetos e práticas pedagógicas com atuação humanitária são reconhecidas pelas premiações Anísio Teixeira e Mireya Suárez

Representantes de iniciativas de Ensino, Pesquisa e Extensão recebem diploma do Prêmio de Direitos da UnB. Foto: Anástacia Vaz/Secom UnB
Representantes de iniciativas de ensino, pesquisa e extensão recebem diploma do Prêmio de Direitos Humanos da UnB. Foto: Anástacia Vaz/Secom UnB

 

Um relato sobre transformação social. “Salve a quebrada é como nos cumprimentamos na comunidade. Mas quem salva a quebrada?”, indagou Ravena do Carmo Silva, representante do projeto Da Poesia nas Quebradas ao Neolim: periferia, potência e criação, contemplado com Menção Honrosa no III Prêmio Anual de Educação em Direitos Humanos Mireya Suárez da Universidade de Brasília. 

 

Com o relato do projeto, Ravena mostrou como a “ciência pode salvar a quebrada”. “Na perspectiva do fazer científico, temos resgatado crianças do trabalho infantil, atuado com mulheres vítimas de violência doméstica, com a juventude preta e periférica, com pessoas com deficiência. Trabalhamos com a cultura hip-hop, a literatura marginal e o ensino de ciências provando que os três dialogam muito. Assim seguimos pensando nossa comunidade e o futuro que queremos”, completou Ravena Silva. 

 

Cinco iniciativas foram agraciadas com o Prêmio Mireya Suárez e três com o III Prêmio Anual de Direitos Humanos Anísio Teixeira, e as duas premiações reconheceram um projeto com menção honrosa. A cerimônia de entrega da honraria aconteceu em 18 de novembro e teve transmissão pela UnBTV.  

 

PREMIADOS – A Comissão Anísio Teixeira de Memória e Verdade (CATMV/UnB) é um dos projetos contemplados pelo prêmio Anísio Teixeira, na categoria Democracia e Participação. Criada em agosto de 2012, a comissão investigou, por dois anos e meio, violações de direitos humanos e liberdades individuais ocorridas com intervenção de tropas na Universidade de Brasília durante a ditadura militar.  

 

Entre os casos analisados pela comissão, estão o de Anísio Teixeira, reitor da UnB afastado do cargo pelos militares e morto em 1971 em circunstâncias cuja elucidação policial tem sido questionada, e os desaparecimentos de Honestino Monteiro Guimarães, Paulo de Tarso Celestino da Silva e Ieda Santos Delgado. 

A Comissão é um projeto multidisciplinar com diferentes unidades acadêmicas envolvidas. Foi representada pelo professor. Foto: Anastácia Vaz/Secom UnB
A Comissão Anísio Teixeira de Memória e Verdade é um projeto multidisciplinar realizado por diferentes unidades acadêmicas. Foi representada pelo professor José Otavio Nogueira. Foto: Anastácia Vaz/Secom UnB

 

“Essa foi a primeira comissão da verdade universitária criada no país. Daí, várias outras foram criadas e constituímos uma rede de comissões universitárias que teve um papel importante no relatório”, destacou José Otavio Nogueira, professor do Departamento de História (HIS/ICH), sobre o projeto multidisciplinar realizado por várias unidades acadêmicas. 

 

“Uma coisa importante sobre esse relatório é que continua vivo. Recebemos ligações de colegas de outras universidades fazendo pesquisas a partir do relatório. São inúmeros os trabalhos de iniciação científica no Brasil. O documento também foi acolhido pelo Ministério Público Federal (MPF) e fizemos convênio com a Comissão Nacional da Verdade e com a Comissão de Anistia.” 

 

>> Confira o Relatório final da Comissão Anísio Teixeira de Memória e Verdade 

 

Nogueira mencionou que algo simbólico nas recomendações da comissão era a mudança do nome da ponte Costa e Silva para ponte Honestino Guimarães [uma das três pontes do Lago Paranoá, em Brasília].  

 

“A comissão se envolveu muito nisso. Com muito esforço e participação em audiências públicas, hoje temos inscrito no território de Brasília esse memorial de um desaparecido político que continua presente. É algo simbólico do papel da comissão: fazer a ponte desse conhecimento memorial entre gerações”, ressaltou o docente sobre o trabalho que envolveu participação de ex-alunos e docentes vítimas do regime militar. 

 

Confira abaixo as iniciativas reconhecidas com prêmio Anísio Teixeira:

III Prêmio Anual de Direitos Humanos Anísio Teixeira

Categoria I: Igualdade, diversidade e não discriminação

Proposta: Psicoterapia racializada é política de permanência: o grupo Revira na promoção da saúde mental e educação para os direitos humanos de estudantes cotistas negros

Proponente: Grupo Revira - Instituto de Psicologia (IP) e Centro de Atendimentos e Estudos Psicológicos (Caep/IP)

Categoria II: Saúde, meio ambiente e bem-estar

Proposta: Santa Luzia Resiste: a campanha continua na luta pelos direitos à cidade, à água e ao saneamento

Proponente: Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) e Periférico Laboratório de Assessoria Sociotécnica

Categoria III: Democracia e participação

Proposta: Comissão Anísio Teixeira de Memória e Verdade (CATMV) da Universidade de Brasília

Proponente: Departamento de História (HIS), Instituto de Ciências Humanas (ICH).

Menção honrosa

Proposta: PEAC Direitos Humanos e Gênero: capacitação em noções de direito e cidadania

Proponente: Promotoras Legais Populares (PLP) - Faculdade de Direito (FD)

 

Já pelo prêmio Mireya Suárez, uma das iniciativa reconhecidas é a Pós-populares: democratização do acesso à universidade pública pelo chão da pesquisa, da Faculdade de Educação (FE), contemplada na categoria Educação Superior. 

 

“O pós-populares nasce na região do entorno Sul do Distrito Federal, no Pedregal, onde vivi boa parte da minha vida. Lá integramos a ONG Serviço de Paz, Justiça e Não-violência (Serpaj), onde começamos a conversar com a comunidade sobre acesso à educação superior. É um trabalho de extensão, com foco na pesquisa do acesso à pós-graduação”, explica o docente da FE Erlando da Silva Rêses, que em sua época de graduando foi aluno de Mireya Suárez.  

 

Erlando explica a metodologia do projeto. “Reunimos pessoas interessadas em ingressar na universidade e conversamos sobre acesso à educação superior. Então, elas têm apoio do grupo e trazem para a roda de conversa sua intenção ou proposta de pesquisa. O grupo debate essa proposta até chegar à formulação final de um projeto de pesquisa”, detalha o docente sobre a iniciativa que se expandiu para Ceilândia e Paranoá, alcançando cidades periféricas nas regiões Leste, Oeste e Sul do Distrito Federal.  

Foto: Anastácia Vaz/Secom UnB
Lara Andréia Sant'Ana, Maria Carrera, Lenilda Perpétuo e Erlando Rêses representaram a iniciativa Pós-populares: democratização do acesso à universidade pública pelo chão da pesquisa. Foto: Anastácia Vaz/Secom UnB

 

Moradora de Valparaíso, entorno Sul de Brasília, Maria Carrera contou sobre “a alegria de estar nesse local com o qual sonhei aos meus 15 anos, quando vim em uma formatura. Mas só pude mesmo entrar aos 45 anos, graças ao incentivo recebido no pós-populares”, disse emocionada. No mesmo dia da premiação, Maria concluiu o mestrado pelo Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE/FE/UnB). 

 

A emoção foi compartilhada pela professora no campus de Arraias da Universidade Federal do Tocantins (UFT), Lenilda Perpétuo. “Alegria muito grande em ocupar esse espaço que há dez anos não estava em meus horizontes porque sou a primeira mulher formada na minha família. Por meio do pós-populares adentro a UnB no mestrado com pesquisa sobre populações ciganas, sigo para o doutorado, e agora sou professora na UFT”. 

 

Confira abaixo as iniciativas reconhecidas com prêmio Mireya Suárez:

III Prêmio Anual de Educação em Direitos Humanos Mireya Suárez

Categoria I: Educação básica

Proposta: Curso Monumento Natural dos Pontões Capixabas: educação ambiental e patrimonial no contexto de povos e comunidades tradicionais

Proponente: Mestrado em Sustentabilidade junto a Povos e Territórios Tradicionais (MESPT)/ Associação Pomerana de Pancas (APOP) – Centro de Desenvolvimento Sustentável (CDS)

Categoria II: Educação superior 

Proposta: Pós-populares: democratização do acesso à universidade pública pelo chão da pesquisa  

Proponente: Departamento de Teoria e Fundamentos (TEF) - Faculdade de Educação (FE) 

Categoria III: Educação em contextos não escolares 

Proposta: Rede de Casas Universitárias de Cultura (Rede CUC) na Defesa dos Direitos Humanos  

Proponente: RedeCUC - Diretoria de Difusão Cultural do Decanato de Extensão da UnB (DDC/DEX) 

Categoria IV: Educação para profissionais dos sistemas de justiça e/ou segurança 

Proposta: Ação Formativa: Diretrizes Nacionais para ações de cidadania das Escolas Judiciárias Eleitorais  

Proponente: Laboratório de Pesquisas sobre Ação Pública para o Desenvolvimento Democrático (LAP2D) - Face

Categoria V: Educação e mídia  

Proposta: Memória e Ditadura Militar nas escolas públicas do Distrito Federal  

Proponente: Departamento de História (HIS) e Instituto de Ciências Humanas (ICH)

MENÇÃO HONROSA  

Proposta: Do Poesia nas Quebradas ao Neolim: periferia, potência e criação  

Proponente: Poesia nas Quebradas e Neolim - Faculdade UnB Planaltina (FUP)

 

RECONHECIMENTO – Os prêmios anuais de Direitos Humanos Anísio Teixeira e de Educação em Direitos Humanos Mireya Suárez foram criados pela Câmara de Direitos Humanos, no âmbito da Política de Direitos Humanos da UnB e estão em sua terceira edição. 

 

Visam reconhecer e valorizar programas, projetos ou ações de ensino, pesquisa e extensão em Direitos Humanos e/ou práticas pedagógicas de Direitos Humanos desenvolvidas sob coordenação de membros da comunidade da UnB em cooperação ou não com outras instituições. 

 

Assista ao relato dos representantes dos projetos agraciados com o prêmio, em registro da UnBTV: 

 

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