OPINIÃO

Ingrid Dittrich Wiggers é professora da UnB, atua na Faculdade de Educação Física, bem como na Faculdade de Educação. É coordenadora do Imagem - Grupo de Pesquisa sobre Corpo e Educação. Doutora em Educação pela UFSC.

 

 

Ingrid Dittrich Wiggers

 

O Dia Internacional do Livro Infantil, 2 de abril, foi instituído em 1967, pela International Board on Books for Young People (IBBY). A data foi escolhida em homenagem ao dinamarquês Hans Christian Andersen, pois, além de produzir fábulas de qualidade literária, teve seu talento reconhecido ao redor do mundo. Ao longo dos últimos dois séculos, suas obras foram traduzidas para mais de uma centena de idiomas, com ampla penetração no universo infanto-juvenil.

 

Em 2025, o nascimento de Andersen completa 220 anos. É muito interessante perceber que o filho de uma lavadeira analfabeta, que se tornou órfão de pai ainda na adolescência, nascido na pequena Odense, tenha atingido essa extraordinária fama. Quem já não ouviu a história do “Patinho feio”, da “Roupa nova do imperador” ou do “Soldadinho de chumbo”? Muitos devem ter assistido aos filmes de animação “Frozen” e “Pequena Sereia” – seu concorrido live-action – adaptados de contos de Andersen pelos estúdios de Walt Disney. Aqueles da Escola de Frankfurt não estão mais entre nós para presenciar seus maiores temores mais uma vez se tornando realidade. Mas, a despeito do triunfo literário das fábulas de virtude e de resiliência do autor dinamarquês, é provável que se perguntarmos a uma criança, ou mesmo a um adulto, quem criou a história da “Pequena Sereia”, a resposta imediata seja “Disney”. O fato é que desde muito antes da expansão da indústria audiovisual e da criação das redes midiáticas, Andersen já era um extraordinário sucesso literário global.

 

Um capítulo da apropriação de Andersen no século XX, ainda inédito na história, é o Concurso Internacional de Desenhos Infantis promovido pela Red Barnet, com sede na Dinamarca, sob os auspícios da International Union for Child Welfare, entre 1951 e 1955, em comemoração aos 150 anos de nascimento de Andersen. Cada um dos 50 países convidados enviou um conjunto de 100 desenhos, feitos por crianças de 7 a 14 anos de idade e inspirados em 10 contos de Andersen. Escolas e professores em torno do planeta se mobilizaram para promover o tema no imaginário infantil, estimulando a criatividade e a expressividade de seus alunos.

 

Uma parcela dessas “obras de arte” estão preservadas ainda hoje no Istituto Nazionale di Documentazione per l’Innovazione e la Ricerca Educativa (INDIRE), em Florença. Em visita ao arquivo daquela instituição, com apoio do Programa CAPES PrINT, encontramos preservados mais de mil trabalhos de crianças de diversos países, entre eles quatro de origem brasileira, todos elaborados por crianças de Curitiba, capital do Paraná.

 

Naquela ocasião, como uma das iniciativas que integraram o movimento de renovação pedagógica no Paraná, coordenado por Erasmo Pilotto, no governo de Moysés Lupion, a Professora Emma Koch implantou Escolinhas de Arte e promoveu diversas exposições infantis. Foi ela a coordenadora local do concurso de Andersen. Cabe destacar que dos 100 desenhos para a Dinamarca, 27 saíram de Curitiba, todos alunos da professora.

 

As crianças participantes, especialmente as da Europa, eram sobreviventes e consideradas uma geração estratégica para o período pós-Segunda Guerra Mundial. Sobretudo, os caprichados desenhos elaborados por meio de diversas técnicas artísticas simbolizam a participação infantil no árduo processo de reconstrução. Mais do que desenhos, os trabalhos se tornaram portadores de uma política de reconciliação e paz mundial. Como parte desse esforço, ao final da campanha, depois de receber os desenhos, a Dinamarca devolveu aos países participantes uma miscelânea internacional para compor exposições mundo afora.

 

Como curiosidade, podemos visitar em Brasília, uma réplica da escultura da “Pequena Sereia”, uma famosa atração de Copenhague. Essa obra foi um presente da Dinamarca para o Brasil, por ocasião da inauguração da nova Capital, e foi instalada em frente ao prédio do Comando da Marinha, na Esplanada dos Ministérios.

 

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